Sento-me no sofá e esqueço o absurdo do mundo
neste momento em que a minha voz
neste lance que há em nós
cinzela e esculpe aguerrida
cada silêncio da minha vida.
Sento-me no sofá e esqueço o absurdo do mundo
neste momento em que a minha voz
neste lance que há em nós
cinzela e esculpe aguerrida
cada silêncio da minha vida.
É um fio de espuma de uma onda do mar
este meu pensamento
que ora vem e depois se vai
o passado lembrando -
e para colher da vida a lição
a mão toca o Coração.
É arte cravar no chão as suas pegadas
e deixar um rastro de Alegria e de Inquietação
no caminho por onde os outros também vão.
Pela grande Harmonia e Beleza
da Natureza,
acredito
que em Tudo há um fito.
As estantes estão vazias
e as Almas mais frias
na solidão do seu pecado
vêm sentar-se ao meu lado
como se o romance das suas vidas
fosse um folhetim
que numa tarde de domingo tem um fim.
Um pouco mais do azul puro e límpido do céu
no meu desenho em Ti sustido,
meu deus,
e talvez, talvez,
o homem não tropece outra vez.
Murcharam já as flores na orquídea
e a alegria que eu sentia
desapareceu também
e vivo a cada dia como alma que porfia
no tempo que a vida tem -
não ser como a orquídea que refloresce
e sempre se engrandece.
O tempo é vindo
e nos pátios, por entre os velhos plátanos,
passeia a mocidade
que, distraída do segredo da vida,
grita a eternidade sem fim
e o seu grito entra dentro de Mim.
O petiz tem um coração feliz,
brinca ao pião,
e dorme e acorda
como se sempre saltasse à corda.
Sei que sonho no sonhar
como se se abrisse de par em par
uma janela na imensidão da noite
e suave viesse ao meu encontro
com a delicadeza de um anjo
a Luz perfeita
na qual a minha alma se deita.
Regresso ao poema como quem regressa a casa
e reconheço nos recantos dos versos
a minha Alma entristecida
que quase sopro de cansaço
que quase suspiro de agonia
tomba e esfria.
A raiz de Mim mergulha num céu
de paredes brancas e silêncio
onde o anjo que vela
e que toda a noite está desperto
acalma e acarinha
toda a desesperança minha.
Era longa a estrada
e mais distante era o destino
por que eu ansiava desde menino
e cresci. E sou agora nesta viagem que demora
a pessoa que já não brinca ao pião
no sem fim de uma ilusão.
Memória de chover
e, no entanto, que brilho o deste sol
no meu Coração
perfeita imensidão
do tempo e das Eras
na certeza de que me esperas.
Trazes no cântaro a água viva da fonte
e caminhas como se encontrasses em cada passo
uma certeza e um fim
e tudo isto tão longe de Mim
que me parece que a vida se esquece
quando a noite desce.
Atravessa a paisagem o fio de luz
deste verso
e vai pelo universo
e será claridade talvez
e grandeza e pequenez
como o destino que deus fez.
Sonhei-te, mas não vieste.
Possivelmente havia um Mar a separar
na eterna distância
e o real entra pela minha Alma adentro
nuvem desfeita
em que o meu corpo se deita.
Esta água de beber
e que em Mim permanece
é como um verso lido e relido
tão perfeito de sentido
que não pode se pode esquecer.
Pousa a mão sobre o Coração e espera
que essa nuvem branca
venha ter contigo
e te leve, tão leve, pelos ares
em busca de um jardim
que seja o princípio, o meio e o fim.