domingo, 28 de dezembro de 2014

A substância




Não importa todo o clamor

da injustiça atravessada no teu peito.

Não importa,

porque há uma substância

que permanece

mesmo quando o homem se esquece.






sábado, 27 de dezembro de 2014

Todos os silêncios




E, inesperadamente,

Homem!, o teu gesto de paz

rasga a ferocidade do meu silêncio

doloroso, como se um deus descesse do paraíso

e nada mais fosse preciso.






sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

À sombra das palavras




Esta luz de verão, em pleno inverno,

será breve, bem sei,

tão breve quanto da hora primeira

à última, derradeira.



quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Natal




E o humano-deus

novamente nasceu,

no silêncio da noite escura,

e houve gestos de ternura

a afagarem o deus-menino

para sempre pequenino.


E nessa humana frágil condição

vive a glória do perdão.



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Pensamento breve




Já não há mais o tempo.

Agora os dias correm um a um

inteiros.

É esta a minha eternidade,

momento a momento,

que eu te ofereço, Caminheiro!,

como quem oferece o luar de janeiro.



terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Noturno




Eis a rosa florindo na noite

deste inverno

como se não fosse efémera

a sua existência

num universo onde só há o mistério

e o Sul sidério





segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Dia luminoso




As linhas de luz

atravessaram as muralhas

que cercam as cidades neste inverno

e o dia foi de luz foi eterno

tanto que floriu de novo a esperança

como se em cada regaço

se embalasse uma criança



domingo, 21 de dezembro de 2014

A mais longa distância




Gélido e frio

na luz

o dia foi de inverno

e minha alma sossegou enfim

e talvez ainda mais longe esteja de mim






sábado, 20 de dezembro de 2014

Prece




Deixa que me cerque o presente

das horas invioladas

e que a angústia não mais me perturbe

rente à madrugada

deixa que seja eu um rosto

na multidão

um rosto livre

pronto para dar a mão







sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Acontecia




Acontecia ver

nesta distância adulta de saber

um castelo de duendes

e de fadas

na tormenta

das mais gélidas madrugadas


Mas hoje só o real

toma conta dos meus sonhos

tanto que são apenas breves e tristonhos





quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A palavra




Virá o inverno

e a palavra será como um lume

que conforta

mesmo que a alma esteja morta





quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Um gesto




Naquela ânsia de procurar

apenas por um gesto

aguardava

desde tão pequenina

que ficou para sempre

imóvel perdida numa esquina





terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Fragmentação




Anseio pelo inverno

frio saído da escuridão

nebulosa do desassossego

que existe no interior de cada ser

como quem suspeita que cada fragmento

do tempo é eterna memória

do homem e da sua história





segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Talvez seja só cansaço




Talvez seja só cansaço

um cansaço sem frio

e sem compaixão

por ninguém

um cansaço que adormece

e acorda comigo

como se fosse uma espécie de abrigo



domingo, 14 de dezembro de 2014

Rio de palavras




Era um rio de palavras

uma torrente esperançosa e quente

essa que se soltava

quando entre a gente

eu vivia como se o viver

fosse um eternamente



sábado, 13 de dezembro de 2014

Regresso




Regresso

sem ter partido nem chegado

aonde as fontes jamais secam

e aonde as gentes permanecem

iguais embora o tempo não volte mais



domingo, 7 de dezembro de 2014

Veleiro




Talvez seja breve

este instante de revolta

agora que não existe senão o caminho

do mar

e tão claro e límpido

no céu sereno

o meu pensamento é um pássaro

que voa

de terra em terra

descobrindo na humana miséria

a essência do porvir

e de existir



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Alvorecer




É de vento este caminho

em que cada passo

é tão titubiante

como o futuro distante




sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Momento




Qual madrugada

rompendo na alma

é de sossego o meu permanecer

neste mundo e neste viver



domingo, 16 de novembro de 2014

Límpida Tarde




Não desejaria um outro horizonte

nem um outro céu

pois nada é mais perfeito

na natureza

do que esta Azul beleza

à deriva

como procurando Deus


 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Recomeçar




Mesmo que seja turvo

o presente,

não desesperes

e recomeça,

porque, por cada vez que

se inicia,

nasce uma rosa

como por magia.


 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O Canavial


Tradução de The Reed Bed de Dermot Healy,
poema gentilmente cedido, na sua versão inglesa,
 por Matt Waterson

É assim com os canaviais, diariamente

eu passo por eles,

mas, no instante em que me afasto

e o sussurro pára

algures atrás de mim,

por entre as árvores flutuantes,

eles deixam de existir.

E, então, eu começo

a divagar sobre o que é que eu perdi.

Que coisa era aquela -

essa coisa importante -

que eu deixei para trás de mim,

na estrada dos sonhos?


E, então, chega o momento,

quando regresso a casa,

de voltar, por acaso, pelo seu caminho;

e lá estão eles,

os familiares que eu perdi na manhã,

agora firmes, ao lado das árvores escuras

que assinalam o limite do canavial,

um agitado campo de canaviais âmbar,

qual tufo de penas, frágil, convocando-me.


E é quando eles verdadeiramente existem,

quando te aproximas,

no último momento,

e o olhar subitamente se apercebe deles,

cabeceando no seu leito de canela,

aprontando-se, numa agitação sussurrada,

por estarem de novo aqui.


