Morrer é sina que acontece.
E, quando anoitece,
e só há estrelas no céu,
do meu Coração sobe uma prece
até ao Coração de deus -
e peço uma nova manhã vindoura,
um novo dia, e novos céus,
que me lancem numa nova vida
sem angústias nem breus.
Morrer é sina que acontece.
E, quando anoitece,
e só há estrelas no céu,
do meu Coração sobe uma prece
até ao Coração de deus -
e peço uma nova manhã vindoura,
um novo dia, e novos céus,
que me lancem numa nova vida
sem angústias nem breus.
Caravelas da descoberta
singram por estes mares sonhados
e os tesouros encontrados
não têm ouros, nem marfins,
nem pedras preciosas -
antes possuem aquela Harmonia
e aquela Paz
que tanta falta ao Mundo faz.
Mais, a cada dia,
atravesso este Sonho irreal
de ser de novo uma criança
sem mal;
mas a lei é dura e inclemente
e a vida é este ofício da gente.
E no instante de ser
e na encosta tão viçosa
colho mais esta prosa.
Já não sei de cor
os versos
que me embalaram na infância,
mas eram poemas lindos
ditos numa oração
que iluminavam o meu Coração.
E hoje desse tempo tão distante
e tão longe dessa poesia
imagino, e é fantasia,
que sei de cor cada palavra e cada verso
e que tudo é inteiro e que nada é disperso.
À lareira antiga,
fogo de chão,
a Criança eterna nasce
para dar ao Mundo o perdão -
e nas palhinhas deitado,
sem mácula nem pecado,
por pobres pastores é visitado
o Menino mais amado.
Abençoada a noite,
meu Irmão,
tu, que comigo partilhas em silêncio
o sossego da eterna Criança dormindo
qual estrela no Céu refulgente
que só o Coração sente.
Invencível o Sol,
floresce a luz,
sublime madrugada
desejada,
que ao Coração humano acrescenta
o Brilho, a Cor,
e um sentimento de destemor.
Serão as aves,
na largueza do horizonte,
mais livres que as almas mais livres?
- voando, como, neste verso,
o Sonho está imerso.
Saído do ventre da noite,
o dia nasce, trazendo
a suma claridade
às coisas prosaicas da vida -
o café da manhã, os transeuntes
nas ruas,
e as dores a que os homens chamam suas.
Ouvem-se, ao longe, os sinos.
É de Paz este lugar.
Por isso, pode vir o amanhecer
e trazer
aquele novo dia
em que a humanidade,
sem pesadelo nem atropelo,
viva a eternidade.
Silêncio no deserto das ruas.
Silenciosa esperança.
Tarda o tempo
do Abraço,
da Tua mão no meu regaço,
e da vívida Alegria
da comunhão em cada dia.
A memória ficou despida,
como se despem as árvores
do peso das folhas ressequidas -
e, agora, mais leve,
e procurando o Bem,
o meu pensamento me leva Além.
As paredes brancas do quarto
ficam mais límpidas,
e luzem,
quando o deserto do Mundo
sem nenhum deus
fica lá fora
e Tu me dás a mão
numa eterna imensidão.
Aonde estão as fontes
em que antes eu bebia,
e era Criança
simples e singela,
como toda a coisa Bela.
Este é o tempo de atravessar
para o outro lado
do espelho
e de partir à descoberta
da magia
e da bondade
presentes
no outono da idade.