Liberdade, por que não voltas para Mim?,
- porque Criança me perdi
nestes Caminhos que são de ninguém
e jurei ir sempre mais Além.
Liberdade, por que não voltas para Mim?,
- porque Criança me perdi
nestes Caminhos que são de ninguém
e jurei ir sempre mais Além.
Ventura de ser
e de não se perder
- ó ribeira que cantais,
enche o rio enche a fonte
enleva
o meu horizonte.
Para ti colhi o ramo
e colhi também na vida
uma esperança renascida
contra a corrente
daquilo que deveras se sente.
A cada degrau
que subo
eu descubro
um novo chão
e essa é a minha imensidão.
Regresso aos penedos e rochedos
como quem
de uma viagem vem
com um verso na Alma -
beauty destas fráguas
que permanecem
e são o lugar
de um constante despertar.
Não é a minha porta,
mas que importa,
se o Caminho em frente
me leva por entre as gentes
e eu descubro
que afinal o medo
não tem nenhum segredo.
Tanto de rio me acho semelhante
que eu corro para diante
de Coração às vezes preso
na dor na inquietude
no desalento
de não ser como um rio até por dentro.
Esculpo na tarde o poema
como se fossem pedra as Palavras
duríssimas fragas
e augustos penedos
livres de todos os medos.
Enfim,
parou de chover,
mas não sei se não chove Além
e cá dentro, no meu Coração,
pois as novas do Mundo
as que soam e são
me vergastam até mais não.
Na encosta, a linha do horizonte
limita
o meu olhar -
e apenas resta o Céu circular
em todo
e em qualquer lugar.
Nem se ouve o correr do vento,
que é nortada,
o Silêncio é mais é maior
agora que o Tempo permanece
portas adentro
como se não se escoasse
e do quotidiano da vida me libertasse.
Três tons de azul, que perfeito!,
três tons presentes
neste peito
qual insígnia carnal
em louvor
do Céu a cor.
O verso deixa a sua pegada na areia da praia
e espera pela rebentação
e pela espuma
para renascer em onda
num novo passo
firme
e sublime.
Deambulo.
A tarde é quase nada.
Uma mão fechada sobre o peito
e a outra sobre ela pousada em gesto de oração -
não há multidão
e eu perco-me em vão.
A perfeição onde está?, neste dia claro,
da gente inocente, a desdita
que nos fita
que nos fita
ó Alma que acredita.
São azuis os sete Céus
que, no relento,
se abraçam -
e nesse Abraço aconchegante
nada é distante.
Os deuses regressam sempre
à hora
do entardecer
e é uma orvalhada de espanto
sem eu entender
o quanto
do quanto posso ser.
Alguém passou por Mim sem me olhar -
nas grandes cidades
é assim -
passamos e não olhamos nem sabemos
se resvala uma lágrima
na imensidão
de uma dor no Coração.
Não respires por um momento
e deixa que o sopro
do vento
que vem e que vai
seja o teu alento formoso
que te dá ânimo e satisfação
no tempo em que as coisas são.
Duvido que este lugar esteja fora de Mim,
tanto o sinto como paz,
paraíso fugaz.
A esferográfica pousada em cima da mesa
repousa de tanto penar
a pensar -
e comigo e mais perto em Mim
percebo que também eu estou assim.
Tiro o chapéu largo e é a rodá-lo
que eu te saúdo,
ó Caminhante,
que, numa terra distante,
não importa
a lonjura,
és uma sublime criatura.
Ao alto do céu, aonde chegam
as copas destas fantásticas árvores
que eu desenho à noite antes de adormecer,
chega também o meu suspiro,
não de morte,
para que um deus conforte.
Toda a fotografia é guardiã
de um tempo,
que em fragmentos se alcança,
por isso, em cada um desses pedaços do passado,
temos a infância ao nosso lado.
Obedeço ao espírito dos lugares
e entro e saio e é apenas uma viagem -
mas, se eu pudesse querer,
eternamente eu ia permanecer.
As estantes da minha memória
têm livros
que eu não conheço
porque nunca os abri para os ler
- tal também é o tempo voraz
que esquecemos e jaz.
O oráculo é a voz que se escreve,
quando o sonho
tão breve
lembra que estamos sós
como rio que corre para a foz.
May's rose,
rosa de maio, estrela do mar,
Mãe que enxugas as lágrimas do mundo, eia,
vigilante de cada instante
do bravo Caminhante,
sê também consolo na desdita,
quando um rosto te fita.
O Silêncio olha-me,
mira-me, fita-me,
dói
e numa luta por um instante
tombo na guerra
deste rei
um pensamento sem lei.
Não, esse caminho não é o meu -
é de alguém que ofereceu
a vida para uma festa
de grinaldas e de botequins
e a tudo diz sins.
Como um cântico inesperado de saudação,
entras, maio, na minha vida -
e não voltarás
nem eu olharei para trás
a ver
a inquietação de te perder.