quinta-feira, 31 de julho de 2025

O poente



É ao entardecer

que é mais suave o dia -


e uma luz que se apaga nos distancia

da dor que em nós havia.



 

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Uma espécie de mistério



Brandamente a respiração se exala

e parece até que se sustém


não vai nem vem por um momento


em que sangra

cá dentro


a minha Alma sem alento

sem o ar

que dá sustento.



 

terça-feira, 29 de julho de 2025

Tinta sobre papel



Demoro-me neste pensamento,

que é todo ele coisa de Mar;


onda que vem,

onda que vai,


marulho e uma gaivota


que quer voar,

mas não sabe por onde começar.




segunda-feira, 28 de julho de 2025

Talvez morasse noutra rua



Se um verso viesse cotejar

a aridez

do meu pensamento,


por certo, bem perto, nesse vazio

encontraria

a minha Alma de vigia.



 

domingo, 27 de julho de 2025

Cenário urbano



Desenhei uma côdea de pão

na calçada


e vieram os pássaros de luz


iluminar a gravura,


que pisamos

quando caminhamos.



 

sábado, 26 de julho de 2025

Avós



Vamos conversar uma conversa

sem fim -


tu és a menina e eu sou o jardineiro do jardim -


e falamos de Roses e daisies,

lilies e violets,

e nisto o Mundo fica completo

porque te tenho perto. 




sexta-feira, 25 de julho de 2025

Tempo perdido



Brilhante estrela,

que cativas quem importa,


vem brilhar à minha volta,


vem ser o Céu ao meu lado,

não olhes para o meu pecado.



 

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Horizontes que se abrem



Pego no livro antigo

e leio

o que já reli -


toda a aprendizagem é assim -


e num momento esquecemos

o tanto que já vivemos.



 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Entre colinas



Que é da força do vento

cá dentro de Mim?,


que ventania é esta que molesta

toda a natureza,


mas que cá dentro não encontra alento

nem força de vento

em nenhum momento.



 

terça-feira, 22 de julho de 2025

Caminhar à beira Tejo



Se me perguntas,

por que havia eu de voltar

a ver o Mar,


te direi


que sou rio

e sou gaivota

e o meu Amor não se esgota.


 


segunda-feira, 21 de julho de 2025

Passageiro do mundo



Do mundo, guarda apenas

um sorriso


de Criança, à beira do anoitecer,


quando nela a vontade de viver

é o cúmulo de todo o saber.



 

domingo, 20 de julho de 2025

As flores



Não cabem nos meus braços

as flores que abraço;


são mais e maiores

que as espigas da seara

que nos dão o pão 


ou que as estrelas num firmamento

sábias 

e que por magia

desaparecem todo o dia. 




sábado, 19 de julho de 2025

Tanta coisa antiga



Tanto do antigo se remoça

que hoje

não sei acertar


se o vento da guerra


ou se a paz obreira

são a escolha derradeira.



 

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Em papel



A Liberdade um dia fez-se Poema

e passou por todo o lado


e também aqui chegou -


e eu vi a Criança

nascida da Esperança


com os versos a brincar

como quem apenas sabe soletrar.



 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Perfeitas vozes



Deste silêncio irrompe uma canção

e o mantra


que parece não ter fim


somente se repete num pensamento circular

que diz:

«a vida é a raiz». 




quarta-feira, 16 de julho de 2025

O lugar na calçada



É o sítio da árvore 

este lugar


onde a terra está mais próxima


do Céu; e cada ramo estendido 

lembra de deus o seu Sonho perdido.




 

terça-feira, 15 de julho de 2025

Solo profundo



De dentro, tudo vem,

a alegria,

e a tristeza também -


por isso, se me canso de tanto viver,

é apenas porque cá dentro

parece anoitecer.




segunda-feira, 14 de julho de 2025

Eterno viajante



De vento em vento,

corres a Alma e o mundo,


e sabes


que ao entardecer

amanhece o teu Ser.



 

domingo, 13 de julho de 2025

Móbil sol



Na coroa de Rosas,

as mais formosas


são como um hino cantado


e que à semelhança da Luz

cruamente

joeiram toda a semente.



 

sábado, 12 de julho de 2025

A última bailarina



Havia um tempo em que dançavas

na soleira da porta

e no quintal


nesse tempo a esperança não estava morta


e a bondade no ato de te ver dançar

dava vontade 

de para sempre amar. 




sexta-feira, 11 de julho de 2025

Ponto de fuga



Por entre os prédios, na cidade,

horizonte não há


nem profundamente se vê


e tudo esquece

e sem memória

não há um momento de glória.




quinta-feira, 10 de julho de 2025

Verso solto



Nada acrescento

aos dias

mortais que são iguais -


mas a brisa que corre e que o meu corpo

afaga

leva a tristeza para longe

e apaga a mágoa.




quarta-feira, 9 de julho de 2025

Com confiança



Lá, onde a Noite persiste,

inunda o Céu

o luar -


e ninguém pode então ser triste

o luar é promessa

que sara

mesmo a Dor mais rara. 




terça-feira, 8 de julho de 2025

No alcance do tempo



Murmura a voz,

«este é o tempo em que habita em nós

a mansidão


no nosso Coração -


frágil pedaço de Céu,

que revela

a hora da hora mais bela».





segunda-feira, 7 de julho de 2025

O girassol mais lindo



O girassol mais lindo do mundo

está neste vaso

de flores;


e mirante dardeja o buscar

só para onde o Sol há de estar. 




domingo, 6 de julho de 2025

Um sossego



Pequeno Sonho

de que acordei encantada


tão palpável tão real -

seria um Sonho afinal? 




sábado, 5 de julho de 2025

Traçando direções



É mais invisível este jardim

agora que no calor

do verão


ninguém aí se demora;


mas eu teimo em plantar 

rosas, muitas rosas,

de vã glória e triste fama,

com que a minha Alma se engana.




sexta-feira, 4 de julho de 2025

Marcador de página



Tudo é possível

e nada existe no meu Coração,


e nem a sombra que eu um dia visitei,


no encapelado do sentimento, 

vive mais,

e é como se o Coração fosse um cais.




quinta-feira, 3 de julho de 2025

Fim é começo



Brincam as Crianças lá fora

e, desse tempo que em Mim ainda mora,


sinto uma Alegria perfeita -


brincos de prata,

que a vida não mata,

estão em Mim

do começo até ao fim. 




quarta-feira, 2 de julho de 2025

Intervalo



Como em jogos malabares,

o meu corpo


sente a dança e não descansa -


e num verso também,

a Palavra vai

e vem

no pensamento de alguém.



 

terça-feira, 1 de julho de 2025

Boneca de pano



Se eu fosse olhar

para onde a terra acaba

e começa o mar,

certamente não veria o boneco de pano,

no cimo da encosta, que, como gente que quer sossegar

da labuta de cada dia, 

está imóvel e na Vida confia.