Amanhece mais lentamente sobre os rochedos
que o Mar vergasta
mas é do Alto que melhor se vê
a obra que deus fez.
Amanhece mais lentamente sobre os rochedos
que o Mar vergasta
mas é do Alto que melhor se vê
a obra que deus fez.
Do ventre da terra, a palavra nasce
redonda e silenciosa
como uma Rosa
e assim em botão a flor
ou a palavra Amor
nunca se afastam de nós
mesmo quando estamos sós.
Sei-me de um outro lugar
onde ainda nunca me encontrei
e onde a minha Alma espera
para saber quem era.
A infância está guardada num nicho de luz
é a caixa da vida perdida
mas que luminosa irradia
para cada dia a ousadia.
O precipício seduz tal como o sonho
de matéria irreal
onde não há o bem nem o mal.
Regresso de onde nunca saí
regresso a Mim
e, nesta inteireza
de quem sabe o Caminho regresso,
faço a desfaço o pensamento
a todo o momento.
A folha de papel passa pelas minhas mãos
e transforma-se numa ave em prosa
talvez cante talvez voe
talvez como o dia amanheça
e em Mim se reconheça.
Não existe a imensidão senão no Sonho
tudo o mais na sua finitude
é pequeno e ilude.
A música, muito suavemente, desliza
pelas paredes da sala e pelo meu corpo
num afago de concha
aberta ao murmúrio das águas
as águas vindouras que uma lua traz
sempre que no céu se refaz.
Há um silêncio vindo do Mar
e há um troar de onda
mas tudo isso me é indiferente
quando rente à Esperança
perdi a Alma de Criança.
Ao entardecer, há lilases e outras flores no céu
dum jardim que está no meu pensamento
e que colho quando é de colher
e este é o meu viver.
No silêncio, medito um verso novo
e ei-lo fermoso
eis a alma do meu povo.
Dia sem sombra.
Dia de movimento e de Luz.
Dia em que acolho no regaço
o mais puro laço
que numa vida pode existir,
Te saber, depois de eu partir.
O orvalho nas fontes é um gotejar
é um murmúrio
que não quer parar -
mas no canto da água que corre
alguma coisa vai para Além
dos limites que a vida tem.
Sozinha na esplanada procurei,
mas não achei,
aquela multidão de gente
que, ao me olhar,
iria confirmar
a minha existência neste Lugar.
Do lado de cá, tudo é imóvel e silencioso
e nisso se congratula o meu Coração
na certeza dessa imensidão.
Corre, vizinha a Mim,
uma tragédia sem um fim -
e como um quarto vazio
com paredes de frio
é mais só
cada homem
hora a hora pensando
meu deus, até quando...
Debruçada sobre o grande Mar,
que vai e que vem,
minha Alma procura um Além
e, se o horizonte da memória fita,
logo o esquece,
pois o grande Mar - última fronteira -
é a passagem derradeira.
Corre um vento gélido,
mas, no jardim que há em Mim,
a Roseira floriu.
Tenuemente um botão de rosa se abriu,
agora que o temor partiu.
Em todos os momentos, cumpre-se a hora,
aquela hora fugitiva
que nos leva para a eternidade
e que tem um assomo de Verdade.
Procurar nesta crepitação de fogo
a inteireza do teu Ser
quando do Longe vens
e anuncias
serem agora mais claros os dias.
Tira a máscara e mostra-me a tua face pura
aquela que tem cicatrizes e bravura
e que se me aconchega ao Coração
mesmo longe na imensidão.
Entre mundos vivemos nós os deserdados
do grande campo do paraíso
e esse outrora, onde o eterno mora,
hoje, parece que chora.
Casulo do poema em Mim,
e lentamente se desata
este verso de oiro e prata.
O espetáculo do entardecer
num horizonte de Mar
cinzela de infinito
o sopro e o grito
daquelas gaivotas que esvoaçam
quando o frio e a sombra por elas passam.