 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Recolhimento




As portas vão-se fechando,

em redor dos pátios,

e o silêncio cá fora

na manhã

lembra o silêncio

dos grandes mosteiros

em oração.


Apenas falta a água

numa fonte correndo:

murmúrio de cada hora fenecendo.




 

domingo, 19 de outubro de 2014

O rosário das horas




Que madrugada é esta?,

que emerge da noite escura,

sem piedade nem ternura.


Que madrugada é esta?,

sem demónio nem deus

nem inferno nem céus.


Que madrugada é esta?,

Caminheiro, diz-me,

se é um rosário de horas,

que eu desfio, quando tu,

devendo, não choras.







sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Destino




Como um rebanho espalhado 

pela encosta, eu sinto

aquela paz e quietude

de quem não tem senão na Fortuna

a sina de ser

uma luz do entardecer.



quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A raiz




Nunca é tarde.

Pois até mesmo na morte,

no olvido mais profundo,

permanecerá

a tua natureza no mundo.





segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O dia que chove




Passou a tempestade,

e, agora, o dia clareou de verdade,

como esquecendo

que até o universo vai morrendo.


E haverá talvez o dia em que nem chove

nem clareia e nem haverá uma nova ideia.





sábado, 11 de outubro de 2014

Strange restlesness


Tradução de Matt Waterson

Morning dawns beneath the trees of my yard,

paler, and more leisurely now.

But inside of me is a lament that cries out

for this no longer being the first day,

when I gathered in -

with my soul aflame -

that first hope one feels,

at the commencing of a new path.



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Agora... e para sempre...




Agarro-me, firmemente,

a todas as coisas que têm em si mesmas

uma marca de imutabilidade...

Preciso de um pouco de eternidade

na minha efémera vida

para que esta ânsia

não seja desmedida!




segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A lição




É o mestre, o Tempo,

que ensina

que a certa Felicidade

nasce em cada momento de verdade

como quem caminha,

na maré vazia,

por sobre as algas

e os rochedos

vencendo todos os medos.



domingo, 5 de outubro de 2014

Outonal




A paisagem da janela é sempre igual.

As estações sucedem-se,

mas a colina mantém

a sua imagem de paisagem despida,

inerte, face ao movimento do tempo.


Tanto olho que acredito

que também

no coração dos homens

há uma dureza igual

e que é derradeira: final.



sábado, 4 de outubro de 2014

Entre o silêncio e uma porta




Amo, afinal, o silêncio.

Mesmo o silêncio mais duro

e frio, dos dias que escorrem

para o esquecimento.

Amo o silêncio sem lamento,

como, se das sombras

de qualquer momento,

não emergisse senão a paz.


Por isso, se baterem, não abrirei a porta,

deixarei, qual coisa morta,

o silêncio ser o meu amor sem fim.



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O que resta...




Nada... senão a esperança

no meu olhar,

esperando ver-te,

na mais límpida madrugada,

percorrer a estrada

que para ti estiver traçada.


Mas, hoje, é tão escuro e cinzento o céu!







sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Céu imenso




Talvez chova, sem cessar,

aqui neste lugar

neste final de um verão

sem imensidão.




segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Regresso




Regresso às madrugadas

fugidias,

onde os rostos são mais lânguidos

e dormentes

nesta hora matinal,

sem da Luz ainda haver sinal.







sábado, 13 de setembro de 2014

Triste condição...




Se nem os deuses, Senhor!,

escapam ao martírio da Dor,

como posso eu?, humanamente,

no dia a dia de toda a gente,

sonhar com a libertação

da torrente da minha imaginação.



quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Estranha inquietação




Por sob as árvores dos meus pátios,

a manhã desperta mais branca e sossegada

agora.

Mas há um pranto que dentro de mim chora

por já não ser este o primeiro dia

em que colhia

de alma ardente

a primeira esperança que se sente

ao iniciar um caminho novo.





quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Variações




Copiosamente choveu

como se uma breve tempestade

lavasse rosto a rosto

a saudade do mês de agosto.



segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Os plátanos




Pareceram-me, hoje, mais silenciosas

as árvores, como se o Longe

permanecesse

no silêncio dos pátios vazios.

Triste sinal.

Afinal, é aqui que tem lugar a minha vida

ao lado destas árvores envelhecidas.






domingo, 7 de setembro de 2014

Gentle mystery

Tradução de Matt Waterson

Mother...you who forgives

every misdemeanour,

hold me again to your breast

and rock me as if I was

a child once more

who has in their eye a star

and a confidence.




sábado, 6 de setembro de 2014

One day, perhaps...

Tradução de Matt Waterson

Perhaps, one day,

the morning news

will not announce the violence of war

and I will wake you,

as I did when you were a child,

singing the song of destiny -

of a joyful day.

And you will smile at me

as if to say,

thank you, for Love - and for Peace.



sexta-feira, 5 de setembro de 2014

The Illusion

Tradução de Matt Waterson

Perhaps it is in Summer

that time

passes more slowly

without commiseration

and I, conscious of this darkness

deceive myself with the thought of a

mathematical eternity

as if this life was ecstasy.



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

The Hill

Tradução de Matt Waterson

Here, at the foot of the hill,

I could, if I so wished, go up to the top

like he who searches for a source

or Adam’s paradise.

