As horas se consomem no tanger do sino
e eu vejo-me pequenino
de mão dada com o meu brinquedo
uma boneca de pano
e não havia ilusão
nesse tempo de quietação.
As horas se consomem no tanger do sino
e eu vejo-me pequenino
de mão dada com o meu brinquedo
uma boneca de pano
e não havia ilusão
nesse tempo de quietação.
Labirinto de Creta nestas ruas desertas
onde a aventura é mais pura
lá eu caminho
e é de Confiança
e sinal de esperança
cada saída que se alcança.
À noite, no firmamento, eu vejo sempre uma estrela
que é bela,
não lhe sei o nome,
por isso digo «ó Luz»,
vem aclarar a minha cruz.
A neblina cobre a serra ao longe,
mas mais Longe ainda
vive esta Dor que não finda,
névoa pura,
que sempre dura.
O prelúdio do dia é na madrugada que se colhe,
nessa hora escura e fria,
que também é sombria, quando para ela se olhe,
também na vida é assim -
um céu muito Azul
e muito claro
nasce da noite no breu
em que um homem primeiro se perdeu.
O tempo se desfez como bola de sabão
solta na aragem da tarde
e o sonho também
acreditei na forma justa no mundo
acreditei
e, afinal, me enganei
tudo era ilusão
de um jovem Coração.
Apressam-se os homens antes que seja tarde demais
para o dia nascer de novo e novamente
elevados à altura dos deuses pedreiros
construírem na cidade
um lanço de eternidade.
Na talagarça pesponto um ponto
e desenho
numa aventura de artista
a árvore tombada pela ventania
que lembra uma cruz fria.
Mas se olho de cima para baixo
do céu para a terra
a árvore se eleva.
O santuário do Coração está cheio daquela vida
que incensa e sagra
cada instante
que nos leva para diante.
Um sorriso azul aconchega-me na tarde
como se o Sonho florisse
no teu rosto
e do cais de onde partem barcos de papel
um lampejo claro de luz
reverberasse
e luzindo chegasse.
Assombro de não ser uma estátua
nua de pedra fria
que apenas visse passar o coletivo da multidão
indiferente
à dor do presente.
Florescem os jacarandás
e um manto lilás cobre o chão da avenida
de novo
é o maio maduro da cidade
que se demora
eternamente agora
À vista a Montanha,
íngreme subida,
e que importa chegar ao cume
se a branca magia
se o sortilégio do Coração
é não subir um degrau em vão.
No jardim aberto colho a Rosa verdadeira
e ela me acompanha
até à hora final
e, sem porquê saber,
novíssimo dia está a amanhecer.
Atravessado pela luz, o pássaro vermelho voou
solto do ramo verde e doirado
que dá o abrigo
e na busca do verso que eu persigo
vejo na Natureza
um exemplo de grandeza.
Naquela rua aonde nunca passei,
espera-me, transparente e nua,
essa graça que é a tua.
Multiplico cada hora da vida por uma fração de tempo
e o resultado me cruxifica
nisto que é a suma verdade
o amanhã é demasiado tarde.
Um gesto demorado, muito lento,
como se com as mãos e o corpo cortasse o ar
e o tempo
cuja ausência me grita
é dor
a tristeza dum penhor.
Há um tempo em que está frio
e há um tempo em que estou triste
tudo na vida existe
tal como um rio corre naturalmente para o mar
sem precisar de o procurar