A árvore despida
parece já sem vida e sem alento
mas ver a árvore por dentro
é ver a seiva que lhe corre nas veias
e perceber
que é um outono que está a acontecer.
A árvore despida
parece já sem vida e sem alento
mas ver a árvore por dentro
é ver a seiva que lhe corre nas veias
e perceber
que é um outono que está a acontecer.
Na penumbra, o candeeiro dá a luz possível
ao redor,
e eu vejo apenas as arestas da mesa
nesse lusco-fusco do entardecer.
Quem dera o sol,
sem neblina,
para dar conta do recado
de não mais te ter a meu lado.
Haverá a força do vento
em cada folha
que agora é tempo e terra
tombada no chão
à espera da podridão?
Talvez,
cada folha cai só uma vez.
O primeiro imperativo da alma
é o Amor,
sem sombra, e como uma Flor
que floresce,
em cada degrau da eternidade,
e ama a Liberdade.
Amparo-me ao corrimão das escadas,
numa subida até ao 5.º andar:
podia subir mais alto,
como se escalasse uma montanha,
e do cimo dela eu visse
o Mundo inteiro,
mas, mais alto do que o prédio e a montanha,
está o Céu e eu, sem glória,
não chego a essa vitória.
Choveu. E cá dentro
de Mim
brilhou um sol sem fim,
porque correu a água por sobre a tristeza,
e lavou e levou
para tão Longe no Mar
o pretérito do verbo Amar.
Mesmo antes de respirares pela primeira vez,
já eras a Mãe de todos nós,
perfeita na Graça,
de cada homem que passa.
O abismo do Céu é mais raro,
mas, se nele tropeço
como numa pura inquietação,
pesam as horas de remanso leve
e a vontade falece adormecida -
oh, angústia da vida.
É de terra esse chão
por que anseio,
trilho na planura pura -
estrada para adiante de Mim
cada vez mais perto
do fim.
Agora e aqui
é de Paz este momento
tão vizinho a Mim,
que me parece descrença
a guerra e a fome
que ao redor o mundo consome.
Ó Noite, na ínfima distância
do claro Céu,
me vejo perdida,
é breu na minha vida;
e tão perto a estrela do amanhecer
sem a poder ter.
Dos ramos altos
daquela
árvore nua,
sonho a verdade e a lua.
E como sem ver de quê,
porque o Caminho
é estreito,
não colho fruto nem me deleito
e tudo guardo no peito.
Há palavras que desaguam em dezembro
e constroem o Poema
do Presépio
- um burro e uma manjedoura
e, nas palhinhas deitado,
um Menino
que recebe o recado do Destino.
Tudo repousa no meu olhar.
Que vejo eu?,
do alto da minha altura
que não seja
uma triste lonjura
e que dura só porque dura.