Contemplando a luz da manhã,
renova-se o meu Ser
como quem folheia um caderno antigo
e encontra nele o orvalho dum amanhecer
que é a força do seu viver.
Contemplando a luz da manhã,
renova-se o meu Ser
como quem folheia um caderno antigo
e encontra nele o orvalho dum amanhecer
que é a força do seu viver.
Quando olhares uma pedra branca e muito lisa,
pensa que antes já foi rochedo
e penedo bravio no meu Coração
assim como bordando em linho
a bordadeira da dor esquecida
desenha com fio uma beleza na vida.
Outrora os ramos verdes das flores
cobriam o meu regaço
e eram como um pedaço de planície vicejante
perfeita e inteira
e imorredoura
como quando o sol a lua doura.
Canto a Alegria do Ser,
sem bruma na manhã renovada,
e percorro a humana estrada
crente que do milagre da vida
seja a caridade por todos repartida.
A jarra com flores é onde poisam os meus olhos
cansados do inverno frio
e o meu olhar procura naquele instante
que sempre dura
(e por isso é eterno)
o florescer
que não possa morrer.
O frágil ramo despido da árvore nua
é onde poisa o meu pensamento
ou qualquer outra coisa de Mim
que é tão íntima e certa
que é uma permanente descoberta.
Folheio o livro e página a página
pressinto a hora e o instante
em que o Poema foi uma alta-voz
deste mistério que há em nós.
Talvez seja de dor a travessia deste mundo
e nos magoe o Caminho a cada segundo
mas ao teu lado, peregrino,
o Longe é uma Aurora
e é aí que a cor oiro mora.
É de cimento e pedra esta floresta citadina
por onde caminho por entre esquinas e ângulos,
sem humanidade,
que dor!, e que queixume!,
minha Alma subitamente sente
por não encontrar aqui a Alma de outra gente.
Quando me sento a escrever um verso
sei bem que há uma Verdade
que além de Mim cabe
no pensar de outro Alguém
e é neste vai e vem
que o mundo se sustém.
Onde?, sem tela,
fica apenas a moldura singela
como uma janela sem idade
que se abre para a Liberdade.
Não na alma que seja inverno,
mas, nos dias a passar por Mim,
eu vejo já próximo um fim.
E, no entanto, tanta é a estrada para andar
e tanto inverno sem acabar.
Puríssimo rosto que os anos no tempo desfaz
não olhes senão na direção do futuro
e verás nisso um gesto audaz
e porque a alma se renova a cada amanhecer
sê primavera e verão
sempre no mais fundo do teu ser.
Sê diferente, meu Irmão,
não queiras florir nesta imensidão,
sem que, sendo rosa em botão,
sejas único na multidão.
Vieste desse profundíssimo e vasto Universo
e trouxeste nos teus olhos o sinal
do Mar universal.
Cândida alegria em Ti,
doce Criança,
és o lugar da Esperança.
Era uma onda cristalina,
que pairava no horizonte,
e, translúcida e pura,
parecia um Abraço de ternura.
A névoa entrou pela janela,
respiro agora essa neblina branca
e, por isso, flutuam os meus pensamentos
num corpo preso ao chão
que não vagueia como a razão.
Folheio este caderno do tempo
dia a dia, procurando o signo que seja sinal
de ser cada instante
um momento cintilante.
Na hora mais sossegada,
eis que os Magos adoraram
Cristo, Menino Jesus,
e tanto que na manjedoura,
quanto na cruz,
houve um brilho de Luz.
Revisito a Beleza nas coisas.
E, vassalo da lembrança, repercorro os dias deste breve inverno,
procurando quotidianamente recompor
aquela inteireza perfeita
que já existiu num passado,
antes de haver pecado.
Lá fora o dia que finda lembra-me uma noite
sem estrelas no firmamento
então eu estendo as minhas mãos sobre esta mesa
e passo essas mesmas mãos sobre os papéis dispersos
como se visitasse num templo perfeito
aquela dor eterna no peito.
E finalmente é a promessa cumprida
no assombro de uma vida
desigual
mas sem que triunfasse o mal
o bem prevaleceu
e o Poeta viveu
como guerreiro do universo
em cada prosa num verso.
Passa e permanece
como a bruma que anoitece o dia
na imensidão esta travessia
tanto que nem os deuses com o seu poder
de dar a vida e a morte
nos podem livrar de tal sorte.
Conta-me de novo desse reino de ventura
onde as mães embalam os filhos no Coração
sem medo da perdição
diz-me secretamente ao meu ouvido
que esse reino é nascido
por mil anos
e que ao meu redor
eclode viva a semente
de uma nova humana gente.