Tanto Caminho ainda para andar
que me esquece
o tanto de imaginar
e matutar naquela tristeza
que está na minha Natureza.
Digressão Poética
Tanto Caminho ainda para andar
que me esquece
o tanto de imaginar
e matutar naquela tristeza
que está na minha Natureza.
Não sei dizer «não» a Bóreas,
quando invernal
invade o meu espírito
e todo o pensamento tem arestas
como o vento
e gela a minha mão sempre fria
tão Longe da Poesia.
Se eu te vir dançar,
na onda
de um Mar,
saberei que és Luz -
sem nada te prender
às paredes do meu Ser.
Brilham, muito ao longe, as vidraças dos prédios
tão distantes - são sóis e diamantes
se penso
nesta Criança que brinca ao pé de Mim
e que passa
como tudo deve passar
como um rio até ao mar.
Ó noite, Imperatriz das vigílias
que os insones
carregam nos braços brancos e gelados,
vem e mostra-me
que ainda
a Dor não finda.
Talvez viesses numa outra hora,
num instante
que passasse de fugida,
mas virias e não vieste
e agora o meu Sonho é celeste
por que não vieste.
Revisitei as coisas da Alma
e trouxe uma mão cheia de areia -
praia-mar
aonde um dia fui buscar
aquele búzio de cós
que nos lembra que não estamos sós.
Se eu pudesse me lembrar
de todas as coisas
que já pensei,
não sei se seria alegre
ou se seria triste,
- o pensamento existe
o esquecimento também -
não sou alegre nem triste
sou para Além.
Tudo será serenidade
quando,
quando a flor no vaso renascer
numa primavera futura
quando no Longe do caminho
a flor for sem espinho.
Então, a utopia em que o mundo vi caminhar
é o caminho onde eu quero estar.
O café derramado sobre a página branca
do caderno
é a mancha escura que a noite lança
sobre a colina -
e, nesta arte real, também a escrita anoitece
e é nobre a mancha que se vê
e que também se lê.
Há um lugar nos outros onde perfeitamente
não há mácula nem impureza
tudo segue a lei da beleza
e é justo e singelo esse lugar
que se firma quando nos distanciamos
e de mais Longe observamos.
A Estrela guia no Céu
quem percorre os Caminhos da terra
como peregrino
ao encontro de um deus-Menino.
Agora que choveu, há um sortilégio
na cidade
e, na tarde, o cinzento do céu
define o contorno
das coisas: o prédio alto a flor sedenta
no parapeito da janela
e tudo embrulhado em cinza escura
é com um mal que sempre dura.
No tropel das palavras, há uma mais límpida
e pura - é a Esperança
que quer voltar à clareira dos mistérios
onde havia pinheiros velhos
e onde por entre a neblina
brincava uma Menina.
Aqui, onde o Silêncio corre devagar,
é que o Pensamento se abriga
da chuva quando chove
do frio quando faz frio
e por isso se sente a Alma contente,
alegre, porque sim,
eternamente em Mim.
Três estrelas vermelhas brilhando no Céu sereno
e uma lua lilás -
tudo no meu olhar tem uma nova cor
como a terra dourada
onde está
plantada a Flor mais amada.
Por esses campos, vamos lá, Irmão,
vamos lá colher a ventura
que é a Fortuna do haver
dentro de nós
um Sol sempre a nascer -
e, por isso, nunca tarda
na jornada
a primeira luz da alvorada.
Um ano chega ao fim
e parece que sem pressa de acabar
pensa e repensa até cansar
na miséria na guerra na fome
e na inveja
que o mundo enlouquece
mas que uma Criança nunca esquece.
Ao acender das luzes, eu espero
que a Noite vacile
e que clareei num céu de estrelas
a Palavra mais bela
«Liberdade» numa tela de pintor
num Azul de cor.
O sorriso, ah, o sorriso
que eu trouxe do tempo do passado
quando brincava e inteiramente eu era
um sol de primavera.
Não negues a raiva e o desespero
nem a Esperança,
tudo por dentro balança
e, se bem lembrares,
há um tempo de acordares.