sexta-feira, 29 de junho de 2012

Momento


tão fugaz... uma... duas vezes repetido...

estranho enlace da Vida...

E do que fica na lembrança

é um instante futuro de esperança

que haja, e seja, verdade

acontecida,

uma e uma vidas

unidas.



domingo, 24 de junho de 2012

Dia de São João


À noite, ontem, à noitinha,

dancei, cantei e a fogueira saltei.


Lembranças de outros tempos, quando a cidade

da infância se iluminava em cada beco e em cada rua

para uma festa constante entre adultos e crianças

e os santos das esperanças.


Mas, ontem, tive de percorrer um longo caminho

para ir ao encontro da tradição perdida;

e a estrada, que me levou

ao campo e às gentes singulares,

foi a estrada da jornada,

do caminho dos encontros fortuitos,

que assinala que eu sou apenas um entre muitos.









sexta-feira, 22 de junho de 2012

A ver o rio


na regata dos veleiros,

nem pensei nos marinheiros,

andantes de tantos cais;

antes me ocorreu o devaneio,

nem sei se sonho primeiro,

de velejar como os demais

e partir,

numa regata universal,

por esse espaço sideral,

onde brilham estrelas e astros,

e onde eu fosse de um cometa o rastro

de um desejo a cumprir.








quinta-feira, 21 de junho de 2012

O dia mais longo


se agiganta na tarde.

Olho, então, para dentro e acredito

que algo em mim arde num eterno verão

sem brisa nem alarde. Talvez, se eu sempre

procurasse este tempo tão de remanso,

talvez em mim encontrasse

a alma, o espírito e a natureza

da mais perfeita certeza.





quarta-feira, 20 de junho de 2012

Flipper


Talvez que no universo alietório

do trajeto da bola haja um destino

traçado... tanto quanto num jogo de azar

sair a carta certa para jogar.


Porém me inspira a máquina eletrónica,

capaz de ser um cosmos universal

neste mundo

estranho e desigual.


E autisticamente sigo em frente,

podendo parar e falar,

como uma esfera que rola,

que rola na vida, sempre a pontuar.




terça-feira, 19 de junho de 2012

Instantaneamente


Hoje, o cabo do mundo não mais é distante.

Como num voo de borboleta,

pétala a pétala, flor em flor,

justamente num momento sabemos o que acontece

lá tão longe quanto o império foi.


E aqui, na minha casa,

entre a serra

e o mar,

tenho o mundo à minha beira

sem precisar de navegar.


Assombro do tempo: instantaneamente

conhecemos.






segunda-feira, 18 de junho de 2012

Labirinto


O silêncio e a memória das palavras constroem

veredas neste espaço. E são como grades cerradas.

Dizer «não, não vou por aí»

ecoa no meu pensamento como se, se partida a corda

do sentimento, não restasse

qualquer Verdade

senão mentira e falsidade.


E, então, evoco a epopeia de mim

trágica mas perfeita

em que na sombra do erro

epicamente, bem sei, verdadeiramente gritei.



domingo, 17 de junho de 2012

Ex-voto


Tu, que pela música pelo céu viajas,

pede àquele que te alumia

a força e a proteção

exatas.

Tão exatas como

a resolução de uma inequação,

no instante mesmo

do Solstício de verão.









sábado, 16 de junho de 2012

Resistente


a haste, que há de ser o tronco do limoeiro

de folhas verdes, me surpreende. À canícula

agreste e sem chuva, persiste, solitariamente,

o limoeiro na sua labuta de ser.

Por isso, sempre ao fim da tarde,

quando ao longe, mas tão perto, os chocalhos

do rebanho assinalavam o regresso dos animais dos campos,

ficava eu, num pasmo, olhando o limoeiro, embevecida

naquela tão pura resistência pela vida.


E, então, já nada me espanta.

Nem mesmo ter sido dita a palavra «amor»

como quando se colhe uma efémera flor.



terça-feira, 12 de junho de 2012

Rumo


breve ao Sul. Lá onde

paralisadas as árvores no fogareu

se colhem frutos e flores

no meio de searas

inexistentes.


