É ao entardecer
que é mais suave o dia -
e uma luz que se apaga nos distancia
da dor que em nós havia.
É ao entardecer
que é mais suave o dia -
e uma luz que se apaga nos distancia
da dor que em nós havia.
Brandamente a respiração se exala
e parece até que se sustém
não vai nem vem por um momento
em que sangra
cá dentro
a minha Alma sem alento
sem o ar
que dá sustento.
Demoro-me neste pensamento,
que é todo ele coisa de Mar;
onda que vem,
onda que vai,
marulho e uma gaivota
que quer voar,
mas não sabe por onde começar.
Se um verso viesse cotejar
a aridez
do meu pensamento,
por certo, bem perto, nesse vazio
encontraria
a minha Alma de vigia.
Desenhei uma côdea de pão
na calçada
e vieram os pássaros de luz
iluminar a gravura,
que pisamos
quando caminhamos.
Vamos conversar uma conversa
sem fim -
tu és a menina e eu sou o jardineiro do jardim -
e falamos de Roses e daisies,
lilies e violets,
e nisto o Mundo fica completo
porque te tenho perto.
Brilhante estrela,
que cativas quem importa,
vem brilhar à minha volta,
vem ser o Céu ao meu lado,
não olhes para o meu pecado.
Pego no livro antigo
e leio
o que já reli -
toda a aprendizagem é assim -
e num momento esquecemos
o tanto que já vivemos.
Que é da força do vento
cá dentro de Mim?,
que ventania é esta que molesta
toda a natureza,
mas que cá dentro não encontra alento
nem força de vento
em nenhum momento.
Se me perguntas,
por que havia eu de voltar
a ver o Mar,
te direi
que sou rio
e sou gaivota
e o meu Amor não se esgota.
Do mundo, guarda apenas
um sorriso
de Criança, à beira do anoitecer,
quando nela a vontade de viver
é o cúmulo de todo o saber.
Não cabem nos meus braços
as flores que abraço;
são mais e maiores
que as espigas da seara
que nos dão o pão
ou que as estrelas num firmamento
sábias
e que por magia
desaparecem todo o dia.
Tanto do antigo se remoça
que hoje
não sei acertar
se o vento da guerra
ou se a paz obreira
são a escolha derradeira.
A Liberdade um dia fez-se Poema
e passou por todo o lado
e também aqui chegou -
e eu vi a Criança
nascida da Esperança
com os versos a brincar
como quem apenas sabe soletrar.
Deste silêncio irrompe uma canção
e o mantra
que parece não ter fim
somente se repete num pensamento circular
que diz:
«a vida é a raiz».
É o sítio da árvore
este lugar
onde a terra está mais próxima
do Céu; e cada ramo estendido
lembra de deus o seu Sonho perdido.
De dentro, tudo vem,
a alegria,
e a tristeza também -
por isso, se me canso de tanto viver,
é apenas porque cá dentro
parece anoitecer.
De vento em vento,
corres a Alma e o mundo,
e sabes
que ao entardecer
amanhece o teu Ser.
Na coroa de Rosas,
as mais formosas
são como um hino cantado
e que à semelhança da Luz
cruamente
joeiram toda a semente.
Havia um tempo em que dançavas
na soleira da porta
e no quintal
nesse tempo a esperança não estava morta
e a bondade no ato de te ver dançar
dava vontade
de para sempre amar.
Por entre os prédios, na cidade,
horizonte não há
nem profundamente se vê
e tudo esquece
e sem memória
não há um momento de glória.
Nada acrescento
aos dias
mortais que são iguais -
mas a brisa que corre e que o meu corpo
afaga
leva a tristeza para longe
e apaga a mágoa.
Lá, onde a Noite persiste,
inunda o Céu
o luar -
e ninguém pode então ser triste
o luar é promessa
que sara
mesmo a Dor mais rara.
Murmura a voz,
«este é o tempo em que habita em nós
a mansidão
no nosso Coração -
frágil pedaço de Céu,
que revela
a hora da hora mais bela».
O girassol mais lindo do mundo
está neste vaso
de flores;
e mirante dardeja o buscar
só para onde o Sol há de estar.
Pequeno Sonho
de que acordei encantada
tão palpável tão real -
seria um Sonho afinal?
É mais invisível este jardim
agora que no calor
do verão
ninguém aí se demora;
mas eu teimo em plantar
rosas, muitas rosas,
de vã glória e triste fama,
com que a minha Alma se engana.
Tudo é possível
e nada existe no meu Coração,
e nem a sombra que eu um dia visitei,
no encapelado do sentimento,
vive mais,
e é como se o Coração fosse um cais.
Brincam as Crianças lá fora
e, desse tempo que em Mim ainda mora,
sinto uma Alegria perfeita -
brincos de prata,
que a vida não mata,
estão em Mim
do começo até ao fim.
Como em jogos malabares,
o meu corpo
sente a dança e não descansa -
e num verso também,
a Palavra vai
e vem
no pensamento de alguém.
Se eu fosse olhar
para onde a terra acaba
e começa o mar,
certamente não veria o boneco de pano,
no cimo da encosta, que, como gente que quer sossegar
da labuta de cada dia,
está imóvel e na Vida confia.