But, no. Instead -

I forget, and stay put.

And it is surely for this reason

that I know not my heart.




quarta-feira, 3 de setembro de 2014

White page

Tradução de Matt Waterson

The page that I have yet to write

loiters, somewhere here, between the hills and

the valleys,

and waits only for

a time to come,

for a new feeling




terça-feira, 2 de setembro de 2014

That light

Tradução de Matt Waterson

Late afternoon,

The light of late afternoon.

And this cross, My God!

seems lighter,

at this hour,

even knowing

that no one cries for me from Afar...

What beauty, the fading light

which appears to linger timelessly!




segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Silence and sun

Tradução de Matt Waterson

In the cosiness of summer,

I meditate on a verse

that gives consolation

from the cold dark night

of this world,

where a man can lose himself

in an instant




terça-feira, 26 de agosto de 2014

Noite dentro




Não há, na noite,

vestígios da madrugada.

Por isso, quando, de súbito,

o céu clareia

e se vê o horizonte

parece que o universo

não é senão uma vastidão

onde, frágil, se abriga a nossa emoção.





segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Silêncio na tarde




Já não sinto saudade.

A realidade é tão de outra natureza

que não há lugar para a tristeza

da lembrança

do tempo ido

em que tudo tinha sentido.






domingo, 24 de agosto de 2014

Cidade branca (domingo)




Brancas ruas quase desertas

e, ao longe, e mais perto também,

o toque breve dos sinos.

É dia de missa.


Deleite, quase perfeito,

(sinfonia da Palavra

e o cântico de vozes singulares)

a lembrar o pungente destino do Homem.


Não é possível, aqui, não ser eu gente de Fé.











sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Desafio




Talvez que Deus não seja senão

esta Paz sublime

que habita o Coração,

quando a Razão

sem atropelo

desfaz da vida o novelo.






quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Sortilégio




E o dia desliza suavemente

saído do ventre

da noite,

quando amanhece.

Talvez por isso as gentes

da planície tenham um olhar sossegado

como se a morte estivesse sempre a seu lado.









terça-feira, 19 de agosto de 2014

A realidade (nova)




A minha alma desponta

renovada (do seio da planície)

para esta mesma estrada


que  sempre percorri

mesmo quando um dia nela morri.












segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Instante




Porque é maior o céu, aqui,

neste outro lado do Tejo,

enfim posso rezar

como quem só sabe o murmurar.



domingo, 17 de agosto de 2014

De partida para o Sul




As naus que singraram nas tormentas

navegaram para o Sul

onde era o abismo

e eu cismo

que nesse para Além

dos rochedos

reside uma estranha Paz

de que só o homem é capaz.



sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Sobre os dias




O tempo ficou imóvel

e não nasceu o sol pela manhã.

Somente a densa escuridão

cercando as estrelas longínquas.

Somente o silêncio de espanto

dos homens agrilhoados.

..........................................................


Foi ilusão ou é a realidade?,

de quem busca um sonho,

mas já é tarde!











segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Silêncio e sol




Neste aconchego do verão,

medito um verso

que console

da escura noite fria

deste mundo,

onde um homem se perde

num segundo.



terça-feira, 5 de agosto de 2014

Página em branco




A página que ainda não escrevi

espreita, por aqui,

por entre as colinas e vales,

e está só à espera

do porvir

de um novo sentir.



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Alexandria




Que mistério profundo

é este o de findar

e estranhamente acabar

e não ser senão

longínqua recordação

de um tempo

ou de outra estação.



domingo, 3 de agosto de 2014

A colina




Aqui, à beira da colina,

podia, se quisesse, subir ao monte

como quem procura uma fonte

ou o paraíso de Adão.

Mas, não. Ao invés,

esqueço e permaneço.

E deve ser por essa razão

que eu não sei do meu coração.











sábado, 2 de agosto de 2014

Ditirambo




Não há distância. Apenas o longe,

oriental,

para quem se senta num quintal.



sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A ilusão




Talvez seja no verão

que o tempo

mais lentamente goteja

sem comiseração

e eu, ciente deste negrume,

iludo-me no pensamento da eternidade

matemática

como se a vida fosse estática.



quarta-feira, 30 de julho de 2014

Um dia, talvez...




Talvez, um dia,

o noticiário da madrugada

não anuncie a violência da guerra

e eu possa acordar-te,

como quando eras menino,

cantando a canção do destino

de um dia feliz

e tu me sorrias,

como quem diz,

obrigado, pelo Amor e pela Paz.



domingo, 27 de julho de 2014

Terra chã




Acordo na densidade do nevoeiro,

e a penumbra

obscurece, na manhã, os prédios

ainda tão silenciosos;

por isso sonho a eternidade

e penso que talvez seja verdade

que nunca é tarde.





quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ousadia




Que ousadia é viver

sem mais ter

que este vento que vem

de Norte

e que nada pode contra a sorte!



terça-feira, 22 de julho de 2014

Retrato da humanidade




O terror dos dias da guerra

atravessa este meu quotidiano

de silêncio e luz,

que desponta logo pela alvorada.

