Importam-me as janelas fechadas
que como um ventre
vestido
fazem do silêncio nascido
da vida
o único sentido.
Importam-me as janelas fechadas
que como um ventre
vestido
fazem do silêncio nascido
da vida
o único sentido.
Parece Beleza
o sol límpido e puro
que brilhantemente chega e vai
daqui até ao fim do mundo
e em cada praia
nossa
a vida se remoça.
Abri a porta e sorriste,
como quem traz o amanhecer nos lábios
e procura
na sua Alma pura
um vestígio dos campos
e da giesta
- mas que Camponesa será esta?
Triste, Longe eu caminhei
sem saber que no fim
tudo está na Fonte de Mim.
De um lado balança
a Esperança,
do outro lado, corre a brisa do Mar -
serena, Criança,
o Mundo foi feito para te Amar.
Neste navio por grandes penedos
singro num Caminho
rochoso
que melhor me convém
para ser neste mundo e mais Além.
E hoje foi assim,
tão perto de Mim
de Mim
tão perto
que o dia foi completo
e como quem plantou uma semente
para no futuro dar de comer
eu saboreei o meu Ser.
A tarde parece que quer anoitecer
para no sono mergulhar
e Sonhar
e acordar, depois, na justa manhã
para de novo entardecer
numa eternidade
de ser um Sonho sem idade.
Caminho na terra às escuras,
porque é noite
e não há no Céu um clarão
rastilho
da Alvorada
que seja a nova morada.
Uma pedra uma árvore
são um tesouro
de ouro
liso e puro
que nele de quando em vez
vês a obra que deus fez.
Contém um Sonho
a Rosa,
que floresce no roseiral -
mas também um dia há de morrer:
o Sonho e o seu Ser.
Sobre nós voam as aves
da montanha
e iluminada e pura
a Voz
nos encanta quando estamos sós.
As árvores de ontem
são hoje azuis
tais que acordaram no pensamento noturno
do Poeta
e do Azul se fez a maré
da volta do mar que nunca mais é.
Deu deus às árvores a raiz
porque quis
que do fundo da terra se erguessem
fitando o Céu
- e também eu -
por isso guardamos
o marulhar dos ramos.
O meu espírito está cansado
de alinhavar
e de costurar em papel de remendo
uma angústia macerada
que só pode ficar calada.
Há uma Palavra escrita no desenho
das letras -
e eu soletro
como quem aprende a ler
o interior do seu Ser.
Pedras da vida, ó Lila,
por que as pisamos?,
nesses Caminhos que são deserto
e fogo
e neles a imensidão da eternidade
brilha firme como a Verdade.
Ruas vazias de deuses,
tão só
a dura humanidade
descontente
e gente que fita
o cais
aonde não vão os imortais.
Procuro, em vão, o verso
que perfeitamente
seja
da mão certeira a Esperança
de o mundo um dia
ser Criança.
Cais de partida,
a vida
que eu não sei
e em lágrimas derramei.
Nada. Nenhum alento
é mais forte
que uma Palavra que importe
como num dia a Magia
que no meu Coração havia.
O pensamento brinca comigo
(ele é o meu abrigo
e meu fiel tormento também)
como alguém que quer brincar
e só sabe alinhavar
o ponto a ponto que a vida tem.
Lentíssima, foge do meu olhar
na noite clara,
esta lua que não se esquece -
favo de mel brilhante
obreira da maré
daquele que sabe quem é.
Certeza de recomeçar
e de reerguer
a Voz
que no Silêncio emudeceu
sem saber a Hora
e vê que é Agora.
Este é o meu escutar
de andarilho -
colho uma Palavra aqui e além
e sopro -
então anoitece
e tudo me esquece.
Moram as palavras na volta de dentro
do pensamento
e é longínqua a gargalhada
por se saber
que chora em pranto o doce Ser.
Prodígio
de te procurar
nas águas do Mar -
e sem saber dos confins a condição
bem me parece
que o passado não esquece.
Quanta realidade
nestas aves
que esvoaçam no meu Sonho;
nem a escuridão nem o Silêncio perturbam
o seu voo oblíquo
e cada asa flamejante
é luz num novo instante.
Do bordado brandirei
a Verdade
contra a guerra miséria e fome
contra a injustiça e impiedade
que são os outros nomes
do puro mal
neste mundo mortal.
Tanto céu e só há uma página
no nosso Coração
tanto como a imensidão
e que única e singular
a vivemos
porque a merecemos.
Hoje, é de sempre o dia
aguardado;
não há sombra nem incerteza
e é pura a Beleza
de um vaso partido
se a Flor tiver nascido.