domingo, 31 de março de 2013

Páscoa


Mergulho no céu cinzento,

sem renascimento. Falta o sol.

Aquele sol interno que ilumina para além.


Mas o meu tempo é de mudança

e preciso de ter intacta a esperança

para crer no teu renascer

com aquela fé dos crentes

que embora sem a lógica nem a razão

absurdamente confiam

mesmo quando só porfiam.



quinta-feira, 28 de março de 2013

Diáspora


Sonho o mundo e a liberdade

mais verdadeira,

que é aquela primeira

de florescer

em mim,

sem regaço.


E, sem sombra de cansaço,

nem de qualquer medo,

partirei lucidamente por esses caminhos

sem regresso como se escrevesse um último verso.





terça-feira, 26 de março de 2013

Quando virão


as palavras?, aquelas palavras exatas,

que revelam inteiro todo o fio do pensamento.


E, quando forem assim tão verdadeiras,

como uma oração em pleno sol,

quero oferecer-te as primeiras

para que digas:

«Para quê o sol?».






segunda-feira, 25 de março de 2013

Recanto


vazio. Lá tão longe, onde o tempo

comunga da jornada,

a Casa aguarda em silêncio

pela vida.

Mas é tão inverno neste momento

da nação

que a caminhada para Sul

não é senão solidão.




sexta-feira, 22 de março de 2013

Amar


A sombra destes meus dedos

escreve na areia

e a marca que não fica e que o mar não apaga

é tão silenciosa

quanto num murmúrio escrever uma prosa

que contenha

tanta imensa claridade

como quando o sol loucamente

penetra no coração da gente.







quinta-feira, 21 de março de 2013

Silhueta


Vagamente, como quem não tem pressa,

colhe o sonho

que a tua alma inquieta.

Depois, como quem planta

uma semente,

aguarda firme e fielmente,

com trabalho, esforço e atenção,

que dê flor

a tua intenção.

Pois,  do sonho, só lucidamente se desperta,

quando se vive

uma realidade concreta.



quarta-feira, 20 de março de 2013

Serenidade


No longe que é o Sul

há sempre uma nota singela

na brisa que ao fim da tarde

me vem namorar à janela.






terça-feira, 19 de março de 2013

Há uma vida


que caminhas ao meu lado,

como se no universo da existência

não houvesse nenhum outro fado.


E porque nunca plantámos uma árvore,

daquelas silenciosas,

deixo-te aqui, nesta prosa,

o fruto e o orvalho

nascente

da primeira madrugada

em que a minha mão pequenina

se segurou na tua mão de pai

como quem tropeça, mas não cai.






domingo, 17 de março de 2013

Rumor


Nas asas dos pássaros,

abertas, há um caminho de verdade,

que nos alvoraça,

naquele instante, em que não celebramos

a liberdade.






sábado, 16 de março de 2013

Divagação


Tarde de poesia, algures,

na periferia da cidade.

Poderia ter ido, se hoje tivessem

amanhecido em sol

as palavras.


Mas, assim, no tempo que ficou por viver,

cabe todo o meu ser,

não como poeta, mas como imensidade completa.




sexta-feira, 15 de março de 2013

Pisa este chão


com os olhos sempre ante o futuro,

pois poderá ser, irmão,

que a ação

da tua direita mão,

na voragem do tempo,

te envergonhe e embarace,

qual mal feito que não mais se apaga

nem no perdão de quem te ouve a mágoa.




quinta-feira, 14 de março de 2013

Em silêncio


Escutámos tão em silêncio a música

do piano,

que certamente

deslumbrámos os deuses,

que regulam o tempo, e o dia corou-se

de improviso, como a música tocada,

numa primavera antecipada,

apenas nascida

de um silêncio tão perfeito

quanto aquela luz que brilhou no nosso peito.






terça-feira, 12 de março de 2013

Sexto dia


«No recorte da fina colina oca

em Nagasaki,

apenas gotejam os filamentos das plantas

numa argamassa de minérios e pó.»,

diz-me o Caminheiro,

observando o Mapa do horror humano.


Certamente será verdade.

Mas o fogo que ainda arde no Coração

de alguns poderá ele reescrever a história

e apagar da memória

de deus,

na criação, o sexto dia?, ou não?







segunda-feira, 11 de março de 2013

Memória


O mar do mar

é esta espessa madrugada,

mais longa que a noite,

onde o Coração

busca as badaladas

que acompanham os que, acordados,

não têm os olhos fechados.




sábado, 9 de março de 2013

Indecisão


Tal como a chuva que vem ou não vem

assim me enredo nesta inércia

das multidões...

Mas que fazer?, se nascer é morrer.




sexta-feira, 8 de março de 2013

Recomeço


Sem pressas, recomeças como se o chão,

onde assentassem os teus pés,

fosse coisa inamovível,

que, sem dúvidas nem sobressaltos,

te erguesse nos cumes mais altos.


Talvez que assim

o tempo que é presente

seja para ti uma benção gigante

que te faça recomeçar a todo o instante,

mulher firme e errante.







quinta-feira, 7 de março de 2013

Viagem


Aquela ideia,

que vai partir para o infinito,

deslumbra-me apenas

num breve momento,

porque sei que,

às voltas com o pensamento,

o homem cresce

em força e se sustém.







quarta-feira, 6 de março de 2013

Ontem


Podia ter sido perfeita

a palavra, ontem.

Mas, hoje, que é o futuro do tempo

que passou, cada sílaba

perdeu o seu fulgor neste sempre inverno

do que não se esquece

e que, por isso mesmo, já não amanhece.




terça-feira, 5 de março de 2013

Na vindima


de cada sonho, mora eterna a esperança.


Por isso, tal como um vinho

que escorre,

a esperança nossa não morre,

enquanto houver videiras plantadas

tão vastas como as sonhadas.





segunda-feira, 4 de março de 2013

Crepuscular


o nevoeiro penetra pela tarde

anunciando que até

a crença mais estimada

se  derrama

e que tudo tem um fim... até uma chama.





domingo, 3 de março de 2013

Confiança


Em cada desafio há uma oportunidade.

Talvez por isso as estátuas

muito brancas

de cal

são as sentinelas alertas, 

quando, sem razão nem tropeço,

a Vida

nos acorda 

e percebemos que já não estamos num berço.





sábado, 2 de março de 2013

Uma pequena luz


Mensageira da esperança

é esta luz

que brilha no cimo do renque das árvores

despidas ainda por ser inverno.


Mas tu acreditas que virá breve nascendo

a primavera

e eu, porque a tua crença é tão segura,

olho a luz que brilha,

acreditando ver, na distância,

nos ramos,

os nódulos milimétricos

do futuro rebento da folhagem.


E, talvez, sim; talvez ainda este ano seja primavera.





sexta-feira, 1 de março de 2013

À conversa


toda a tarde, como se o mundo

já não girasse

numa espiral de revolta;

e o degredo

e o longo medo

estiveram ausentes da nossa beira

talvez por ser sexta feira.