A palavra perfeita nasce do perfeito silêncio
em que é gerada
tal como quem vagueia por uma estrada
e numa pedra encontra
uma morada.
A palavra perfeita nasce do perfeito silêncio
em que é gerada
tal como quem vagueia por uma estrada
e numa pedra encontra
uma morada.
Pedra a pedra e o castelo se agiganta
porque foi sonhado
e amado
naquele instante em que o Coração
a Verdade atinge
e já não finge.
É o canto de uma cotovia
o que entre nós existe
não é nem alegre nem triste
mas seduz
como um raio de Luz.
Pausadamente caminho por entre gente apressada
de que me servem passos de gigante
se o caminho eu sei qual é
se a estrada é a mesma de sempre
e se na monotonia da vida
eu sou aquela jarra com uma flor colorida
pousada no móvel do corredor
à espera de um momento de esplendor.
O primeiro momento desta primavera florida
acrescentou vida à minha vida
e, talvez, o anjo que me embala cale
para sempre
o medo que é um mal.
Sento-me e aquieto-me,
pensando nessa profundidade do Mar
que há em Ti,
deus homem mistério vida,
transcendência e rigor,
sem dor.
Orvalho no mundo e no meu Coração,
e é de paz e de espanto
ver os campos enfim a florir
e eu que não sei se hei de chorar ou sorrir.
Ao longe as luzes dos prédios vizinhos
recordam-me vagamente
que há gente
e neste mistério do outro que é
viajante como eu
guardo aquele Sonho
que nunca me esqueceu.
Visita-me esta hora no entardecer
como se o dia
ainda não quisesse acabar
e nele eu pudesse encontrar
um novo verso
que inteiro e sem dispersão
sustivesse a minha mão na tua mão.
Que possa faltar este chão,
mas um verso não
que tem a medida da tristeza e da alegria
e que é o pão nosso de cada dia.
Renasço em Ti e acredito
nesse espírito infinito
que em redor do que é eterno paira
primavera, ó primavera,
quem dera
poder renascer quem eu era.
Não são só os pássaros
que chegam às alturas do céu
há homens que são gigantes
e que têm dentro um coração pequenino
onde eternamente vive um menino.
É junto ao grande lago que te encontro,
e minha esperança aí vive e é
enquanto tu não estás aqui ao pé.
Se não fosse esta harmonia, eu diria
que há uma tristeza no dia
em que o frio, a chuva e o vento
são no meu pensamento.
As árvores como os homens sonham o Céu
e mesmo de ramos ressequidos
e de raízes sedentas
crescem num perfeito rigor
a que os homens chamam dor.
Sopra um vento gélido, quando a tarde
chega ao fim
e, ao redor de Mim, só o soprar do vento
que eu sinto no pensamento
é a inteira companhia
de um momento de magia.
O paraíso pode esperar, mas não a urgência
de recomeçar nesta terra
e a cada dia
tendo a Alma de vigia.
Aqui é o lugar da ferida da Vida,
ponte das muitas cores
anel das dores
e quem viaja e chega aqui
de espanto sorri.
Ouve dentro de ti aquelas ondas na distância
do mar incerto
que tu, Mulher, sem te perturbares,
conquistas lucidamente
com uma Alma que tudo sente.
No meio dum gesto, a Palavra
encontra o seu destino,
quando inteira
é prenúncio da terra verdadeira.
Regressarás aos deuses,
quando a madrugada for mais lúcida e firme
e, sem medo, desbravares todos os caminhos.
No meu regaço, repousa frágil
a onda
que não quer ser onda
e neste sem mar
aconchego-a enfim
gota que se esgota em Mim.
Vislumbre de cor num céu cinzento e negro
é o Sonho a rasgar as nuvens escuras
e a aquietar a tempestade
e nessa dimensão irreal de Verdade
nasce a glosa
como quem na fonte a sede sacia
à Luz clara do dia.
Aquele cuja Beleza resiste
à impiedosa passagem dos dias
é feliz nessa condição
da vida não ser em vão.