quinta-feira, 31 de maio de 2012

Curso do tempo


Maio ido, que se vai;

mas eu recordo vivamente

os rostos e os gestos ancestrais.

Mestras sem voz nem sebenta

sois para mim

como um perfume

de verdade e de imensidade

que exala

de qualquer flor campestre

que não se esquece.



terça-feira, 29 de maio de 2012

Docemente


Capturar uma Estrela

e vê-la,

e adormecê-la no colo...


Eis o instante breve e vibrante,

que sem Longe nem Passado,

mora sempre a meu lado.



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Era uma vez...


e, sem começar nem acabar,

a história se desfez.

Era uma vez...



Búzio, que na aurora prendes

o som do vozear do mar,

sê mensageiro

talvez

de «Era uma vez...».






domingo, 27 de maio de 2012

Sem fim


eternamente, crescerá a árvore

que vejo da minha janela

e, quando o azul do céu tocarem

os verdes ramos, sem fim,

eternamente,

mensageira do assombro,

cantarei.


E só, então, ao mundo, a Paz

em paz há de chegar.



sábado, 26 de maio de 2012

Orvalho


na escuta do coração;

e, singelamente, procuro o caminho

luminoso e puro

onde os Anjos tecem em renda

cada dia como oferenda

para to dar breve e inteiro.


Mas que te dizer?, filho, sobre a caminhada,

sobre a longa, longa, jornada,

em que só, tu és o caminheiro?



sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dimensão


Na escuta do silêncio,

perdi uma a uma todas as palavras.

............................................................

- Lírio, que te escondes,

diz-me, minh'alma mora onde?



quarta-feira, 23 de maio de 2012

Algures


o Tempo... evoca, nas sacadas,

a infância brincada por entre vasos de flores.

Tão longe é

que hoje só me lembra uma aguarela

que simplesmente pintada

fotografasse uma memória desbotada.


Por isso, da janela agora

espreito

apenas o devir

para sentir a náusea

de, afinal, tão curta distância: a velhice e a infância!








domingo, 20 de maio de 2012

Puzzle


Mil e uma peças defronte.


E o caminheiro encontra Alice (a da toca e a do espelho)

e pergunta-lhe, com razão,

se a longa estrada e o caminho

vão para o castelo do Ogre amarelo;

Alice não responde,

e, súbito, sem saber como nem onde,

vê-se apenas no castelo do Ogre amarelo.






sábado, 19 de maio de 2012

Chuva


que cai!, e o meu corpo balança

no algodão

da cinzenta nuvem

como se apenas transmigrasse.


 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Dia da espiga


«As águas dos ribeiros não correm,

o leite não coalha,

o pão não leveda

e as folhas se cruzam»,

diz o rifão popular.


Também, hoje, colhi o meu raminho

que está pendurado no meu lar

a lembrar

o campo e as searas

de um momento por achar...


Mas se o rifão está certo,

há uma hora silenciosa,

em que tudo pára no tempo,

e em que não há verso nem glosa.

E nesse momento - hora súbita -

maio florirá de verdade

tanto, que do campo, entre estrelas,

poderás na claridade vê-las.








terça-feira, 15 de maio de 2012

Lágrima


vertida... descaminho da vida...

e gotejante

lava com fé

o empedrado dos passeios

onde às vezes assento as plantas dos pés

para perceber

onde está enterrada a raiz;

«onde?!», mas  ninguém mo diz.

 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Miserere


Agreste, do fundo do tempo,

voz que clama

em salvação:

«Expiação!».



Sonho doce.

Cantata dormente.

Tão estranha a natureza da gente.


 

domingo, 13 de maio de 2012

Sépia


Goteja a duas cores

da fachada dos prédios sem mirante

a idade triste da vida,

longa, esquecida, perdida.


Mas, na densidade do céu,

quase sépia, que escureceu,

uma fotografia

desponta: rosto a rosto,

montra a montra,

como uma memória velada

num quase vão de escada.




sábado, 12 de maio de 2012

Silêncio


talvez na forma como

a cadência do dia segue

o ritmo das marés de um longínquo

mar.

Chegada e partida

são movimentos da vida, que observo,

neste sossego,

que parece tão eterno

como se não houvesse que uma longa tarde

sem despedida nem saudação

aos que chegam e aos que agora vão.


 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Aula aberta


Vieira foi o mote

da aula que escutei e, de tudo,

registei no rigor de um testamento

tais palavras vieirinas,

«morrer de muitos anos, e viver muitos anos,

não é a mesma coisa».

Tão certos o pensamento e as palavras,

que algo acrescentar

seria inusitada bizarria.


Por isso, hoje, colhi uma flor

e estremeci-a com afeto

como se a morte estivesse perto.



terça-feira, 8 de maio de 2012

Teatro


Em espiral roda, rola, gira

a vida, que tal coisa já acontecida

renasce, ressurge, acontece, vem.

E, mal ou bem, em cena, em palco,

se movimentam os atores.

«É teatro», dizem os Senhores.


Que poder tem a vontade conquistada,

mas mísera e mesquinha,

face à teia rainha?





segunda-feira, 7 de maio de 2012

Palavras


escritas em livro chegaram-me

hoje às mãos...

Ler é  louca paixão,

mas a eterna sedução é escrever;

e ainda que o sentido seja dúbio e o alicerce

frágil, cada palavra que brota

é vitória

e não derrota.


Mar adentro da alma,

palavra, sopro, sonho, calma.



domingo, 6 de maio de 2012

Cristalizações


Branco, branco frágil,

e azul  perpassam no céu...

quando o silêncio da manhã é mais profundo.

Estranha aurora do mundo,

que gota a gota

do orvalho

cristaliza em cada homem

a fatalidade do ser

e nisso se some o viver.



sábado, 5 de maio de 2012

Prodígio


Em três dias, os ramos das árvores

ficaram pejados de folhas, rebentos novos,

como se a natureza eclodisse num momento.


Também o homem

devia subitamente florir,

na sua primavera,

sem dúvida nem espera.




sexta-feira, 4 de maio de 2012

Intervalo


na vida. Pausa breve

para que o destino breve

recoloque as peças sobre o tabuleiro.


É maio, não é janeiro,

e o comboio segue a via;

nele as pessoas vão

entrando e descendo em cada estação.















quarta-feira, 2 de maio de 2012

Da minha janela


aberta, vê-se um rio e um oceano,

todo um imenso mar ainda por explorar...


Os pombos e as avezinhas - as pretas andorinhas -

esvoaçam e chilreiam defronte

como se para lá

tudo fosse apenas alegre e estival,

e, sem sinal de destruição ou guerra,

tão doce a vida na terra...


Por isso, não fecho a vidraça,

e um dia destes embarcarei - aonde aportarei? Não o sei.



 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Maio florido


Será um maio florido,

num recanto de cores, este maio

amanhecido e perdido em amores?


Será, talvez, como tuba canora e singela,

um maio

formoso e vibrante

que o hino que em nós arde

soará por um instante?


Tudo será, enfim talvez,

este maio

que celebra

a colheita e o trabalho

o amor e o coração

e a força na união.


E qual deusa da vida,

em maio, não mais esquecida!