Mas sei uma outra madrugada

feita de dor

na minha longínqua distância

que há entre a morte e a infância.












sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ofício




Para o mal da humanidade,

nem todo o homem exerce uma arte,

que mais não seja

a de podar a braveza dos ramos

dos seus desenganos.








quarta-feira, 16 de julho de 2014

Neblina ao entardecer




Todas as palavras vãs

se perderam

logo no momento em que nasceram;

 e tu, mesquinho humano ser rastejante,

fazes da palavra um só instante.








terça-feira, 15 de julho de 2014

Confiança




Acredita, mesmo que tão contrária

seja a realidade,

pois a força do teu crer

faz acontecer.





segunda-feira, 14 de julho de 2014

Escreve Deus direito




pelas tortas linhas da vida,

tanto que é no revolto mar

que há sempre

um paraíso para achar.



domingo, 13 de julho de 2014

Viagem




De madrugada,

é mais silenciosa a estrada,

por isso cada peregrino

colhe na manhã

a brisa sã

do seu viver.


E chegado ao fatal destino,

o pobre peregrino,

no tempo certo,

descobre que não há distância -

é tudo perto.






sábado, 12 de julho de 2014

Olhares




Impiedosa, a marca do tempo

no rosto, macera

o Ser - mas, tal como a chuva

de agosto que limpa o pó das estradas,

eu canto a límpida madrugada

em que um sorriso

feliz

regenera

como se houvesse

novamente uma primavera.






sexta-feira, 11 de julho de 2014

Rua de Évora





Que encanto!, saber

que existe

uma manhã e um anoitecer

nesta minha rua

que antes já foi tua.













quinta-feira, 10 de julho de 2014

Momentos




Antes de vir a noite

dos séculos,

quero  adormecer ainda

no teu regaço

sem tristezas nem cansaços.









quarta-feira, 9 de julho de 2014

Coração




Nas arcadas da cidade branca,

bate um coração

mais vivo,

que sabe que a solidão

é só o estado

de não ter memória do passado.



terça-feira, 8 de julho de 2014

Planície




Naquele longe

onde a terra toca o céu

esconde-se todo o sonho meu

e a realidade é como uma brisa

ligeira de tão passageira.



segunda-feira, 7 de julho de 2014

O Sul




Cheguei a Sul

e logo o Tempo abrandou

como se a nova rota

derrotasse

no fluir do dia

por magia

o rito

das horas que se vão

numa pura exaustão.







domingo, 6 de julho de 2014

sábado, 5 de julho de 2014

Recado




Não penses no entardecer

nem na hora de morrer,

mas resgata

cada dia

com uma ação

escorreita e sadia.



quinta-feira, 3 de julho de 2014

Estival




Na orla da praia, o mar

parece esquecido

de toda a sua braveza

e de tão calmo, numa leveza,

faz-me sonhar

com um castelo de areia,

onde, com toda a majestade,

posso brincar ao fim da tarde.






quarta-feira, 2 de julho de 2014

Jardim




Os mais brandos pensamentos

são como flores

que crescem

e que enfeitam um jardim

lindo

que a Vida nos oferece

mas que a gente parece que esquece.





terça-feira, 1 de julho de 2014

Realidade




Horas que passais

levai-me, no vosso sonho breve,

para esse Além,

sem tempo nem demoras,

onde tu nunca choras.









segunda-feira, 30 de junho de 2014

Silêncio na tarde




Sonho a Paz

neste silêncio belo e quase irreal

que acredito se estende pela eternidade

como uma esperança que em mim arde.



domingo, 29 de junho de 2014

Lembrança




Vai trilhando a estrada

e colhe, a cada madrugada,

a lembrança

do dia antes que passou.

Talvez assim nunca te esqueças

que o recomeço

é a única vitória

do homem e da sua história.



sexta-feira, 27 de junho de 2014

Clareando




Há de haver um dia mais claro,

na minha vida,

nascido da promessa

de serem os dias desiguais

para quem, como eu,

sonha até mais...



quarta-feira, 25 de junho de 2014

Fim de tarde




Fim de tarde igual

ao começo da alvorada,

em que a luz,

difusa e quebrada,

me espanta neste verão

como numa oração.


Por isso, neste início do entardecer

não quero mais do que permanecer.



terça-feira, 24 de junho de 2014

Dia de São João




Como no florir de uma roseira,

sorrias candidamente...

e eu, menina ainda,

ignorava que haveria todo este tempo

da eternidade

e que um dia

pudesse ser demasiado tarde!



quinta-feira, 19 de junho de 2014

Percursos




Quem sabe dizer?,

porque há para alguns seres

uma sombra na vida

que é maior

do que a própria tristeza

da humana natureza.



domingo, 15 de junho de 2014

Sossego




As horas passam devagar

e sem angústia

porque toda a paz destes campos

está presente na Casa.


E a Casa representa a dimensão

maior do Amor

que como uma rosa

rejeitada

perdoa o não ter sido amada.



sábado, 14 de junho de 2014

Estrela





Calcorrear quilómetros

de estrada

para no ponto máximo

da linha do horizonte

trocar uma estrela

por uma fonte

e oferecer ao mundo

uma luz sempre de alvorada.


 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Planície




Sem o sol, serias apenas

uma imensidão lunar,

sem o mistério

do alento

que vivifica até o homem sedento.













quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Sul




Quando Ulisses partiu de Ogígia,

remou, ao princípio,

na soberba lentidão

do mar sereno

dos deuses;

mas estava seguro

que o aguardavam as ondas bravias

e mortais

que o atingiam a si e aos demais homens

seus iguais.




