Do mundo é o despertar a cada manhã
e percorrer aquela estrada do viver
sem entristecer
de desalento por ver a desgraça
de quem a meu lado passa.
Do mundo é o despertar a cada manhã
e percorrer aquela estrada do viver
sem entristecer
de desalento por ver a desgraça
de quem a meu lado passa.
O prodígio de viver
e de ter dentro do meu Ser o imenso Fado de homem
que é pensamento a pensamento
renovar a dor e a passada
dum tempo que hoje é nada.
Na noite, prendo com um alfinete o Sonho
à cabeceira da cama e levanto-me.
O mundo lá fora é um mundo lá fora.
Todos dormem sem saberem da Magia
que nasce, quando nasce o dia,
mesmo na noite cerrada,
antes da alvorada.
Só a Paz é capaz de estar onde Tu estás,
saltimbanco desta jornada,
teu é o Mundo e não tens nada.
Algures por aí o Silêncio
é o sinal portador da esperança,
porque é mais puro e natural
e não está revestido de qualquer mal.
A Sul há um rio que não morre
e que corre
alheio e indiferente
à angústia que há na gente.
Busco, nas impossibilidades da vida,
aquela Flor que brota do asfalto
e que brilha mais alto.
Enquanto a água de outubro
resgatar a infância que há em nós,
seremos por instantes felizes
chapinhando e caminhando molhados
como se no nosso Coração um eterno sol
fosse um eterno farol.
Sou esta rua despida
por onde as pessoas a passar passam
sem olhar
e sei que o fulcro derradeiro da vida
nesta marcha comprida
é o ser e o estar.
Acordo na noite
e vejo que é indiferente
sonhar ou viver a gente
quando a este mundo chega um frio
e na verdade tudo é sombrio.
Trazes no Coração a vontade mais querida
a do fazer e do refazer da vida.
Trazes o tempo agarrado à tua pele
como quem num poema
de tanto repassajar as palavras
as vê envelhecer
tolhidas na desgraça
de serem inúteis a quem por elas passa.
No meu bairro ao entardecer,
tudo é silêncio
e vem-me, então, uma vontade de morrer
como se findando eu fitasse,
estático e indiferente,
este absurdo mundo da gente.
O dia nasce devagar
e a cor que o mundo sustém
verde-água verde-verde verde-anil
domina a imensidão
dos lugares onde os homens estão.
Trazes nas Tuas mãos um tufo de folhas
colhidas do chão
e é dourada e vermelha a cor
do nosso Amor.
Dentro do tronco da árvore,
um outro tronco -
e dentro do meu pensamento,
um outro pensamento.
Assim se multiplica a Esperança,
quando se é Criança.
Brevemente me esqueceu aquele verso
de outrora - o verso onde toda a tristeza mora.
E, agora, neste instante,
salpicado de orvalho
e de Luz,
pesa menos a minha cruz.
Da minha janela vê-se a encosta
e este mundo aqui a meu lado
é tão perfeito
que o meu Coração se satisfaz
neste brilho de Paz.
Caminho na tarde e sonho
que este trilho infinito
conduz àquela ilha verdadeira
onde o Rei sitiado vive em prisão
e compassivo espera
por um sinal desta nova Era.
Ali, aonde a encosta se vestiu das cores da noite,
parece que o mundo adormeceu
e que dorme, nesse breu,
o sono justo de uma alma triunfante
este meu mundo errante.
É de Paz este momento.
É como um sopro gentil de vento,
que no rosto sabe tão bem,
e que vem só porque vem.