Deste-me um nome
talvez túlipa ou borboleta
para florescer ou esvoaçar
aqui ou noutro lugar.
E sempre na largueza da vida
e no que ela contém
deste-me um nome e eu sou alguém.
Digressão Poética
Deste-me um nome
talvez túlipa ou borboleta
para florescer ou esvoaçar
aqui ou noutro lugar.
E sempre na largueza da vida
e no que ela contém
deste-me um nome e eu sou alguém.
Sento-me a escrevinhar,
sabendo que o sol poente
por um momento não quer abalar
e, então, cheio dessa Luz,
na folha de papel,
a minha Palavra me conduz.
O canto de dor do mundo chega aqui
e está tão próximo de Mim
que até parece estar à minha beira
e talvez seja pecado
tudo estar tão ao meu lado
e eu estar amordaçado.
Mais pura e limpa a madrugada,
se puder ser encontrada
naquelas palavras que sussurramos com a voz,
quando a Paz está dentro de nós,
e, então, a luz que brilha em luz de um fragmento da lua
de sombras se despe, nua fica
e a noite santifica.
Nas terras altas, o louco tem abrigo,
pois o Céu
está consigo.
Vem o anjo da paz a esta Hora,
quando no meu coração
a aflição
e a tormenta
me deixa de si sedenta.
E, então, por um instante que é eternal,
não há no mundo nem dor nem mal.
Bem-vindo, verso, num dia de sol,
tens mais luz,
e vestes-te de cores,
como se neste mundo fosse perfeita
mesmo a palavra mais estreita.
Regresso à Fonte da vida,
que, como um fio de água a escorrer,
liberta todo o meu Ser.
E é plácida a Hora calma
desta tertúlia que vem da alma
para me encantar aqui neste lugar.
A alma, porque a perdi,
não mais a achei,
nem mesmo quando se iluminam as ruas ao anoitecer
e os caminhos ficam mais claros
para se encontrar
o conjuntivo do verbo amar.
Pus-me diante dum espelho
e por um instante era eu e outro de Mim
com as mesmas e únicas raízes fundas mergulhadas na terra
então abracei-te-Me
e pude colher o fruto maduro
de um abril futuro.
Ao meio-dia ainda não era tarde demais
para o canto da cotovia
e eu todo o dia esperei
mas do Universo era a lei
que dizia
espera por outro dia pelo canto da cotovia.
Ó cheia de graça, mulher divina,
que carregaste uma cruz,
aparece agora plena de Luz
em Todo o campo de batalha
onde o sentir a vida se enxovalha.
É abril e, neste ocidente,
vigio da amurada
as nuvens que são como castelos de ameias altas
que eu quero que se dissipem
rapidamente
para que o Céu resplandeça
e a hora não esqueça.
Não conhecia o Mar, antes da onda
que trouxe à areia
a espuma branca e pura
vinda da suma lonjura.
De nenhum pássaro conheço a história,
mas acredito que há um grito
tão humano como o meu,
se sem sonho e aflito
o pássaro se perde no céu.
Assombro de Te encontrar
em todos os lugares
longínquos
montanha floresta deserto
e no interior do Mar
tão perto
É um verso por certo que ilumina a escuridão
e faltam versos
no Mundo
tanto que me confundo
Pinto o barco de vermelho
e deixo que o milagre deste dia
seja a onda que me leva e leva e leva
até à Tua dor
que se transfigurou em Amor.
Uma brecha no céu, entre as nuvens,
é suficiente
para que o dia amanheça brilhante
na largueza de um instante.
Deleto letra a letra a palavra escrita
e nada sobra
assim como na vida
- semântica vazia do verso começado
e logo estilhaçado.
Chove
e no silêncio de Mim
nada se move
jaz a turva inquietação
como um rio que de repente
se afundasse num oceano ardente