Um ano chega ao fim
e parece que sem pressa de acabar
pensa e repensa até cansar
na miséria na guerra na fome
e na inveja
que o mundo enlouquece
mas que uma Criança nunca esquece.
Um ano chega ao fim
e parece que sem pressa de acabar
pensa e repensa até cansar
na miséria na guerra na fome
e na inveja
que o mundo enlouquece
mas que uma Criança nunca esquece.
Ao acender das luzes, eu espero
que a Noite vacile
e que clareei num céu de estrelas
a Palavra mais bela
«Liberdade» numa tela de pintor
num Azul de cor.
O sorriso, ah, o sorriso
que eu trouxe do tempo do passado
quando brincava e inteiramente eu era
um sol de primavera.
Não negues a raiva e o desespero
nem a Esperança,
tudo por dentro balança
e, se bem lembrares,
há um tempo de acordares.
Chegando ao fim a eternidade do tempo,
tomo a minha chávena de café
nas minhas mãos,
confiante
de que tudo isto é um Sonho errante.
Às vezes, tenho à cabeceira
um livro
e, sofregamente, leio e torno a ler
como quem há de beber.
No presépio, nem faltavas Tu,
Menino Jesus,
havia a mãe e o pai e o gado da manjedoura
e os pastores e os reis
e tudo era eterno exatamente assim
no Sonho que guardo dentro de Mim.
Sempre foi assim,
uma tristeza dentro de Mim
por saber
que logo ao anoitecer
a estrela que brilhar no Céu
é outra é diferente
daquela que a Ti levou tanta gente.
Roubei de uma nuvem que pairava no céu
a brancura irradiante
era esse o meu Sonho distante
tão semelhante ao desejo de eu estar
para sempre num outro lugar.
Por que acontece,
que às vezes se esquece
a ideia antes já pensada e certa
e num remanso de sombras e muitas cores
reencontro os meus amores.
Há um sol
e dentro do meu Ser
esse sol é maior do que o anoitecer -
luz e brilha
todo o sempre
e vence a escuridão hedionda
do ódio da raiva do medo
como se fosse eternamente ledo.
Sempre sempre em frente
sem olhar para trás
com saudade
de uma outra idade.
Ó clemens, vê como são incertos
estes Caminhos
e como é mutável a paisagem
mas a Alma não,
que é o espírito da razão,
que vive eternamente no Teu Coração.
Nem o cansaço de tanto tédio
nem a ausência
de sentido
podem destruir a imensidade
de apenas um só momento
vivido a favor do Tempo.
De tanto me espanto,
que seja o Poema um sol na vidraça
- vitral de luz -
e cada verso seu um triunfo de cor,
e assim é meu Amor.
A ave pequenina no paraíso voando
até quando
até quando
sem saber que pode anoitecer
e o dia acabar
também nesse lugar.
Trouxe da madrugada o Sonho
que não quero esquecer
tão frágil tão belo
tão na eterna parte de Mim
que te confio,
Senhor,
esta coisa de poeira
que é um Sonho à cabeceira.
Indiferente à mágoa, o pássaro azul
que habita no meu Coração
Alegre esvoaça
como passando, e passa,
no jardim
e, ai, que Dor em Mim.
Para onde quero eu ir
não há a necessidade de partir
nem de embarcar -
é um Além distante que existe
dentro de nós
e onde eu só oiço a minha Voz.
Darkness e light no lugar onde habitamos
e nos caminhos percorridos
andamos à procura de um sentido
para ter anoitecido.
No final do outono, as árvores
estão despidas
e os ramos parecem raízes entrelaçadas
vibrando ao vento
como se tudo fosse apenas um Céu de descoberta
e a terra ficasse deserta.
Para além do que é visível,
há a memória
do que ele viveu
num Sonho que não é meu -
é uma terra semeada com o suor de quem
vai e vem
longe de Mim
e a vida é assim.
Nesta curva do Caminho,
não se vê a sina
nem o oráculo nos diz
qual é o destino da raiz.
O frio voltou tal como o sol
há de chegar
numa primavera radiosa
e simples, e a cada novo pensamento fugaz
há um momento a que não se volta atrás.
Caiu a folha de papel no chão
e perdeu-se a epopeia
levada pelo vento -
também assim é para Mim
perdeu-se o dia
logo quando amanhecia.
As flores que regarei num tempo
que há de vir e ser
florescerão na madrugada
quando a hora mais esperada
singela
me der o sinal
de que no mundo não existe o mal.
Pilares, que são colunas
que sustentam
as preces no meu Coração,
não tombeis,
sede como as leis do Universo,
firmes e justas,
na hora de todas as lutas.
Respiro fundo,
pisando as folhas caídas -
amarelas vermelhas outonais
que lembram do homem o último cais.
Não desisto de procurar a frágil Luz
que há no Sonho,
quando a Noite demora e a Hora de amanhecer espera,
e o Sonho é igual
a uma Voz
repartida, pedaço a pedaço, dentro de nós.
Do silêncio te direi
que é a espiga colhida
na ceifa
sem cântico nem Palavra
nesse chão que um homem lavra.
Chegou dezembro
e este amanhecer do dia devagar
lembra que muito falta
para o fim
tanto que me esqueço de Mim.