No meu beiral, vigiam as aves celestes
e noite e dia, ao seu cuidado,
cada passo é mais amado.
No meu beiral, vigiam as aves celestes
e noite e dia, ao seu cuidado,
cada passo é mais amado.
E o caminho a Ti me conduz
cinza oiro luz
e um dia que nasce inteiro
mesmo no meio do nevoeiro.
Espero a noite ainda
aquela noite que não finda
e que virá um dia mansamente
ser o mistério da gente.
Dança o meu pensamento
e rodopia sem parar
como se só na força do vento
se pudesse encontrar.
Ignoro o movimento do tempo,
quando me sento
a olhar
as nuvens a passar.
E nada mais importa nem um grito
se solta
se tenho o céu à minha volta.
Fugaz é o dia, a noite e a manhã fria.
E aquele caminho da esperança
de que me não lembro hoje já
também não sei aonde está.
Passo a minha mão pelo ramo da roseira
e, como quem afaga uma futura flor,
toco ao de leve nas branduras
dum orvalho matinal
procurando nesse lento gotejar
a rosa perfeita
numa cruz desfeita.
Talvez seja eterno o instante
em que este verso como pão repartido
alcança no mundo um sentido.
Um rasto de oiro no cimo das árvores
é o sinal de que a tarde chega ao fim
e perto e longe de Mim
aquela névoa no pensamento
que como a noite chega e vem
é minha e de mais ninguém.
Bem sei que as flores nas jarras
murcham e secam
e que numa vida humana se contam os dias.
Bem sei que tal como amanhece
também entardece
e que não há sempre o sol do meio-dia.
Bem sei todas estas coisas da existência,
mas o mais que tudo, eu sei,
é que no mundo há uma lei.
É do cimo da encosta que vejo nascer o sol
e nascer a lua e nascerem as estrelas
e só assim o meu universo fica completo
como se o céu estivesse sempre perto.
Um tostão, apenas um tostão,
e assim se celebrava a festa do santo,
quando eu era criança e pedia na rua
um tostão, apenas um tostão,
a cristão e a não cristão.
Um amuleto da sorte
e o anjo da guarda salvador
são a salvaguarda da morte
e um caminho de amor
por isso confio e me entrego
e meu coração sossego
Far away é a terra do exílio
a terra da planície
despida
miradouro da vida
O tempo é um caminho que não volta
nem se repete
ainda que após uma primavera venha um verão
e nisso pareça que a emoção
se iguala numa mesma medida
mas não é assim na humana vida
Quando o que é real
não for desigual
então poderás caminhar
de pés nus sobre este chão
como numa mansidão
Penso mar e é o teu perfil
engastado nos rochedos na orla da praia
que se desenha nesta claridade da espuma
que traz sempre de novo
a força heroica do meu povo
Perdeu-se o bibe e o brinquedo de corda
e agora neste tempo
em que os sonhos azuis
nunca mais virão
dei-te mesmo assim a minha mão