quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Azul


Azul, rente à correnteza da onda

do mar, sem lugar.


Mas se me apetece navegar

por entre velhos papéis,

naufrago no Azul sem Céu,

porque o assombro é só meu...


E sem lembrança, nem desdita,

o Azul é a cor que me incita

a ver num olhar contrafeito

a eterna luz do que é imperfeito!




terça-feira, 27 de novembro de 2012

Como desenhar


uma casa?

Com uma mão em outra

mão; e um coração

batendo asas

como se um ninho

fosse uma casa.


Mas o desenho só fica completo,

se houver um sol por perto,

tão perto

que a ave no ninho

fique pousada

num canto da estrada,

junto à porta tão aberta,

que tudo seja apenas uma paisagem

desperta.








domingo, 25 de novembro de 2012

Ilusão


Será Ilusão?, ver um rosto na multidão

e acreditar

que é este o rosto da saudade

do Mar

da antemanhã

que traz a nova esperança,

a esperança em que toda a vida balança.


Será Ilusão?, não sei...









sábado, 24 de novembro de 2012

Nevoeiro


E o Rei?, onde está?,

quando, enfim, regressará?,

que hausto de hora espera?


Crença de Povo não é quimera,

mas antes profecia ajustada

à lenda

da Nação

que sonha que o heroico cavaleiro

guerreiro conduzirá à Paz

e ao assombro de Ser

uma nova Era a nascer.


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Prenúncio


A curva no caminho esconde

a estrada...

e amanhã, na madrugada,

quando o tempo for então novamente

só presente,

sonharei de novo a curva,

a curva intermitente,

de viver sempre a sonhar somente.





quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Desfio


Lentamente, como se a girar

o mundo se movesse,

encontro uma seca flor

só em botão,

que sem pétalas nem cor

se abre na minha mão.


Milagre é assim: um mundo

que gira sem fim.



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Viagem


breve ao outro lado da rua.

E sem percalços nem perturbação

vi a Lua à distância de uma mão.


Tomara, então, que tudo fosse sempre assim:

um sonho de gigante

cá mesmo tão dentro de mim!





segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Distração


Não sei como, porquê nem porque não,

mas o dia corre

em distração -

pura ilusão.


E sentada vejo navios e o mar

como se a jornada

fosse este sem caminhar

sem esperança

para buscar

os que tão jovens se perdem por aí

também sentados

mas de olhos turvados.




domingo, 18 de novembro de 2012

Há uma palavra


que me chama agora que anoiteceu

e tão estranha

parece ecoar por esses espaços

siderais,

onde não há fome nem guerra,

mas apenas o movimento do universo,

tão múltiplo e diverso.


Mas a palavra que há, distinta a ouço

a cada dia,

«Paz», onde estás?,

porque és só a utopia?





sábado, 17 de novembro de 2012

No quiosque


mede-se a distância entre as estrelas

logo a seguir à madrugada

e os jornais

tão cheios da realidade dos dias

coloram a banca

como se nunca não sucedesse nada.


Assim começa sempre o meu «bom dia»,

entre as estrelas do céu

e a crua presença na rua

de uma sina que se habitua

a estranhamente encontrar o destino

em qualquer lugar.



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

...


Quando a espera?, quando

a ilusão?, tão breve.


Que num repente a Vida

jogue os dados da partida.



quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Imensidão


Nos pátios, as folhas dos plátanos

invadem o espaço, parecendo que um manto

cobre o chão já centenário do velho edifício, onde

demoro as horas

da manhã,

procurando saber se as palavras,

tão leves como as folhas secas que caem,

vão ao encontro dos rostos novos.


Mas, na imensidão duma manhã infinita,

eu apenas sou Aquela que em mim habita,

tal árvore que assiste à passagem das estações

como se no Tempo

agora fosse igual a outrora.



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

No Sul


o verde é mais verde,

pois, tanto que o olhar se estende,

tudo viceja na cor

após a abençoada chuva.


E no carreiro

onde submergem as manhãs

uma cegonha

dá as boas vindas aos homens

que procuram o aconchego de um ninho

no Caminho.



terça-feira, 13 de novembro de 2012

Campo de flores


Se fosse verdade este sol

eternamente brilhando,

no campo todas as flores

estariam alegres vibrando.


Mas se até o Imortal

conhece no tempo a chuva e o vento,

como podem as flores afinal

escapar às monções do tempo?


Por isso, e não por outra coisa qualquer,

cada flor do campo

vive a cada dia o tormento

de ver o pôr do sol a cada ínfimo momento.







segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Aurora


Quando o medo atravessa

a hora,

o sol escurece lá fora.


domingo, 11 de novembro de 2012

A infância


tão longe que já não é possível

buscá-la!

Por isso, hoje caminho somente

desbravando o imenso mar

das coisas para sempre perdidas,

sem saber porque são assim as nossas vidas.



sábado, 10 de novembro de 2012

Fragrância


suave inunda a casa

como se incensasse, em comunhão

com a cidade onde habito,

cada criança ainda não-nascida

e que procura um espaço nesta vida

para realizar em glória

a caminhada de vitória,

que é nascer e depois morrer.



sexta-feira, 9 de novembro de 2012

E os deuses


onde estão?, quando envelhece

aquela alma

por não ter trabalho nem pão.


E na suma da desdita, porque não há

um deus que grite?,

fazendo escurecer o dia,

dizendo toda a verdade.


Mas não, não há deuses, onde estão

a dor e a impiedade

da mais simples humanidade.


Por isso, e não por descrença,

não rezo nem ergo a minha voz

a pedir justiça e paz

e toda a saciedade.



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

novembro


Grande é o movimento que descubro

na Vida...

E na linha que se move,

há uma história

que é tão eterna

que ainda que quiseramos despertar,

por outros mares navegar,

vestes outras vestir,

não o poderíamos fazer.


A linha corre num só fio

e não há lei para a desfazer.


Somente os deuses tecem num lugar

onde amanhecem

aqueles sós que demandam o seu destino

sem fado malogrado

e dia a dia, lá eternamente, sonham a vida da gente.




segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Haverá


quem pense uma nova utopia?,

que faça levantar

um grito de esperança.


Não sei. Mas hoje, na troca breve

de palavras, suspeitei

um conformismo e uma desistência

como se do fundo de um poço

fôssemos prisioneiros

de uma imensa mágoa


e atravessa a mágoa dentro também de mim

um nevoeiro denso que não tem fim.



quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Pausa


Quando a mente

é um enredo que sufoca,

não há uma ação produtiva.


Por isso, na Natureza e no Universo,

a Inteligência é abstrata e pura,

para que sempre floresçam as folhas e os ramos

das árvores e para que no Alto

não sucumbam as estrelas.