São doze os azulejos, doze os meses dum ano
e de janeiro a dezembro
só me lembro de em cada amanhecer
colher a Luz para viver
e neste ato de pedinte e de sentinela
digo, Amigo, - «a vida é dela».
São doze os azulejos, doze os meses dum ano
e de janeiro a dezembro
só me lembro de em cada amanhecer
colher a Luz para viver
e neste ato de pedinte e de sentinela
digo, Amigo, - «a vida é dela».
Num labor de ave que como que constrói um ninho
eu construo este Caminho
e recorto cada verso do livro do pensamento
infinito e ardente
como Alma que sente.
E se a Palavra viaja como num barco à vela
eu vejo e viajo com ela.
Um traço e outro traço na página em branco
e é com uma caligrafia nova que se escreve o poema
tanto assim devia ser também no Mundo
um outro semear
para um outro fruto colher
de uma outra natureza e de um outro ser.
Ao acordar, um banco de nevoeiro
cobria este chão
e era um clarão nascido da terra
que por Mim acima subia
nada via, mas sentia
que por entre os homens
um coro pela Paz
é como um arco-íris lilás.
A marcha começa logo ao amanhecer
ter um dia para viver
sem tumulto nem desgraça
e ver que no tempo que passa
as horas são úteis e têm nobreza
enche de júbilo o meu Ser
e deixo o destino acontecer.
É num presépio que há no teu Coração
que nas palhas deitado
um menino sem pecado
estende humanamente a sua mão
abençoa como só um deus sabe
antes de adormecer
e enternece o teu Coração ver.
Néons e na noite a neblina que cintila
e me conduz
como no escuro um foco de luz
à derradeira Verdade
parece que é tarde mas não é tarde
uma ânsia firme em Mim arde.
O pensamento da gente
é como ovelha sem rebanho nem pastor
que sempre anda perdido
e desconhece
que pensar também se esquece.
Caminha que a estrada vem
e a cada passo
não queiras adivinhar o trilho
ele é como um filho
crescido
e de ti nascido.
É inverno e vence o Sol.
E, se me espanto,
nesta singela grandeza,
vejo no homem a natureza.
Lugar lindo é o Sonho na noite
que através da escuridão
é Luz é Clarão
nesta imensidão.
Se a água sempre corresse
e eu nunca adormecesse
nem quando a noite cerra o dia
então no Tempo o meu Ser
poderia a si mesmo se conhecer.
Redesenho a Palavra
e ela é agora flor, planta, estrela de Natal
e no meu mundo sem igual
não há mácula nem desterro
nem há homem que persista no erro.
Choveu brevemente na tarde
e eu saí a procurar nesta água do céu
um batismo que me livre do meu pecado
desta ilusão
de correr como corre a multidão.
Tocam os sinos às trindades
e a cada badalada
na minha Alma corre um rio
- fio invisível -
que não é de ninguém
nem do Mar que está Além.
Não veio o inverno ainda,
mas parece que a minha vida se esvai
como se chegando próxima àquele cais
os deuses, os imortais,
aí estivessem e fossem a Mim iguais.
Leio muito devagar
e as palavras ganham o contorno físico de pérolas
e são singelas na sua pura Beleza
e como na natureza da Amizade
nelas um lume brando arde.
A cada um dia e não mais
um mote para a errância na vida
e será tristeza será saudade
o mote que agora me sustém
nesta ânsia que da Alma vem.
O pensamento em sua nudez
lembra o puro firmamento
o céu anil que vês
e se honrares o mistério
do tempo que um dia virá
não importa o hemisfério
a Paz contigo será.
Dos pássaros que o infinito amam
te direi, quando no mais branco da cal
tudo for na minha memória igual.
Entre o anoitecer e o amanhecer
é o tempo todo meu
e nunca nada se perdeu.
Esta é da vida a suprema Beleza
repousar como repousa a Natureza.
Despede-se o outono lentamente
para que o inverno
entre dentro destes versos
que florirão
mais tarde talvez
como numa primeira vez.
Num deserto sem água,
desenhei uma fonte
e jorrando como um rio
essa água que corre a fio
lembra-me que nunca sede haverá
quando um homem se refaz.
No rufar de um verso
cada sílaba tem o seu valor
tanto quanto na vida uma dor.
À nossa janela chega o amanhecer
e é um regalo para os olhos
essa Luz ainda ténue e muito frágil
que nos enche de Coragem.
Aqui está o Tempo em que aguardamos
e em que esperamos
Esperança Amor e Paz
que uma Criança nos traz.
É no lado de dentro do Coração
que o Sol, divina Luz,
com a sua reverberação,
à Alma nos conduz.
O frio de dezembro chegou
e a manta e o cobertor
que não há no presépio de Belém
são o conforto que um ser humano tem.