Chega o final do dia na tarde
e eu busco
numa reflexão
a existência perfeita
súmula deste viver
para enfim adormecer.
Chega o final do dia na tarde
e eu busco
numa reflexão
a existência perfeita
súmula deste viver
para enfim adormecer.
A orquídea floriu
- eis o compasso -
e num Sorriso se abriu
como num laço.
A voz demora
e na ausência do tempo passa a tarde
como numa eternidade -
por isso gravo na pedra nua
com estilete de diamante:
é este o meu instante.
Não regressei a Casa de mãos vazias
- comigo e com os outros
em Mim,
vi no espelho da vida
a face que contém
o rosto que deus tem.
O luminar do Dia é essa flor vermelha
que na vastidão
lembra o teu Coração,
Companheiro,
na luta pela justiça,
a Liberdade é a liça.
E a onda vai vai por esse mar fora,
antes dos deuses
nos concederem a vida
e a esperança,
na onda vai a Confiança.
Devaneio de ser Tu -
um milagre
que luz
neste chão de terra da vida
que sempre contém
o sofrimento de alguém.
No jardim, as flores que encanto
lembram
uma multidão quieta
que na hora de despertar
da prisão
se despe da ilusão.
Colhe do teu corpo inteiro
a Verdade -
pois nada mais é preciso
nem riquezas nem ostentação
nem ilusão
nem uma breve canção.
A folha solta de papel guarda nela
a Palavra mais bela -
Aleluia,
fez-se Luz
no Mundo com uma Cruz.
Como um rio correndo,
eu desço à foz
e chego a um mar sem idade -
e tremo na descoberta
de que a Verdade é certa.
De que cor é o Céu?,
deste Mundo,
perguntei um dia ao mestre
e ele respondeu que a cor celeste
se veste
da sombra
e da escuridão
que existe pelo chão.
Escuta:
é uma hora sem história
é um instante que faz
este verso de Paz.
É Noite.
E na Noite se abrem em sorriso as estrelas.
E é quanto basta
saber
também um dia elas vão morrer.
Na hora da vigília, o meu Coração
fica mais perto
desse outro Coração
que, bravo herói do entardecer,
tatua no seu peito
o amor-perfeito.
Desenha-me um rosto
na circunferência redonda do Mundo
e verei nascer o Poema
nos olhos claros que o rosto tem
- Diz-me, é quem?
Na agenda em papel, marco os dias
esperançosos
e a Lua
que é uma sombra tua
ora cresce
ora diminui
mas sendo inteira me possui.
Os passos que darei
ainda
quando a Luz do Sol for finda
não os conheço nem sei aonde me levarão
- talvez talvez
ao Sonho talvez.
Que eu veja sempre o que é eterno
à minha beira
como quem colhe um cacho de uvas maduro
para ser pisado
a ser o futuro do passado.
Passeie à descoberta do Caminhar,
lento forte seguro,
por entre as faldas junto ao Mar
é mais puro -
e do Horizonte a linha aprumada
lembra a partida para aquela estrada
onde a curva esconde da vida
a manhã ainda não acontecida.
Real é a Palavra
que no verso é a medida
e que nas entrelinhas de estar ali
fulgura
com bravura
e que não se esquece,
quando à Noite se adormece.
Dentro de Mim, que lembrança!,
nada existe
senão uma Criança -
que a brincar no Sonho da vida
um dia cresceu
e fora de Mim se perdeu.
Obrigada, memória,
thank you,
ao teu lado
não há pecado -
diz o meu Coração -
talvez tudo seja imaginação.
Devagar me esquecem as Rosas,
abraçadas junto ao peito -
eram num outro tempo formosas
tinham a fama de ditosas
e eram só minhas, as Rosas -
mas tempo passou
e só eu
aqui estou.
Uma flauta que parece querer ser
uma chama a arder
eu escuto piedosamente
vendo o rebanho na encosta
vendo a claridade do dia reposta
e de tudo se gosta.
Se tudo me satisfizesse,
como o brando sol
tombando sobre a Colina,
talvez acontecesse
eu voltar a ser pequenina.
Chove no silêncio da rua -
deve ser assim
também dentro de Mim
um rio de água mansa
que devagar para a foz avança.
Levanto-me da cadeira
e percorro o corredor da casa
como quem segue o trilho da encosta
à procura
de uma outra lonjura
- nada ou abismo -
regresso à cadeira e cismo.
Não me ofereças Rosas
porque murcham
nas jarras
e as pétalas brandamente se soltam
e não mais voltam.