O mar é o mesmo -
azul visto do céu infinito -
e a alma também
tal como o sonho que cada homem tem
e assim o mundo se sustém
O mar é o mesmo -
azul visto do céu infinito -
e a alma também
tal como o sonho que cada homem tem
e assim o mundo se sustém
Respiro do sopro sagrado
o alento -
e deixo que o dia entardeça
e deixo que a minha vida permaneça
como uma rosa em botão
que é bela recordação
Há um foco de luz
que teima em atravessar
o negrume da noite
como se uma janela se abrisse
e um luar para mim sorrisse
A chuva cai leve
na tarde que entardece
abrigando a noite -
e de súbito já nem sei das horas -
é neste cabo do mundo
que o silêncio é mais profundo
Quando os pássaros regressarem
e for de novo primavera
encherei o regaço de flores
e espalhando-as sairei pelos campos
trauteando aquela melodia da salvação
que guardo no meu coração
Sigo agora o caminho da memória
e recuo à madrugada
fugitiva
em que lágrima a lágrima
gotejando
e um outro mundo buscando
descobri em mim
uma miséria sem fim
O manto de nevoeiro
é agora mais denso e profundo -
não há já Índias no mundo
nem cais libertadores
nem espadas de senhores -
mas contudo eu sei
que neste recanto de mar
há um horizonte ainda por achar
Doutro lugar te direi
que o dia amanheceu na luz de ti
e que as sentinelas das sombras
não podem escurecer
o brilho do teu ser
quando em ti floresce como uma flor
a beleza do amor
Sossega coração
nada deixes passar em vão -
e se o enredo dos dias te angustia e mata
pensa que o segredo da vida
é a chegada e a partida
É contrário
ao sentido da vida
parar por um momento que seja -
por isso no meio do caos e da dor
ergo um verso em clamor vivo e vibrante
que nasça e morra no mesmo instante
Poucas são as palavras
para Te dizer
que no para Além de cada verso
há uma lágrima perdida
no silêncio da vida
que o Poeta não esquece
quando um novo dia amanhece
A moldura da paisagem
apazigua, tranquiliza,
mesmo no inverno mais duro,
é uma promessa de futuro.
Desfazer a meada em novelo,
redondo, cheio.
Também assim no pensamento.
Pegar num fio da ideia
e enovelar
até que o espírito, bem ordenado,
descanse ao nosso lado.
E a mente brilha, então,
na razão que a conduz,
liberta da sua cruz.
Nevou.
E de branco a planície se cobriu.
E, nessa hora fugitiva,
talvez um sino ao de leve tocasse
e minha Alma se maravilhasse.
É um barco no mar
é uma vela
e se penso nele ou nela
navego eu para o Longe também
no meu pensamento que não é de mais ninguém.
Em um dia assim,
brilhou uma Luz sem fim.
E maravilha de graça tanta
Que ainda hoje o Mundo espanta.
Está uma friagem
de inverno,
mas todo o dia o sol brilhou -
e a pobre?, será que se mortifica
por ver o sol a sorrir, sem ter para onde ir,
quando a noite chegar
e cada um estiver no seu lar?
O rumorejar de uma nora
no silêncio de uma manhã de inverno
desperta-nos para o que é eterno
e imutável -
maravilhosa recordação
de um tempo que não passou em vão.
Em cada rosto companheiro
há uma marca de saudade
de um tempo que era inteiro
e onde havia liberdade.
Éramos então Criança,
e, no lusco fusco de uma claridade,
brincávamos e vivíamos de esperança
mas que bela esta idade.
São mais firmes estas horas
do amanhecer,
quando em bando
as aves voam no ar
e até parece que não querem pousar.
É o tempo de recomeçar,
sem cansaço,
e de viajar até ao mais longínquo
recanto do pensamento
para ser como a avezinha no céu
que abraça tudo o que a Vida lhe deu.