O lado quotidiano da vida
descansa agora perto de Mim
agora que a tarde chega ao fim
e é a hora de olhar as nuvens no céu
como quem, Musa, confia
na descoberta
de cada dia.
O lado quotidiano da vida
descansa agora perto de Mim
agora que a tarde chega ao fim
e é a hora de olhar as nuvens no céu
como quem, Musa, confia
na descoberta
de cada dia.
Um anjo do destino tudo compreende
e até parece que sente
a dor viva que a gente tem escondida
- por isso não admira
que a flecha que fira
também cure e traga um Norte
e nos liberte da Morte.
O vento sopra como brisa que afaga
uma flor
e segue o seu caminho
de Mocidade
nesse gesto de Amor
salvo da humana Dor.
À distância de um Abraço,
caminho
na multidão
sem saber quem eles são.
Quieto o gesto
na serenidade da tarde
tão diversa no assento deste mundo
mas é assim -
outros há e há tardes distintas
no ser e no ter
não o podemos perceber.
Quis a ousadia que mais que tudo importa
que fosse coisa morta
o medo de partir e ir
neste Reino que está para vir.
No silêncio da tarde, medito,
escrevinhando num papel, palavras doutas de sentido
que são a minha segunda pele -
mas, por uma divergência de propósito,
que não sei explicar,
penso e repenso e as palavras baralho
e vejo que nada valho.
Não importa o Nome -
com qualquer nome te chamo
orquídea rosa jasmim
há uma Flor dentro de Mim
da infância até ao fim.
De ramo em ramo, a árvore
cresce até às alturas dos céus
e eu não sei mais o que sonhar
se olho e vejo
na árvore o meu ensejo.
Onde fica essa fonte
que tanto dá de beber
o lugar não quero esquecer
nem o caminho que leva longe
nem o cansaço da viagem
que são no homem sinal de Coragem.
Perguntas-me pelo colorido da Alma
e eu te direi
que é daquela cor que eu achei
quando, por entre a multidão apinhada,
vi, distintamente vendo,
um novo tempo nascendo.
No outono, as primeiras chuvas
cavam sulcos
na Colina em frente ao meu mirante
e é Belo, porque é singelo -
e o som da água correndo faz adormecer
este mundo de angústia dentro do meu Ser.
A gaivota cruza este céu
pensando talvez que o céu é Mar
pois nas alturas de deus
é permitido Sonhar -
e se sonho parece que acontece
que a dor da solidão esquece.
Os meus gestos de mármore
eternamente
despidos
procuram os sentidos
que estão adormecidos
na pedra
para então poisar cada gesto lento
na vida em movimento.
Olho à minha volta e escrevo
quando a Paz desce da colina e pernoita
na planície da cidade
para lembrar ao homem
que a sua medida
é cada momento da vida.
Um enredo havia no entretecido das lãs
linhas frias
retas geométricas
como todas as coisas vãs.
Mas, ao centro, no coração do quadro,
a linha se enrolou
e um laço
de um Abraço me conquistou.
Quando o pensamento se cansar de girar,
deixa-o morrer como o vento
que não tem pátria nem lar -
mas, se se dorme de tanto espanto,
há de acordar com o encanto.
Não colhas a Flor.
Deixa-a permanecer no seu viver e morrer -
e, então, nesse estar a teu lado
vives um momento sagrado.
Com a manhã, o silêncio do mundo
torna-se gorjeio
e o meu pensamento alheio ao troar
revolve numa doce quietação
a ideia da Paz a haver
que toda a Criança quer ter.
Mil anos ou mil dias, neste momento,
são passado -
pouco importa -
tudo é coisa morta,
como no firmamento uma estrela que brilhou
e depois se apagou.
Copio e apago apago e copio
e, neste afã, de labuta corajosa,
deixo que a velha prosa pareça agora nova
vestida de um sofrimento que é só meu,
ó agrilhoado Prometeu.
É de Paz este instante arredio
em que olho
para o Céu e vejo
que o meu único desejo
é olhar o Céu e ver
este entardecer.
Choveu
e como rio caudaloso,
de margem a margem a rua,
lembrei que ao atravessar porém
só passo uma vez
na natureza do que sou
pois a chuva de hoje não voltou.
Levanto as persinas da janela do quarto,
procurando o Sol,
a nascente,
e é quase uma Arte de viver
e um contentamento
que visita o meu pensamento.
Podes estranhar
que neste lugar onde o sono é tudo
eu Te peça um Sonho mudo,
apenas desenhado,
para de lembrança eu guardar
o Silêncio onde eu quero estar.
O mundo intacto surpreende
e fascina
amazing world
pudesse eu colher em cada dia
uma Rosa sadia
a anunciar uma Paz,
mas sou este que aqui jaz.
Trinco uma saborosa maçã
com a lucidez
de quem encontra na desgraça um alento
e vive dessedentado
sem angústia nem pecado.
Aqui é Além
para quem está Longe
e demora em chegar
mesmo que o passo apresse
o Aqui desaparece
se Além é o fito
e o Longe infinito.
O Silêncio eu sei de cor,
ó noite,
transbordante daquela graça
de seres um instante que passa.
Talvez os deuses procurem
na lembrança
dos dias
aquele que tenha sido perfeito
na suma perfeição
de ser
um dia completo
- e talvez reparem no pormenor
de nele acontecer
o nascer e o morrer.
O vento, ávido de sonhar, leva-me
para esse lugar
onde só há palmeiras e mar
e, nas noites de agitação abençoada,
quando os navios
chegam ao abrigo do porto,
também eu sonho nesse relento,
ávida como o vento.