As águas do rio vão correndo
ora lustrosas ora turvas
tanto faz -
pois na saciedade absoluta
do momento
acorda o pensamento.
As águas do rio vão correndo
ora lustrosas ora turvas
tanto faz -
pois na saciedade absoluta
do momento
acorda o pensamento.
Todo o dia choveu.
E ao céu do amanhecer,
tingido da cor da noite
sem estrelas,
faltou a luz solar.
Também assim minha Alma porfiou,
como nuvem que chovesse
a lavar o asfalto negro das ruas
desta cidade
onde vive adormecida a humanidade.
É assim, é um pedaço de Mim
que se solta,
quando, procurando o sol
e a luz de um verso,
encontro apenas
uma negra escuridão
no labor da minha inspiração.
Anoitece
e quase se esquece
a lembrança deste dia.
Também é assim na vida vivida.
Um ror de anos é passado,
o quase inverno espreita ao lado,
e a memória é esquecida
e a dor jaz sem vida.
O rosto e a máscara
de esconder
são no homem o Ser.
Neste instante, em que nada penso,
basta-me da Luz a intensidade perfeita
em que me Alegro
e me Satisfaço
por em Ti, Caminheiro da longa jornada,
ser tão bela e afoita a estrada.
Não enjeites,
dá-me um Abraço
e, depois, solta-o no espaço
como quem solta um papagaio de papel
e, na corrida desta vida, deixa que o Abraço
seja como um laço muito comprido de um fio
que voa até aos Céus e mergulha no esplendor
do paraíso do Senhor.
Deambulo por entre as palavras
pois desertos são os dias
que vivemos -
e mesmo quando queremos
a lua, o sol e o mar
só na tessitura da ideia
veloz e universal
a vida é igual.
Antes que da vida
me esqueça,
beberei da água de todas as fontes
o orvalho do dia.
E, assim, amanhecerá
no meu pensamento
cada instante
e cada momento.
É a Sul
que a imagem
do Caminho é mais nítida -
e, nesse fulgor, de cada passo
que se firma na terra,
há uma Coragem que se descerra.
Busquemos, nesta hora,
o templo perfeito
para saudar a Vida
e saibamos ser da terra o Sal
que guia sem mal.
Colho o fruto luminoso
da palavra
aqui.
E, por entre nuvens e Céu,
éter volátil dos Poetas,
um verso abre o caminho sozinho.
Ainda a chuva lá fora.
Calma e serena, gotejando,
como um Poema celebrando,
parece para o Longe levar
esta angústia sem par.
Sempre o caminho do mar,
lúcido, e desconhecido,
como se tivera amanhecido,
neste instante,
em que a noite se avizinha
e eu perceba que a lua é só minha.
E de repente aquele tempo
foragido e esquecido
ressurgiu
trazendo à lembrança
uma mão cheia de esperança -
é assim num tempo de mim
que a memória não tem fim
Aquela nuvem que não quer
chover encontrará ao entardecer
a minha alma sedenta
desse orvalho
lúcido
que só existe no céu
e que é só meu
A brincar de saltar à corda
a criança permanece criança
e do espanto que há em si
do que o brincar é raiz
nasce na terra uma temperança
flor e fruto desta dança
É íngreme este pensamento
tal penedia da onda bravia
que do mar se solta
e que em luz
volta