Nestas madrugadas de Silêncio
e frio,
sou, nos recantos da Casa, aquela que caminha
ao encontro do dia claro
- e isso é algo raro.
Nestas madrugadas de Silêncio
e frio,
sou, nos recantos da Casa, aquela que caminha
ao encontro do dia claro
- e isso é algo raro.
Quando te vires ao espelho,
mira-te
e não tenhas pressa -
pode ser que de ti a imagem
seja fugaz
mas seguramente te dará a Paz.
O vento chama por ti.
E é um clamor
que troa
sem ter fim
no universo de Mim.
O Caminho é um estar ali
naquela curva
daquela estrada,
seja o anoitecer seja a alvorada
esperando
que em nós a vida aconteça
e que uma bênção de deus desça.
Tão grande é o presente
que a minha Alma desconfia
da imensidão do espaço
de um Coração
que não conheça o perdão.
Desconheço da inquietação
o sumo prazer,
que é o procurar
o que é a vida em cada lugar.
Na esplanada no jardim,
o Universo
não tem princípio nem fim
é tudo um ser e um estar
e quem se senta
fica com a Alma sedenta.
O «U» é de uva,
bago sem grainha,
que, do cacho da videira colhido,
parece viver
brotando do seu Ser.
O outono passa ao meu lado,
e é doirado
e melancólico
como se tudo fosse estremecer
em cada folha que tomba
e em cada folha voasse uma pomba.
Onde?, a Luz
que clareia o Ser,
e que muda para sempre o sentido
a um rosto perdido
escondido
no meio da multidão
preso
à sua solidão.
Se eu pudesse
e sem cansaço cantasse
num trinado de melodia
soltava esta minha Alma fria.
No movimento incessante do Céu,
vejo que também eu
estou de passagem
e sou igual
a um Céu limpo, ideal.
Parece-te feliz a Rosa
no jardim,
porque no teu sentir
há uma Rosa a abrir
como se abre um Coração
e é como um sopro na imensidão.
O sépia pinta a imagem desfocada
e parece até não haver
memória
de um amor
quando ergo a foto à contraluz
e reparo
que o Amor é um caso raro.
As páginas depois
não me trouxeram a Verdade
mas mesmo tarde na vida
quando a mocidade é já vaga
há uma chama que não se apaga
e que é a nossa Voz
que está no interior de nós.
Não queiras, Musa,
que se desfaça o encantamento
é cá dentro
que o espírito vive
na plácida hora da criação
quando tu me dás a mão.
Regresso da intrépida viagem
saboreando o fruto
da Esperança
limpidíssima lembrança
de onde é
o ser Criança.
Daqui partimos
e o Mar
é uma estrada suave a que voltamos
sempre
e a Coragem não nos abandona -
planícies de encontro
com a Memória
- Tudo é um tempo de Glória.
É assim
quando a Palavra coincide
com o objeto:
e o nome secreto
o nome que dorme no espírito de deus
acorda nesta vida
uma Alegria até aí desconhecida.
No ofício do oleiro,
há uma aguarela da vida
silenciosa
tão bela como uma Rosa.
Barco em terra não navega,
ainda que a brisa
o afague
e incite a desfraldar as velas -
barco quer-se em rio ou mar
para partir e voltar
e é sempre aí que deve estar.
A exata ciência não explica
porque uma hora
se demora
e outra hora se vai embora
tão prontamente
que quase se não sente o seu passar -
talvez nas Ilhas Afortunadas
não haja horas enganadas.
Agora que as árvores ocultam
a colina,
num esquecimento
fica o caminho do Tempo,
quando o foi
mais suave no destino
que tanto é
como a lua e a maré.
Diante do abismo,
é preciso
um olhar para dentro -
aí mesmo no centro,
onde as águas
da terra e do céu se cruzam
e um milagre invisível
é possível.
Sem adivinhar,
se o vento
sopra de feição,
o marinheiro ergue a vela
e confia em Si
tanto, como nunca vi.
Leva tempo
sonhar o rio que, como cascata
num desafio, vai para o Longe
para ao pé dum Mar,
mas que está sempre, em Mim, a chegar.
Ao redor do meu corpo,
é mais tranquila
esta manhã que dura ainda
no agora do entardecer -
rasto suave de uma contradança
que não deixa morrer a Esperança.
- Traz-me a Bondade,
se a puderes saber,
é uma estrela firme presa
no chão
que incendeia cada Coração.