 

domingo, 8 de junho de 2014

Aquela luz...




Fim de tarde.

Luz no fim de tarde.

E esta Cruz, meu Deus!,

parece mais leve,

nesta hora,

mesmo sabendo

que ninguém por mim no Longe chora...

Que bela!, a luz do entardecer!,

que até parece que não há de desaparecer!




sexta-feira, 30 de maio de 2014

Promenade




Que fatalidade!,

correr um vento gélido

na tarde,

que não dá descanso

a este destino

de crescer

e já não ser menino.



domingo, 25 de maio de 2014

Por um instante...




O teu sorriso de bela giaconda,

na fotografia, atravessa todo este

tempo que medeia entre a tua juventude

e a minha velhice e vem-me trazer algum alento...

Por isso, por um instante, nos rostos confundidos,

ganham as dores do mundo profundos sentidos.



quinta-feira, 22 de maio de 2014

Na multidão...




Floriram os jacarandás;

e, na sua anónima

rota, ninguém repara

nesta imensidão lilás

que só a mim me compraz.


Multidão!, vazia e fria,

ergue para o céu o olhar

e, por um instante, pára o caminhar.









quarta-feira, 14 de maio de 2014

A casa do sul




Morada branca

e silenciosa

- réstia de amor e de paz.

Pudera eu nunca ter crescido

e sempre como criança aí vivido.







domingo, 11 de maio de 2014

Dia claro




Há momentos em que a linha

do pensamento

é tão nítida

que até parece

que um Homem novo

nasceu

e que não há força que o derrube

mesmo que seja cada dia

uma jornada bravia.






quinta-feira, 8 de maio de 2014

Rememoração




Desfiei o fio dos anos

e descobri, a cada página

que virei, que sempre

só por medo

é que não me achei.








segunda-feira, 5 de maio de 2014

Sombra e luz




O meu pensamento é um novelo

emaranhado nas sombras

da vida!,

quem dera

o fim da tormenta,

que na sombra se sustenta,

e ver o raiar da luz.









domingo, 4 de maio de 2014

Suave mistério




Mãe... tu que perdoas

todo o descaminho,

toma-me outra vez no teu colo

e embala-me como se eu fosse

de novo a criança

que no olhar tem uma estrela

e a confiança.









quinta-feira, 1 de maio de 2014

Mirante




Esta simples encosta deserta

recorda-me, do distante mundo,

cada lugar que não visitei,

mas que estranhamente parece que sei.




terça-feira, 29 de abril de 2014

Silêncio




Deve ser assim na eternidade

um silêncio luminoso

na tarde

como vogando

de memória em memória

de momento em momento

na liberdade absoluta do pensamento.















segunda-feira, 28 de abril de 2014

Abril




Quando, na primavera, a liberdade

flora, cada cravo

daquele outrora

passado

está presente ao nosso lado.


Contudo, nem sei já se agora floriu,

e, quase acabado este abril,

sem os cravos rubros

da vitória,

é só uma mancha de memória

a límpida madrugada

prometida

perdida nos caminhos desta vida.







domingo, 27 de abril de 2014

Revisitação




Ao lugar aonde um dia

fui feliz,

porque voltei?,

procurando, nas fráguas

e nos penedos,

qualquer sinal da lembrança

de aí ter sido criança.








terça-feira, 22 de abril de 2014

Firmeza




Qual botão de flor desabrochando,

certo e seguro do caminho

da vida,

assim eu, nesta primavera florida,

acrescento novo sentido na existência

buscando apenas a verdadeira essência.





domingo, 20 de abril de 2014

Domingo de Páscoa




O renque de árvores

floresce, nas traseiras do prédio,

e é sinal da renovação

da Natureza.

Por isso, imagino que tudo está certo

no meu destino,

tal como a Cruz daquele Messias

que dizem que aos Homens amou

e que, sendo Deus,

humanamente confiou.



sexta-feira, 18 de abril de 2014

Regresso




Regresso e trouxe um pouco

do sol no Coração

e também, no olhar,

aquela vastidão sem tempo

medido,

sinal de que

o que é amado não pode ser esquecido.









terça-feira, 15 de abril de 2014

Persistência




Ainda que sempre

a Vida se negue à tua frente,

não desistas, e persiste,

pode ser que esteja do teu lado

a Razão - ainda que a Vida diga que não!

















segunda-feira, 14 de abril de 2014

Momento na tarde




Medito, agora,

debruçada

sobre estas flores colhidas,

que há amores

que permanecem

mesmo quando as vidas

deles se esquecem.











domingo, 13 de abril de 2014

Essência





Este horizonte

mais vasto

faz-me crer

na ilusão de o sol não morrer.


E, assim, no eterno e infinito

do universo, vive

na sombra

cada verso.



sexta-feira, 11 de abril de 2014

Dispersão




Colhe o dia!, e deixa

que inteiramente as horas

sigam o seu curso incansável -

pois, talvez, haja um momento

de súbita harmonia,

em que como uma flor colhida

encontres o teu destino na vida.



quinta-feira, 10 de abril de 2014

Inteireza




Pode um dia ser maior

do que o tempo

do pensar?,

mão côncava inteira

cheia de certeza verdadeira.



quarta-feira, 9 de abril de 2014

A Sul





Quem dera a certeza

de ser aqui

que estou mais próxima de mim...


