Tarde de domingo

Caminhos sem ninguém

e ao longe a águia imponente

que habita o Coração da gente

cruza os ares da infância

e não há não há distância

 

Contrastes

No céu da imaginação, o Sonho é sempre lilás

porque um deus o faz -

mas a caneca partida e a flor murcha no vaso

são no contraste a minha vida

são o que do assomo em Mim eu faço.

 

Ainda sobre a primavera

Eclodem as folhas verdes na árvore

e, então, percebo

que a vida assim acontece

mesmo que seja estranho,

neste acontecer,

só a minha alma ser a viver. 

25 de abril

Veio à terra a promessa

de que o sol e a chuva nestes caminhos

não mais nos encontrarão sozinhos

e mil homens acordaram

e num abril madrugaram.

 

Num chão qualquer

Timidamente floresce a orquídea,

presa ao chão da terra

por onde caminham os meus passos

e heroicos e gigantes

têm a grandeza dos instantes.

 

Paisagem urbana

É na esquina destes prédios que me confundo,

procurando o jardim

que há ainda dentro de Mim.

 

No ângulo da luz

Parece que estou sentado à beira rio,

vendo o curso de água a passar,

qual espelho fugaz

que me mostra que no entardecer

a luz é uma ave

num voo mais suave.

Nuvens breves

Escolho uma a uma as peças da loiça quebrada

são cacos indiferentes

tocados pelo frio

dum armário vazio.

O verdadeiro silêncio

Goteja dentro de Mim também

a chuva que cai do lado de fora

e a cadência é igual

dentro e fora do meu beiral.

 

Sílaba a sílaba

Encaro o esforço de cada dia

como uma caminhada

ou como se construísse um verso

- passo a passo sílaba a sílaba

tudo se repete e é diverso

 

O sol põe-se tão depressa

Do Norte da casa, avista-se o poente agora 

- e até parece que para sempre

se vai embora o sol e a luz,

quando à tardinha eu perscruto a grandeza do horizonte,

como quem bebe a água de uma fonte,

desejando que os raios de luz

se escoem e eternizem na natureza,

e seja essa a minha certeza.

 

Um nome

Deste-me um nome 

talvez túlipa ou borboleta

para florescer ou esvoaçar

aqui ou noutro lugar.

E sempre na largueza da vida

e no que ela contém

deste-me um nome e eu sou alguém.

 

Final de tarde perfeito

Sento-me a escrevinhar,

sabendo que o sol poente

por um momento não quer abalar

e, então, cheio dessa Luz,

na folha de papel,

a minha Palavra me conduz.

 

A janela na parede

O canto de dor do mundo chega aqui

e está tão próximo de Mim

que até parece estar à minha beira

e talvez seja pecado

tudo estar tão ao meu lado

e eu estar amordaçado. 

Noite limpíssima

Mais pura e limpa a madrugada,

se puder ser encontrada

naquelas palavras que sussurramos com a voz,

quando a Paz está dentro de nós,

e, então, a luz que brilha em luz de um fragmento da lua

de sombras se despe, nua fica

e a noite santifica.

Latitudes

Nas terras altas,  o louco tem abrigo,

pois o Céu

está consigo.

At the door

Vem o anjo da paz a esta Hora,

quando no meu coração

a aflição

e a tormenta

me deixa de si sedenta.

E, então, por um instante que é eternal,

não há no mundo nem dor nem mal.

 

Oficina das cores

Bem-vindo, verso, num dia de sol,

tens mais luz,

e vestes-te de cores,

como se neste mundo fosse perfeita

mesmo a palavra mais estreita. 

Trilhos de primavera

Regresso à Fonte da vida,

que, como um fio de água a escorrer,

liberta todo o meu Ser. 

E é plácida a Hora calma

desta tertúlia que vem da alma

para me encantar aqui neste lugar.

Para além dos dias

A alma, porque a perdi, 

não mais a achei,

nem mesmo quando se iluminam as ruas ao anoitecer

e os caminhos ficam mais claros

para se encontrar

o conjuntivo do verbo amar.

 

A nossa árvore

Pus-me diante dum espelho

e por um instante era eu e outro de Mim

com as mesmas e únicas raízes fundas mergulhadas na terra

então abracei-te-Me

e pude colher o fruto maduro

de um abril futuro.

 

O meio-dia

Ao meio-dia ainda não era tarde demais

para o canto da cotovia

e eu todo o dia esperei

mas do Universo era a lei

que dizia

espera por outro dia pelo canto da cotovia. 

Manhã futura

Ó cheia de graça, mulher divina,

que carregaste uma cruz,

aparece agora plena de Luz

em Todo o campo de batalha

onde o sentir a vida se enxovalha. 

A casa e o mundo

É abril e, neste ocidente,

vigio da amurada

as nuvens que são como castelos de ameias altas

que eu quero que se dissipem

rapidamente

para que o Céu resplandeça

e a hora não esqueça.

 

Não conhecia o Mar

Não conhecia o Mar, antes da onda

que trouxe à areia

a espuma branca e pura

vinda da suma lonjura.

Um pássaro na tempestade

De nenhum pássaro conheço a história,

mas acredito que há um grito

tão humano como o meu,

se sem sonho e aflito

o pássaro se perde no céu.

 

Todos os lugares

Assombro de Te encontrar

em todos os lugares

longínquos

montanha floresta deserto

e no interior do Mar

tão perto

 

Folhas da mesma árvore

É um verso por certo que ilumina a escuridão

e faltam versos

no Mundo

tanto que me confundo