Novo Palimpsesto
Digressão Poética
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Noite dentro
Não há, na noite,
vestígios da madrugada.
Por isso, quando, de súbito,
o céu clareia
e se vê o horizonte
parece que o universo
não é senão uma vastidão
onde, frágil, se abriga a nossa emoção.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Silêncio na tarde
Já não sinto saudade.
A realidade é tão de outra natureza
que não há lugar para a tristeza
da lembrança
do tempo ido
em que tudo tinha sentido.
domingo, 24 de agosto de 2014
Cidade branca (domingo)
Brancas ruas quase desertas
e, ao longe, e mais perto também,
o toque breve dos sinos.
É dia de missa.
Deleite, quase perfeito,
(sinfonia da Palavra
e o cântico de vozes singulares)
a lembrar o pungente destino do Homem.
Não é possível, aqui, não ser eu gente de Fé.
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Desafio
Talvez que Deus não seja senão
esta Paz sublime
que habita o Coração,
quando a Razão
sem atropelo
desfaz da vida o novelo.
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Sortilégio
E o dia desliza suavemente
saído do ventre
da noite,
quando amanhece.
Talvez por isso as gentes
da planície tenham um olhar sossegado
como se a morte estivesse sempre a seu lado.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
A realidade (nova)
A minha alma desponta
renovada (do seio da planície)
para esta mesma estrada
que sempre percorri
mesmo quando um dia nela
morri
.
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Instante
Porque é maior o céu, aqui,
neste outro lado do Tejo,
enfim posso rezar
como quem só sabe o murmurar.
domingo, 17 de agosto de 2014
De partida para o Sul
As naus que singraram nas tormentas
navegaram para o Sul
onde era o abismo
e eu cismo
que nesse para Além
dos rochedos
reside uma estranha Paz
de que só o homem é capaz.
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Sobre os dias
O tempo ficou imóvel
e não nasceu o sol pela manhã.
Somente a densa escuridão
cercando as estrelas longínquas.
Somente o silêncio de espanto
dos homens agrilhoados.
..........................................................
Foi ilusão ou é a realidade?,
de quem busca um sonho,
mas já é tarde!
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Silêncio e sol
Neste aconchego do verão,
medito um verso
que console
da escura noite fria
deste mundo,
onde um homem se perde
num segundo.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Página em branco
A página que ainda não escrevi
espreita, por aqui,
por entre as colinas e vales,
e está só à espera
do porvir
de um novo sentir.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Alexandria
Que mistério profundo
é este o de findar
e estranhamente acabar
e não ser senão
longínqua recordação
de um tempo
ou de outra estação.
domingo, 3 de agosto de 2014
A colina
Aqui, à beira da colina,
podia, se quisesse, subir ao monte
como quem procura uma fonte
ou o paraíso de Adão.
Mas, não. Ao invés,
esqueço e permaneço.
E deve ser por essa razão
que eu não sei do meu coração.
sábado, 2 de agosto de 2014
Ditirambo
Não há distância. Apenas o longe,
oriental,
para quem se senta num quintal.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
A ilusão
Talvez seja no verão
que o tempo
mais lentamente goteja
sem comiseração
e eu, ciente deste negrume,
iludo-me no pensamento da eternidade
matemática
como se a vida fosse estática.
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