 

domingo, 6 de abril de 2014

Fim de tarde




Enfim... debruçada da janela,

toco os raios de sol

e há nisso uma tal satisfação

que tudo o resto

se torna enfim... uma ilusão.



sábado, 5 de abril de 2014

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Princípio




Chove. Mas é branda a monção.

Talvez que, assim,

nesta suavidade do momento

desperte o novo sentimento

e, alentado,

num resguardo sossegado,

nasça em mim, em cada dia,

a inspiração para uma prosa sadia.








terça-feira, 1 de abril de 2014

Vidas




Mais um dia tão ligeiro

que nem parece acontecido

como algo novo e com sentido.


É uma dormência que me envolve

e me enovela, sem que eu saiba sair dela.



domingo, 30 de março de 2014

Momento




Sem luz, o mar não é

aquele mar

que se agiganta no meu pensamento

para além da fugacidade do momento.









sábado, 29 de março de 2014

sexta-feira, 28 de março de 2014

De tarde




Afastado o manto da sombra

da manhã,

a tarde descobriu-se num azul radioso,

lembrando que, afinal, é primavera

e que toda a dor é simples quimera.



quarta-feira, 26 de março de 2014

Notívago




Sem silêncio não seria a noite

o momento do descanso

imperioso,

tanto que agora

há um verso que escrevo

com demora

saído da imensidão do breu

e já até parece que me esqueceu.





segunda-feira, 24 de março de 2014

No horizonte




As aves vogaram para o longe

e, no horizonte,

só ficou a discreta linha

separando,

por isso só com a alma demando

a árvore e o mistério

que estão para além

do meu ver

e do entendimento do meu ser.





domingo, 23 de março de 2014

Branda solidão




Das horas sós que passam

nada direi;

antes evocarei a triste condição humana

do ser tão frágil

o homem na sua viagem.






sábado, 22 de março de 2014

Ad infinitum




Terá havido um começo?,

ou vogamos nós e o universo

na singularidade

de sempre ser numa eternidade.



sexta-feira, 21 de março de 2014

O poema em liberdade...




Na sala, contígua aos grandes pátios

abertos, o vozear das palavras

dos versos

pertenceu aos mais jovens;

e, por breve tempo,

libertos do jugo eletrónico,

os poemas

palmilharam os caminhos do pensamento

tão semelhantes aos dos do julgamento das almas.





quinta-feira, 20 de março de 2014

Primavera




És o primeiro sinal de que hão de

florescer os campos

tanto quanto

a minha alma sempre vestida

do imenso verdor

que têm o campo e o amor.



quarta-feira, 19 de março de 2014

Quietude




Para quê o movimento?,

se tudo se desfaz

num lance de vida que é certo...

mas ainda assim o homem

percorre os difíceis caminhos

e desbrava a imensidão do Longe

como se fosse lúcida

cada sua jornada

e houvesse, no fim, mais do que nada.






terça-feira, 18 de março de 2014

Mar




Tão perto o mar é,

que sinto como que o balanço da maré

na encosta aqui ao pé.



segunda-feira, 17 de março de 2014

Entardecer




Agora que se avizinha a primavera,

o entardecer começa a ganhar o encanto

das noites quentes

em que estão mais acordadas as gentes.



sábado, 15 de março de 2014

Densidade




Há dias de luz e sol

mais densos que as manhãs

tormentosas e frias e invernosas,

sinal de que é sempre dentro de nós

que o horizonte clareia.

.....................................................

Mas, agora, a música e as vozes na rádio

preenchem este momento

em que a Paz rompeu a densidade

do querer obsessivo de procurar a verdade.





quinta-feira, 13 de março de 2014

Demando




a estrada mais reta, para que, na pura

retilínea exatidão, eu possa achar

só quem queira

uma vida primeira.





quarta-feira, 12 de março de 2014

Vigília




Não chegar a adormecer

e assistir ao passar das horas,

noite dentro,

como se da noite nascesse o alento

para, na espera da madrugada,

ser como uma ave que se espanta na alvorada.




terça-feira, 11 de março de 2014

Maravilha na tarde




É março e a esplanada

radiava de luz e sol,

na tarde lenta,

tanto que aí sentada

a Vida me pareceu descansada

e o pesadelo das dores

que há no mundo

foi tão passageiro

que não durou senão um segundo.






domingo, 9 de março de 2014

Nó górdio...




Há mais maresia no teu olhar

do que em todas as praias do mar,

mulher!, que ainda sentes as dores ancestrais

de toda a espera servil

e que, só para ti, ainda não houve abril.



sexta-feira, 7 de março de 2014

A palavra




Reflexo de um sol

que doira,

deixo-te, Caminheiro, uma palavra

feita de Esperança e de Paz,

só o homem que cresce é uma força capaz

de mover toda a pedra do caminho

e de retirar à rosa o seu espinho.





terça-feira, 4 de março de 2014

Travessia




Há vidas que são longas travessias

invernosas, sem que uma flor mimosa

brote num canteiro

e nem o sol brilhe no cimo dum outeiro.


