Novo Palimpsesto
Digressão Poética
domingo, 28 de dezembro de 2014
A substância
Não importa todo o clamor
da injustiça atravessada no teu peito.
Não importa,
porque há uma substância
que permanece
mesmo quando o homem se esquece.
sábado, 27 de dezembro de 2014
Todos os silêncios
E, inesperadamente,
Homem!, o teu gesto de paz
rasga a ferocidade do meu silêncio
doloroso, como se um deus descesse do paraíso
e nada mais fosse preciso.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
À sombra das palavras
Esta luz de verão, em pleno inverno,
será breve, bem sei,
tão breve quanto da hora primeira
à última, derradeira.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
Natal
E o humano-deus
novamente nasceu,
no silêncio da noite escura,
e houve gestos de ternura
a afagarem o deus-menino
para sempre pequenino.
E nessa humana frágil condição
vive a glória do perdão.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Pensamento breve
Já não há mais o tempo.
Agora os dias correm um a um
inteiros.
É esta a minha eternidade,
momento a momento,
que eu te ofereço, Caminheiro!,
como quem oferece o luar de janeiro.
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
Noturno
Eis a rosa florindo na noite
deste inverno
como se não fosse efémera
a sua existência
num universo onde só há o mistério
e o Sul sidério
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Dia luminoso
As linhas de luz
atravessaram as muralhas
que cercam as cidades neste inverno
e o dia foi de luz foi eterno
tanto que floriu de novo a esperança
como se em cada regaço
se embalasse uma criança
domingo, 21 de dezembro de 2014
A mais longa distância
Gélido e frio
na luz
o dia foi de inverno
e minha alma sossegou enfim
e talvez ainda mais longe esteja de mim
sábado, 20 de dezembro de 2014
Prece
Deixa que me cerque o presente
das horas invioladas
e que a angústia não mais me perturbe
rente à madrugada
deixa que seja eu um rosto
na multidão
um rosto livre
pronto para dar a mão
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Acontecia
Acontecia ver
nesta distância adulta de saber
um castelo de duendes
e de fadas
na tormenta
das mais gélidas madrugadas
Mas hoje só o real
toma conta dos meus sonhos
tanto que são apenas breves e tristonhos
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
A palavra
Virá o inverno
e a palavra será como um lume
que conforta
mesmo que a alma esteja morta
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Um gesto
Naquela ânsia de procurar
apenas por um gesto
aguardava
desde tão pequenina
que ficou para sempre
imóvel perdida numa esquina
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Fragmentação
Anseio pelo inverno
frio saído da escuridão
nebulosa do desassossego
que existe no interior de cada ser
como quem suspeita que cada fragmento
do tempo é eterna memória
do homem e da sua história
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Talvez seja só cansaço
Talvez seja só cansaço
um cansaço sem frio
e sem compaixão
por ninguém
um cansaço que adormece
e acorda comigo
como se fosse uma espécie de abrigo
domingo, 14 de dezembro de 2014
Rio de palavras
Era um rio de palavras
uma torrente esperançosa e quente
essa que se soltava
quando entre a gente
eu vivia como se o viver
fosse um eternamente
sábado, 13 de dezembro de 2014
Regresso
Regresso
sem ter partido nem chegado
aonde as fontes jamais secam
e aonde as gentes permanecem
iguais embora o tempo não volte mais
domingo, 7 de dezembro de 2014
Veleiro
Talvez seja breve
este instante de revolta
agora que não existe senão o caminho
do mar
e tão claro e límpido
no céu sereno
o meu pensamento é um pássaro
que voa
de terra em terra
descobrindo na humana miséria
a essência do porvir
e de existir
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Alvorecer
É de vento este caminho
em que cada passo
é tão titubiante
como o futuro distante
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