Se Te derem uma Flor
ama-a e eternamente aconchega-a no Teu Coração
pois é tão frágil como uma infância que é feliz
só de se esperar
que nunca vai acabar.
Se Te derem uma Flor
ama-a e eternamente aconchega-a no Teu Coração
pois é tão frágil como uma infância que é feliz
só de se esperar
que nunca vai acabar.
Passeio por entre versos
à procura de um pouco de luz
como quem deambula pelas ruas da cidade
em busca do sol
mas se nos perdermos numa viela enegrecida
nada resta da claridade
nem do assomo da verdade.
A quietude antes do movimento
o passo da esperança
o gesto largo e despojado
e é neste palco da vida
imorredoiro
que se transforma a tristeza em oiro.
A insónia abre a janela do Mar
onde o meu Sonho
iria buscar
às profundezas
mil e uma certezas
e lúcido e desperto
tenho a Verdade mais perto.
A régua e esquadro desenho a cidade dos homens
e nesta geometria de linhas retas
e ângulos
falta o cabeço de uma serra
a falésia debruçada sobre um mar
uma planície a tocar a linha do horizonte
faltam umas mãos a remexer a terra num vaso de barro
falta uma roseira que silenciosamente
floresce
como o Amor quando cresce.
Silêncio na casa que dorme o Menino
que é um deus pequenino
e por este seu sonhar um mundo
tão perfeito
parece que cada um de nós
o guarda dentro do peito.
Ao anoitecer, parece-me ver nascer
por esses Caminhos onde somos peregrinos
uma aurora fugitiva
e assim se confunde o Tempo
do ancião outrora criança
princípio e fim de toda a Esperança.
Desenho uma Rosa
e pinto-a de Azul, a cor do Céu.
Momento fugaz
como tudo o que a Vida traz.
De lá, tão longe, as palavras são apenas um rumor
que chega até Mim
tal como o brilho desta Luz
que por ora é apenas uma oração
triunfante no meu Coração.
Onde está o Outro esse foragido de Mim?,
que só encontro à beira da estrada,
quando o dia anoitece
e o Céu resplandece.
Até parece que a Alma esquece
que é de Dor este martírio do Mundo
quando semeada a terra e podadas as hastes
se colhe o fruto perfeito
com as Mãos do cansaço
e alheio ele repousa num regaço.
O céu de dezembro na aragem do dia
parece um mar revolto
com as nuvens a passar e a passar
rente ao horizonte
onde eu encontro uma Fonte.
Medito naquela ponte que não há
entre a realidade e este Sonho
de eterna quietude
como se no meu regaço
deus fizesse e desfizesse um laço.
À noite, aflora aquela mansidão dos Poetas
que, no silêncio dessas horas em que o dia entardeceu,
rompe quietamente a escuridão
e cada verso é uma Luz no seu Coração.
Colho um novo pensamento
quase fruto na íngreme distância do olhar
e medito e é infinita a ideia
que me comove
quando a semente da razão
toca o meu Coração.
Límpido, eis um pensamento de Esperança:
quem baila no mundo esta dança da vida,
ardente e audaz, de tudo é capaz.
Chove agora uma chuva que é silêncio e dó
e certeza
de haver, justo e certo, no Mundo
o meu vaguear profundo.
Sem hesitar, a árvore sonha o Céu.
Também eu, sem hesitar,
é nesse Sonho que eu quero estar.
És um faroleiro do mar
e só em Ti encontro
no rigor dos dias
a estreita passagem
para as horas sadias.
No alvorecer,
meu Ser
que o Universo contém
como que desperta para um Além.
Como uma barca que balança
nas ondas do mar,
assim vejo nas águas do Mundo
tristes e sós
a vacilar quem não tem voz.
Venho tecer os dias
como tecedeira que tece
e não esquece
que a manta se acrescenta
fio a fio como ano a ano a vida
até ao dia da partida.