No oiro da tarde, agitam-se altaneiras
minhas tristezas
e quase chegam ao céu
e são lembrança de um Poeta que chora
aqui aonde mora.
No oiro da tarde, agitam-se altaneiras
minhas tristezas
e quase chegam ao céu
e são lembrança de um Poeta que chora
aqui aonde mora.
À noitinha, nessa hora de meditação,
corro os olhos pelo caderno
e vejo um D. Quixote e um dragão
e na luta que eu imagino a começar
cercam-me as ondas de um alto mar.
Um dia virá em que por um momento serei
o infante e o rei
e nesse instante mortal
minha Alma descoberta se liberta
e, de súbito, desperta.
Uma vela acesa um barco no mar a navegar
um arco-íris na linha do horizonte a estrela da manhã
e o meu corpo imóvel
sentindo os braços as pernas as mãos os pés os dedos
e indo Além dos medos.
É com a palavra madura que eu colho
em cada esquina
que escrevo o livro da vida
e uma a uma cada página se solta
e parece que não volta.
No espelho, o rosto não tem idade
é como uma Alma que se fita
e nela a Esperança é infinita.
O sopro do vento desaparece e vem
assim como uma dor que se tem
e oscila, neste movimento do mundo,
o meu pensar,
onda perfeita num Mar.
É outro o céu de estrelas
e é outro este chão
que sustém cada passada
e a estrada que leva Além
com a força que a Vida tem.
A música que passa e o tempo que se escoa
é como um pensamento que voa
e se perdeu a voar
mas na minha Alma até parece
que na lógica da Razão
só manda o Coração.
E diz o Coração pequenino
que és ainda um Menino.
Regresso ao tempo das descobertas
e das coisas sei os nomes
ilha pássaro onda mar
e aonde quer que o Caminho me levar
farei por sempre me encontrar.
Como uma água que corre,
neste chão,
meu pensamento caminha para a imensidão,
e, na hora primeira da noite amanhecida,
há marés de Mar na minha vida.
Quando o outono vier,
e de prata e oiro estiverem as árvores vestidas,
recomeçarei
como recomeça a Natureza
libertando-se de toda a certeza.
É de oiro este instante
em que toda a paz profunda
a Natureza inunda
e entardece e é belo
e sabe-se que a noite vem
e o sono também.
Porto de abrigo, este cais de pedra
reverbera como ponto de luz
e colhe da infinita distância
as estrelas e o luar
que estão também aqui neste lugar.
Sem pressa,
como um mundo que começa,
se dá um primeiro passo
e é tão grande a aventura
que o Caminho ainda dura.
Acendem-se as luzes dos apartamentos,
e há de velar, como eu, pela noite,
esperando um amanhecer,
gente que sente,
mas que tem uma alma diferente.
É um poema escrito no chão que pisamos,
por isso está, como o mundo,
desordenado
e, sem futuro nem passado,
nem presente que da má sorte o resgate,
não tem vida nem tem arte.
Quem sonha que sonha, sem despertar,
vagueia como numa onda que é o sopro do mar
e nem a muralha dos rochedos,
gigantes de medos, perturba este sonhar completo
como se um deus estivesse por perto.
A praia tem rochedos
e tem segredos também
e minha Alma vagueia
nessa orla de areia
onde um dia, louca, procurou
um tesouro que nunca encontrou.
Cansei de ser criança.
Cresci.
E esse pedaço puro de Mim se perdeu
no aglomerado de gente também crescida
o este e oeste da vida.
Folheio as ondas do mar
como quem procura na marca de água
um cavalo marinho
ou a imagem de uma sereia
presa numa teia.
Murmúrio do vento
lá fora,
onde toda a paz profunda mora
nos campos e arvoredos
numa natureza de segredos.