Do Poeta o rosto talhado
em cada verso
é mais e maior que toda a imensidão
ainda que pareça ser ilusão.
Do Poeta o rosto talhado
em cada verso
é mais e maior que toda a imensidão
ainda que pareça ser ilusão.
Um café... e agora que farei?,
talvez medite num verso humilde e raro
que torna todo o Céu mais claro.
Naquele tempo de haver sempre uma Esperança,
uma flor floriu
e tanto espanta esse florescer
que hoje eu também
floresço
e a m' espantar eu cresço.
Quase táteis, as letras das palavras
no écran da máquina
constroem versos imprecisos
e letra a letra, palavra a palavra, verso a verso,
tudo permanece e é disperso.
Mais do que a inquietude em Mim,
há, no meu Coração,
uma serena Confiança,
que irradia para Além
como aquela estrela de Belém.
Acordo na noite.
E sei que a cidade ainda adormecida
despertará em breve
para um outro sono da vida.
Longe da multidão e do mundo,
meu Ser tem o gosto larvar
de permanecer num só lugar.
Como um vagabundo que recolhesse
pensamentos cansados
que já não servem a ninguém,
assim vejo passar a densa multidão,
apenas colhendo a ilusão.
Talvez seja singelo o canto
que como uma árvore apenas nascida
procura no mistério da vida
o sopro magnífico
e constante
que dá o alento a cada instante.
O miradouro da janela
é mais amplo no amanhecer
e suavemente me convida
a olhar, a contemplar e a conhecer.
Atravesso o empedrado do Caminho
por sob as copas das árvores
e é bela a estrada desta madrugada
sem sonho num silêncio verdadeiro
como se encontrasse o instante primeiro.
Porque nos juncos do caminho
raiou o Sol, meu irmão,
desse manto repartido
um laço terá nascido
para sempre na imensidão.
Dantes, toda a árvore ressequida,
sem vida, que povoasse um sonho meu,
me parecia ser sinal
de uma aventura sem igual.
Mas, agora, livre enfim,
dessa dor em Mim,
cada sonho é apenas um sonho,
em que cada árvore morta
já nada importa.
Entre a terra e o céu
'spera meu Ser
pelo instante imortal
desta busca universal.
As folhas de outono são mais belas
e doiram minha Alma que resplandece
e do Mundo não se esquece.
No tear deste mundo, se tece cada dia
logo ao amanhecer
e isso é a jornada do Ser
que como ave abre caminho
e voa Além
com toda a força que tem.
A palavra nasce na névoa do pensamento
mas encontra o trilho perfeito
nos caminhos da imensidão
quando toca no Coração.
Não sei o nome dessa Flor
que em fogo meus olhos incendeia
nem conheço o seu mistério
apenas sei que desponta do alcatrão do chão
quando milhões de passos lavram esta estrada encardida
e num sopro de vida
ela floresce amanhecida.
Escuto o mar
e nada oiço que se agigante
nem que reverbere naquele instante
do naufrágio da vaga na areia
e triste ideia colhi
- ser o silêncio de deus também
como esta onda que vai e vem.
Incógnita é a morada
do santo que segue a estrada
do tempo que não volta mais à sua mão
e o oferece,
a cada dia que amanhece,
como um pão repartido,
porta a porta,
e que a Alma conforta.