A memória de luz
suaviza este momento do entardecer
tanto, que não há choro nem pranto
por mais um dia que termina
em que a rosa no jardim colhida
é apenas um sinal da vida.
A memória de luz
suaviza este momento do entardecer
tanto, que não há choro nem pranto
por mais um dia que termina
em que a rosa no jardim colhida
é apenas um sinal da vida.
Pela tarde fora
o tempo não demora
neste verso de rima pobre
nem no mar que vem
pois tudo é Além.
Na casa da avó, há uma cadeira de balancear
e nela me balanço para ver o Mar
e no ir e vir das marés
tenho a imensidão do Mundo aos meus pés.
De tanto pisar caminho
e de tanta pedra e espinho
senti minha a dor de quem passa
e no mundo não tem
a simples esmola de alguém.
Por isso, meu Amigo, quando deres o óbolo final,
lembra-te que és um simples mortal.
Lê o mundo,
e não te canses,
como se fosse um poema
arrancado do Coração
de um Poeta, triste e só,
que eleva a sua voz.
Ouve, agora, a noite quase sem vento
e, nesse murmurar na escuridão,
desperta e não adormeças,
pois pode ser que te esqueças,
no noturno sono,
da imagem do amanhecer
que luz no espelho do teu Ser.
A quem encontrares no Caminho,
saúda tirando o chapéu largo
e humilde
perante o grande mistério da vida
espalha a Confiança
que trazes num regaço de Esperança.
À sombra das horas fugitivas,
fito o horizonte
e até parece que jorra de uma fonte
meu pensamento sem pecado
límpido
e esvoaçante
como a natureza de cada instante.
Mistério profundo
esta Dor no mundo
de viver
até um entardecer.
Levemente esqueço.
E, então, abre-se em Flor
o Mar
- Alma calma e de paz
e viva no cemitério onde tudo jaz.
Âncora da vida e do Coração
essas mãos perfeitas
abrem-se para Mim
sem que o tempo tenha um fim.
Ó grandes edifícios de betão
das grandes cidades do Mundo!,
que não vedes o entardecer na minha colina
quando o sol se põe
e uma réstia de Luz
pequenina
tinge de um brilho incandescente
este momento do presente.
Bamboleantes, na vertigem da luz,
as árvores cimeiras às minhas janelas
deixam o vento passar por elas
e eu olho e observo
sempre no maior espanto
curvam-se mas recuperam
sempre a verticalidade delas.
De novo, a orquídea floriu
e nessa hora incerta de florescer
nada nem ninguém
sabe da dor que se tem.
No antes do adormecer,
vem o Sonho ao meu encontro
e eu abro os meus braços como num abraço
para o estreitar gentilmente
e nesse Sonho vives tu, peregrino,
que ao arrepio do destino
moras no Sonho que é meu
e Orfeu me encantas
com as tuas palavras tantas.
Se alonga a tarde nestes dias de verão
quando eu procuro por ti, musa inquieta,
na hora mais deserta.
Um dia este céu de noite escura
será estrelado
e a lua terá o sol espelhado
e neste magnífico firmamento
porão os seus olhos os homens por um momento.
A encosta, nesta tarde,
é o meu Sonho de eternidade
e luz nela ao entardecer
um sopro brilhante de Sol
- lindo farol.
Nas ilhas encantadas,
o rei vive
sublime e portentoso
sempre moço
e por tão Longe o Coração espera
docemente e sem dó
e sem medo de ficar só.
Beberei um dia
da água de todas as fontes
e nesses mil horizontes
me sacio
e em Mim correrá um rio.
Mistério de ser e não ser
o destino
o ditame da multidão
pois em cada mão há uma linha cruzada
e entrecortada
que nos diz que a vontade é quase nada.
À amurada de um navio,
sonho a lonjura
deste Fado
que em tanto caminho andado,
mouros, poetas e heróis,
firme permanece
rio que não se esquece.
Planta hoje
e não te surpreendas
de não teres já o fruto na tua mão
sem o tempo não cresce a semente
nem a árvore amadurece nos seus ramos o pomo
e assim neste devir
de colher o que se planta
tua alma já não se espanta.
Um halo de luz envolve a Casa
e a Criança desenha com as Palavras
o Jardim onde hão de florir
pensamentos e sonhos novos
talvez seja um Poema
um Caminho pleno de Confiança
a raiz de toda a Esperança.