Lá,
onde um dia residiu a Esperança,
é que eu quero estar
para subir por dentro da memória
antes que o pensamento
se confunda
e seja uma tristeza profunda.
Lá,
onde um dia residiu a Esperança,
é que eu quero estar
para subir por dentro da memória
antes que o pensamento
se confunda
e seja uma tristeza profunda.
A cada dia a sua descoberta;
e, num dia mais claro que os outros,
antes mesmo que o orvalho
ofuscasse de brilho
gotejante
a Natureza,
eu procurei por Ti
e vi o Mar,
em ondulação serena,
robusto,
trazendo daquele confim
uma Verdade
para Mim.
Mais rente à lembrança,
como se
pudesse entreter um sonho pueril,
recordo tanto
que não distingo já o que é realidade
do que vive na imaginação;
e parece-me estonteante este acontecer
breve
no meu Ser.
Apresso-me, agora que os dias
têm nas tardes
a longura da noite,
a encontrar em Mim um propósito
novo,
como se, com um outro olhar,
eu pudesse vencer
este destino
de ser
uma ave que esvoaça
apenas quando o vento passa.
A olhar o mar Egeu
desenho o futuro das Naus
que voltarão
uma e outra vez do Longe
mais Longe
da suma distância
até consumir a minha ânsia.
Será Arte, ou bênção,
na madrugada,
a chuva
que insone
eu quis sentir
para, lembrando, sorrir.
Se tudo fosse perfeição,
na humana condição,
a deuses seríamos iguais -
e tais,
sem morrer na morte,
teríamos uma outra sorte.
Dentro de nós, a cor permanece
sempre viva -
e é um espelho no nosso Coração,
onde a Alma se pode olhar
no verde
da cor dum Mar.
Ensaio os dias futuros,
na janela
do meu quarto,
simples geografia
que contém
a Luz do mundo mais Além.
Respiro brevemente
como tão breve é a vida também -
e sinto na Luz longa deste dia
um instante de Harmonia
que só no Mundo não havia.
Pequena Alegria, sê guia
e conduz
a esse Universo de Luz.
Sempre me iludi na escolha
de caminhos -
pensando ir adiante, afinal recuei
e tantas vezes me enganei -
por isso, agora, vou diretamente até à foz,
sem escutar aquela minha voz.
Brincavas com as pedrinhas
e saltavas no jardim
inocente e feliz
só tinhas uma estrada para a alvorada
e por isso ao amanhecer
não havia enleio no teu Ser.
Pendem dos ramos das árvores
as folhas verdes,
alucinadamente verdes,
que brilham incandescentes
de tanto terem a forma justa de um Coração
rendido à compaixão.
Parece-me mais quieto este dia,
agora que a minha Alma
no Silêncio
se encantou,
e talvez milagre seja
não ter aquilo que se deseja.
Magicamente,
não sei,
uma Rosa recebi
e brilhante e pura
misteriosa e excecional
azul
como ela não há igual.
Que me ofertais?, ó deuses
da suma planura.
Que promessa é esta?
Que Caminho?,
que me vejo sem sombras,
mas sozinho.
Parece que é para sempre
este ondular suave
dos ramos das árvores -
mas não é.
Virá o estio e o inverno,
porque nada é eterno.
Tudo me sustém para Além
e se prossigo
é porque, no movimento do Mundo,
antes de haver um saber,
há no homem o Ser.
Por que havia eu de contar
cada dia -
cada dia é apenas
ilusão
numa conta de multiplicação.
No fulgor do entardecer,
a encosta
brilha como se acordasse -
e num encantamento respirasse.
Neste canto do jardim,
parece-me
que se alegra em Mim
minha Alma que de vaguear não se cansa
e que procura
o que ninguém nunca alcança.
Há mais Silêncio,
como se a Terra tivesse engolido
cada verso
e o magma das sílabas irrompesse
em lava
violeta e anil
com uma graça juvenil.
A longuíssima viagem começa e acaba
no meu Coração
e o compasso é o passo firme
da jornada,
mesmo que o caminho seja o nada
e o passo a ilusão
de que não caminhamos em vão.
Escuto o tombo da árvore,
que cortada
rendilha o caminho com os ramos,
e parece-me isso um bordado
de recanto aberto
como num lenço de mão
- que se tem junto ao Coração.
Céu ou Mar?, espelham os olhos teus
e assim como deus
nos dá a sua graça
Céu ou Mar?, é mistério que nos abraça.
Da minha janela, vejo os navios
que cruzam
num rio que eu imagino
águas sem destino -
e talvez cheguem a um Mar
(imaginado também)
porque o meu Sonho é para Além.
Tudo muda
no ponto em que adormeço
e do mundo esqueço
aquela dor
dos lugares comuns da vida
que a fazem preenchida.
Toma uma flor nas tuas mãos
e, nesse gesto simples,
desfruta a emoção -
a flor há de morrer,
quando o instante passar,
seja qual for o lugar.
Talvez uma gaivota viesse
e trouxesse no bater de cada asa
o dia puro -
mas não vem e eu murmuro
uma imorredoira
oração
pelos dias que são em vão.