Mas, ainda assim, vale a pena acreditar

que se caminha para um perfeito lugar.







sábado, 1 de março de 2014

Aditamento




Há sempre uma vastidão

no olhar,

quando, súbita, a manhã irrompe

triunfando da noite escura,

e, nesse momento, sem amargura,

o homem vive porque vive e não porque dura.







quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Dispersão




Na última fronteira do cansaço

das coisas da existência

resta apenas

um vazio

que se confunde

com esta chuva e com este frio!





quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Desejado




Disseram-me, ontem,

que não chegarás da bruma

e que, na ilha onde te escondes,

os teus passos são de lassidão...


Temos, então, nós, de ter a coragem

de te sonhar num sonho desperto

e insurreto

que ofusque a distância

entre o homem e a sua infância.



terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Mais perto do céu




Se eu habitasse uma mansarda,

estaria mais perto do céu

e, na neblina da manhã,

haveria sempre

uma esperança chã

que tu viesses, ó Rei,

defender o povo e a grei.




segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Indícios




Ó árvore florida,

tão contrária à estação,

e que crês na renovação dos tempos,

és indício do momento

em que o sol rasgará um céu sedento.








domingo, 23 de fevereiro de 2014

Quietude




Dorme, Coração, na eternidade

da Paz

como concha que se desfaz

numa tempestade invernosa

como a pétala de uma rosa.



sábado, 22 de fevereiro de 2014

Arte hoje




Atravesso o jardim da Estrela

e desemboco

no sonho sonhado do artista

e não há realidade que resista

ao fruto da criação:

não somos Nós também ficção?






sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Onda incerta




Onda a onda corre o mar

para um longe

que é só saudade

de um tempo

em que fui feliz de verdade...




quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Abismo




Kiev!, onde estão os teus cravos

nos canos das espingardas?,

para que seja mais límpida a madrugada

que emerge, vinda do infinito que por nós todos

chama, pátria só é pátria, quando se ama.





terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Longínqua manhã




Da madrugada agora distante

relembro o alvorecer

claro e frio

prolongado no meu pensamento

até esta hora

como se o dia

nunca se fosse embora.



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Desigual




Rente à minha morada

e existência,

vejo, nos outros, um florir...

E, então, acredito num caminho

ainda por vir,

em que provarei

de mãos côncavas e abertas

a água límpida das descobertas.



sábado, 15 de fevereiro de 2014

De os dias serem assim




tão sedentos

que nem a copiosa chuva sacia,

deixo-te uma palavra Caminheiro,

tu, que segues sem mais nada

que não o bordão,

uma palavra de afeição.


E, talvez, num dia saído da bruma

desta tormenta, haja um tempo bem fadado,

em que o Sol tão desejado

ilumine todo o ser que é amado.



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Calçada de Lisboa




Atravessando o largo,

noto no empedrado as ramificações

das caravelas e penso

naqueles longínquos mares

anteriores a nós

onde os arvoredos

eram só sombras e rochedos.


Por isso, é bom que o chão

recorde a história do povo à multidão.






quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Triste flor




campestre, que sonhas

com a perfeição

das coisas,

olha, em redor pelos campos,

e vê, na agitação dos ramos,

o desacerto da Vida,

pois é essa a certa medida.



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Recato




Sossega, apenas.

E deixa que o dia suceda a outro,

sem teres pressa nem desgosto.





segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Tempestade




Toda a noite o vento e o granizo

fustigaram aquela janela,

(por onde, na primavera, entra o sol)

e, sem réstias de luz,

tão em trevas

na imensidão do quarto fechado

acreditei que tinha pecado.










domingo, 9 de fevereiro de 2014

Raiz




Minha raiz é meu pensamento

vago,

que, mesmo na tempestade, floresce

como florescem aquelas flores

campestres

ao sabor das estações

sem grandezas nem emoções.



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Coragem




Vive!, mesmo no negrume

da estrada incerta,

e faz da viagem

uma caminhada desperta...



quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Vigília




Na noite,

há aqueles que não dormem

esperando

em ardor pela manhã,

aconchego

claro

de quem só o dia percorre

como coisa que se move.






terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Dia de chuva




Chove. E, na minha alma,

algo se move

num para além

da escuridão do Céu,

qual busca incessante

de todo o ser que é pensante.



domingo, 2 de fevereiro de 2014

Anoiteceu




sem aviso, subitamente a Luz

apagou-se nesta tarde

de inverno,

pois nada é eterno...
















sábado, 1 de fevereiro de 2014

E as horas?




Na ampulheta do tempo,

escorre aquela areia infinita

a qual, fugazmente,

eu atravesso -

e as horas? Parecem, a cada momento,

morrer, como quem só sabe entristecer.



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Por entre o sonho e a realidade




É frágil sempre o começo,

mistério de ser a Luz tão esparsa,

no raiar da manhã,

que o acordar é, afinal, uma coisa vã.



quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Imagem




Casual,

o dia correu

e até me esqueceram

aquelas dores da existência

de tudo não ser senão um sopro de experiência.



terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Aniversário




Hoje, o dia clareou

fugazmente

já na tarde a findar,

tanto quanto o meu olhar

vendo o ror de anos

sem sombras

a passar.