E se tudo é um sonho das gentes

talvez, lá tão longe, no outro lado,

na Síria, seja sonho também o pecado.


 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Incidência


por certo da luz, mais perto, tocável.

Amanhecer em alba. E as horas do dia

foram exatas porque o tempo não se perdeu

num holocausto que grita

o sacrifício das Horas em nós.


Eterna Criança da sabedoria que brinca,

que brinca, toda a noite e todo o dia.



domingo, 10 de junho de 2012

Tejo


O Tejo, que eu vejo

por entre as colunas do cais,

não abraça o meu desejo de ir

para além e muito mais. O Tejo

da longuíssima distância, constante

nos meus pensamentos, é como o Anjo

zelador que conhece a nossa dor.


Por isso, num dia como o de hoje, Tejo,

te invoco em esperança

e em tributo da saudade

que havemos

do mar jamais ser sereno.









sábado, 9 de junho de 2012

Rota do vento


Viagem para longe:

instantaneamente partir e chegar,

sem ter de atravessar uma Lisboa deserta.


Será isto a decadência?,

ou apenas sinal da nossa mais absoluta ausência?






sexta-feira, 8 de junho de 2012

Brincando


com as palavras, num entre trecho,

descubro aquelas que nunca proferi:

e, inaudível, parte de mim

segreda

em cada linha

como se o tempo chegasse ao fim.


Que coragem dizer um adeus!,

para todo o sempre,

como quem promete não mais

olhar um rosto

nem ter um desgosto

nem estar próximo de Zeus.





quinta-feira, 7 de junho de 2012

Arte


Capricho de uma nota só,

na partitura fechada,

tal como o trajeto por uma estrada,

trajeto reto

e sempre igual em dó.



Por isso as duas baianas

pesadas me lembraram do passado

a melodia, dó, ré, mi, fá,

quando tão jovens

ainda

tudo nos parecia uma sinfonia.





quarta-feira, 6 de junho de 2012

Portal


Quando a porta giratória inicia o balanço

de avanço, saio ou em vez

deixo-me ficar?,

como se estivesse à beira do mar?


E a onda de encontro ao rochedo,

na praia deserta,

sem qualquer medo,

revela um segredo...

no abraço que recebo sem o esperar.





 






terça-feira, 5 de junho de 2012

Jacarandás


De luminoso fruto brota uma árvore

imaginária, semente que germina

até ao ser

para na mente se conter.


Sonho de jacarandá

luminoso, quando atravesso

a rua e fica um esteio

violeta da minha passagem,

como se fora um voo de margem para margem.



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Olhar a luz


que entra, neste instante, pela janela,

olhá-la, vê-la, e não saber o nome dela.


Luzeiro!, Sol!, que nome hás,

neste fervor,

do fim de tarde, do entardecer,

tão secreto como o hausto de morrer?





domingo, 3 de junho de 2012

Movimento


No fio de um momento,

parece que toda a vida se esvai;

mas, porém, não é assim,

há um impulso e outro e mais...


Serei eu, hoje, o amigo americano do L.,

tal como a mim mesma sucedeu

há um ano?


Num lapso de tempo, entendo tão bem:

o outro é sempre alguém.


sábado, 2 de junho de 2012

Filtro do olvido


Bebi da taça o filtro,

gole a gole,

como quem sabe

a verdade,

mas prefere esquecê-la.


Triste camaleão!,

desconheces que o tudo

em que te moves é ilusão!



sexta-feira, 1 de junho de 2012

Eternamente


te direi

que este é o mar e naveguei

seguindo uma constelação constante

no teu abraço firme e vibrante.


E assim amo o devir

das fontes

jorrando nas imensas lajes

qual jura de amor trocada

no caminho de uma estrada

sempre bela e  desejada.


Mas talvez que o entardecer

seja a luz do não mais esquecer

para mão na mão te dizer:

meu amor, não há perder.