A árvore, centrada ao sol, irradia
de um só ponto
para o Universo
a singularidade
de ser
uma árvore a arder.
A árvore, centrada ao sol, irradia
de um só ponto
para o Universo
a singularidade
de ser
uma árvore a arder.
Tão ao Longe, eu oiço o tanger dos sinos,
dobram por alguém
que morreu
hoje e ontem aconteceu
- sem Paz o mundo de tudo se esqueceu.
Do universo, os deuses clamam
se um singular
grão de areia se perde -
tristinho
no infinito da vida,
eu sou como uma bola de papel arremetida
que tem dentro
uma Palavra nunca lida.
Sinto a chuva numa cadência suave
a escorrer pelo meu cabelo
e ombros e peito
cobrindo-me toda de suavidade
ao ritmo
de quem colhe em si uma Verdade.
A encosta nas traseiras do prédio
dá pasto aos meus olhos
que famintos por não verem
na Graça de cada dia
um horizonte muito claro de Palavras
muito sãs
se entristecem todas as manhãs.
Hoje, domingo,
é o dia
de ser Criança
tomar a barca naquele cais
de brincar
e rumar para um Longe firme e seguro
de um Sonho puro.
O meu Mar e o teu Mar
na parecença
lembram bem
que o meu Mar e o teu Mar
são o Mar que a Vida tem.
Pulsa o Coração
e é um compasso
que espera
como se uma mão no peito pousasse
e a outra mão no ar se agitasse.
O primeiro herói não é aquele deus
do Olimpo
que forjou no aço a espada da lei
remotamente perdida;
o primeiro herói
nos deu o pecado e a vida
e a angústia
também
que este Mundo tem.
Sobre o Caminho que faço
só direi
da inquietação
que me move no pisar de cada pedra
como se não pudesse esconder
a dor de aprender.
Antes a paciência
era a demora,
e triste, como num dia de chuva
sem chover,
era uma espera sem hora de acabar
nem a chuva começar.
Aqui, onde há laranjeiras de Paz,
pouso a minha mão
descansadamente no regaço
e sinto nisso um laço
com quem é mortificado
sem ter
um clarão de luz no seu Ser.
Antes que o outubro acabe,
deixa-me vogar
neste Mar,
que é sombra também na escuridão,
e, na passagem
do breu muito escuro
para a luz, vou e faço a viagem
sem me cansar,
pois na vida aqui se há de chegar.
Neste jardim, sou o fim
e o princípio
também
que a Vida tem;
e, se entardeço, e já me esqueço
da Luz branda
do nascer do dia,
é porque me cansa de Saudade
da manhã
o morrer da tarde.
Tanta é a quietude por entre os ramos
das árvores
que só eu balanço,
folha de árvore, como se dançasse,
e nesse movimento
sem sopro nem vento
busco
o meu único alento.
Uns e outros pensamentos
são um novelo
tão denso
que é preciso desemaranhar
o verbo recomeçar
sem o julgar.
Reencontro aquele seguro porto
de onde viajei
para as descobertas,
mas agora a Hora
em Mim já não chora
e parece viver longe do mal-ser.
Haverá um lugar para Mim,
quando as folhas
se rasgarem
de tanto serem pisadas
neste chão
que é o chão da multidão.
É passageira esta quentura
de oiro e prata
em que o sol e a lua
são uma promessa nua.
Caminho pela calçada
como se pisasse a terra e os ramos
de um trilho campestre,
porque da Cidade não sei fugir
e tudo aqui posso sentir.
Ofereço-te este dia verdadeiro,
e inteiro
o calafrio da vertigem
de Mim
parece chegar a um fim.
Agora é tarde.
O que antes era já passou.
E, nesse Milagre, toda a frágil utopia
que o homem fez
se desfez.
O Sol, o eterno aguarelista,
pintou de azul cobalto
este momento
em que corre o rio e sopra o vento
na largueza do meu pensamento.
Tanto é o silêncio nas árvores
que sem ruído
cai a folhagem velha
e, no chão, fica um rastro da realidade
desta morte
que só um verso exorta tardiamente
depois de sentir
que a primavera há de vir.
Efémera, a bruma
é um compasso de espera
entre o agora e o que antes era.
As palavras são o broto
que nasce
do subsolo desta terra endurecida
minha Alma
colheita perdida.
Esquece a jornada
e olha
para a Flor
é ela o primeiro Amor
errante,
hoje tão distante.
Ninguém nesta hora da madrugada
pode amanhecer
a saber
o que no dia acontece
se se alegra ou se se entristece
com o Mundo
ou com o seu Sonho profundo.
Pego no lápis de cor de vermelha
para colorir a maçã
que vou trincar
mas mais parece uma Rosa
a maçã nesta glosa.
De Sol são as pedras
da calçada,
agora que o brilho da Luz
nu
afaga o empedrado do passeio
e eu o sinto no meu seio.
Rego o broto
e aguardo
pela sombra da árvore adulta
que já não verei,
mas por isso a reguei.