E ainda que fugaz, a Luz,

é suave e me acaricia,

neste porto,

onde permaneço em vigia.





segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um mar inteiro




é uma distância imensa,

quando está alguém ao lado

e não se pensa.



domingo, 26 de janeiro de 2014

Névoa




A paisagem está suspensa

numa névoa

densa e brilhante -

tanto que penso que na Vida

cada caminho

é uma estrela aparecida

para nos dar Luz e Confiança

mesmo quando não se sente

a Esperança.


sábado, 25 de janeiro de 2014

América




Tão longe é a América

dos meus horizontes sonhada,

que tu verás, Caminheiro,

como se o mundo não tivesse

senão uma estrada

comprida,

caminho amplo de descoberta

para quem tenha uma alma aberta.



quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Tempo




Tão súbito!, e tudo não é

senão memória!,

grata presença permanente

que nos acompanha

agora e sempre.





quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Sob os plátanos




Escureceu!, e sob os plátanos

ficou mais silenciosa a noite nascente

como se por entre as árvores despidas

fosse do fundo da noite que nascesse

a Vida.



terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Amanhã




Se não houver senão a chuva

e o frio, amanhã,

imaginarei

do fundo do meu Coração

uma nova e eterna estação

onde não haja

para as gentes a ilusão.








segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O silêncio




O silêncio é o espaço-tempo

do meu encantamento,

é onde mora a saudade,

mais longe do que a eternidade...


Por isso, como num mover só de sombras,

peço-te, pedindo baixinho,

que seja sempre firme

o chão do Caminho.






domingo, 19 de janeiro de 2014

Gélida tarde




O frio que a minha alma

sente veio, assim, de repente,

ao sol do meio dia.

E ficou tão assombrada,

a minha alma gelada,

que se desuniu.

Alma!, feita em fragmentos,

e repartida pelo tempo,

regressa ao consolo da unidade

para eu acreditar na Verdade!





sábado, 18 de janeiro de 2014

Lembrança




E a serra?, perdida

na vastidão do promontório,

que horizonte será o seu?


Pois o meu

tem a largura do mar,

quando aqui me sento a pensar

quanto é tão bom saber amar!



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Tempestade e acalmia




Porque acreditei?,

que após a tempestade,

chegaria a acalmia

de um momento;

se, vendo o meu rosto

no espelho do tempo,

sei que para os deuses não há a lembrança

de derramarem em mim sua esperança.





quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Prece




É o teu rosto inicial,

entre restos de corais

e outras coisas que lembram o mar,

que eu vejo despertando

mal o dia amanhece

como se fosse uma prece.


E, depois, não há senão um silêncio

infindo,

porque o futuro não é ainda vindo.





terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Casa a Norte




Longamente este tempo

em que é inverno

torna sombria

a Casa,

mas é como se germinasse

palmo a palmo

o advento do solicistício

que cria o momento propício

para a chegada da Luz:

e assim é a minha jornada,

nesta longa caminhada,

carregando a minha cruz!





segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

É inverno




mas nos Corações

mais ternos

há sempre uma fonte de Graça

que aquece e enternece

quando um imenso frio passa.



sábado, 11 de janeiro de 2014

Tecendo




A cada dia, acrescentamos

um ponto

e, em cada laçada,

há um vislumbre do passo

futuro

de quando tecido estiver o pano

e pronto sem nenhum engano!



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Veneza




é o paraíso daquelas

almas ainda a abrir em flor,

que se entontecem

com um vislumbre de cor.



quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Dia claro




Foi hoje um dia claro.

E, como à beira dum regato,

colhemos aquela flor da eternidade

que lembra que a passagem dos dias

é mais suave

se houver Amor.


Por isso, na flor que colhemos

lembrámos a morte sem tristeza,

pois é assim a natureza.







terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Penumbra




A casa está silenciosa,

envolta pela neblina

densa

vinda da serra.

Mas os meus passos são firmes

e sei que, em redor de mim,

inexplicavelmente,

cresce aquela luz que vem de dentro

e que é o sinal intangível

do mais raríssimo momento.





segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Dia de Reis




Quando uma Estrela brilhar

no teu Caminho,

segue-lhe o rastro...

Pode ser que anuncie

um milagre da existência

e tu encontres a tua essência.





domingo, 5 de janeiro de 2014

Passo a passo




A estrada tem o Longe

e o Caminho,

que passo a passo

eu percorro

como se sempre

um universo novo

e diferente

nascesse à minha frente.



sábado, 4 de janeiro de 2014

Invernia




Depois da tempestade,

calou-se o vento,

e o meu pensamento

tão desviado da natureza

acertou numa certeza:

sem muralhas no horizonte,

seríamos tão livres como as fontes.











sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ocaso




Às vezes, quando passa uma gaivota

distraída rente à minha janela aberta,

penso que na orla da praia,

ao entardecer,

o mar soa ribombando

contra as grades dos rochedos

como se não tivesse nenhuns medos.






quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Confiança




Anoitece cedo

e, como à beira dum segredo,

imagino num sonho

verdadeiro

o luar de janeiro.



quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Momento




Tal como a corola de uma flor a abrir

assim o novo ano

há de florir.


E nos penhascos

difíceis da travessia

do nosso andar pelo mundo

cada momento é tão apenas súbito

que mal dura um segundo.