Da névoa te direi
que é o lugar da Esperança
e, nesse branco baço nebuloso,
que rodeia primeiramente o pensamento,
antes do poema ser,
há um ideal
há um sonho sem mal.
Da névoa te direi
que é o lugar da Esperança
e, nesse branco baço nebuloso,
que rodeia primeiramente o pensamento,
antes do poema ser,
há um ideal
há um sonho sem mal.
Vem, Caminha comigo,
amigo,
vamos juntos calcorrear por essas vilas e cidades
os caminhos da Liberdade
e, sem idade, nesse movimento infinito,
não há saudade nem espera de uma nova primavera.
Chove.
E, num dia que é perfeito,
sem mágoas nem dores no peito,
a chuva outonal
é o sinal profundo
da desdita neste mundo.
Como tardas Encoberto,
sonho das Eras
e Esperança de não serem mais vácuos os dias.
O Sol doira já no horizonte,
e daquela fresca fonte
escorre desde o amanhecer
a límpida água do teu Ser.
Não tardes. Vem.
A manhã e o Mar esperam por Ti
como uma Criança que sorri.
Triste, porque é eterno,
aquele sono não desejo nem quero
que é a sonolência das almas desesperançadas
que tanto na vida como na morte
tanto na escuridão e na luz
arrastam essa cruz.
De tuias e figueiras odoríferas
e as mil aves do paraíso
o éden brotou
como canteiro de jardim
num sonho de infante
- belo, puro, abundante.
Antes do finito movimento da onda
tombar raso na areia da praia,
a escuridão da noite
cobria o abismo e nada nem ninguém
havia além
daquele sopro de vida incandescente
raiz de vida da humana gente.
Às vezes, quando é de tarde,
e a luz embrandece
nada me esquece
daquelas ruas estreitas e daquelas paredes brancas
que, como uma barca a navegar,
anseiam por um porto de Mar.
Abro a janela e a névoa, muito branca e pura,
entra pela casa adentro e ilumina
com um fulgor
o Teu gesto de amor.
E, esse gesto, que é um afago e uma carícia,
é tão dúctil como a neblina
de outono
o cimo das árvores embevecendo
numa constância de Coração
- branca e pura imensidão.
Pousa, na minha Alma, depois do lúcido
instante do voo,
o pensamento ébrio e feliz
de todo o lar ser sempre uma raiz.
Delírio do sonho nesta multidão
que segue um único rumo de estrada
e que sem pensar em nada
olha a paisagem sem a ver
e sem enlouquecer.
A alvorada tem o encanto e a Luz
do amanhecer que anuncia
toda a Esperança e toda a Paz
mas, no teatro do dia,
a aurora dura um segundo
e as dores do mundo
tomam conta desta dança
e nada fica nem há Lembrança.
Nas estantes as páginas dos livros
são o ermitério denso das Palavras
mas, quando a Luz nasce e vem sobre elas,
um movimento vivifica todo o pensamento esquecido
e que é mais do que um bem
é um sopro do Além.
O ecrã encerra o mistério
deste Sul sidério
que não tem maresia
nem uma ilha encantada
nem duma caravela a jornada.
É antes uma ondulação sem mar,
silenciosa e pura,
que na alma sempre dura.
Na dança da Alma, o eirado é o jardim,
e desnudo, como um campo florido,
toda a sensação nele se colhe,
no aroma e no olhar,
como um tempo que passa sem passar.
É de outono este dia sem impureza
e límpido
cotejado de silêncio e céu
em que eu procuro
no Sonho da verdade
a Paz de uma eternidade.
Rumor de memória tão subtil
que até parece que do tempo se esquece
que na vida de um Poeta há sempre o sinal
de todo o homem lhe ser igual.
Anoitece
e minha Alma parece
entardecer como este dia
falta o júbilo e a alegria
de ser num eterno agora
um som de água
que contém
um Mar e um outro Além.