Quem dera ser nascido a cada momento
em que o céu é mais sereno
e o rio corre devagar
aqui neste lugar.
Quem dera ser nascido a cada momento
em que o céu é mais sereno
e o rio corre devagar
aqui neste lugar.
O pensamento que voou a um alto lugar
não tinha senão um fito -
buscar para Si o infinito.
No écran luminoso, um verso
é ainda mais efémero
do que a aurora que não dura uma hora
e o seu caminho
é ser um verso sozinho.
Caem do céu as pepitas de ouro,
tesouro na alma em Mim
pousado no regaço
neste tempo e espaço.
Na morada da noite, nos canteiros
florescem os Sonhos
belos puros sempre iguais
como se fossem imortais.
É um canto destemido,
mas frágil,
tão frágil que a voz se pode quebrar,
quando um verso não quer rimar.
Pudesse esta imensidão,
guardada na minha mão,
ser a Flor
do teu Coração.
Procuro a Palavra, teu gesto puro,
mais do que a tua nudez,
no poema das mil faces visitadas,
que tu amas
como se para a saudade
não houvesse uma idade.
Há um horizonte possível
que da minha imaginação se vê
e é de um infinito Mar que tem marés
e está aqui mesmo a meus pés.
Começa e acaba o dia.
Da manhã se chega à noite.
E, entre o começo e o fim,
cada instante
que é tão passageiro
tem um lugar inteiro.
Tantas nuvens
e sereno o milagre da ascensão
brilha no Céu
e, sem eu perceber,
tudo está a renascer.
Caminho lentamente
sem saber
do para quê do frenesim constante
desta gente tão distante.
E quanto mais vejo e observo a multidão
mais tenho a sensação
de que o meu passo não é em vão.
Transeunte do tempo presente,
este rosto de agora
na minha Alma chora
e podia ser apenas a Saudade
da outra idade do meu parecer,
mas é, na verdade, a Saudade
da novidade de um outro Ser.
Colho o pensamento
e abre-se uma janela à minha frente
maior do que a minha imaginação de Ti,
deus dos pequeninos,
que fazes e refazes os destinos.
Talvez as tuas folhas sejam passageiras
e os teus ramos frágeis
mas vertical aspiras ao céu
e nada mais importa
uma raiz te eleva e te suporta.
Assim vai o meu Coração,
balança como Criança neste baloiço da vida,
e, sempre sem parar de balançar,
num balanço eterno
ele quer estar.
O mundo lá fora é o mundo lá fora,
mas eu voo dentro
e lanço as asas nas alturas
e vejo mais longe na imensidão
da minha solidão.
Os altos mastros dos navios
pousados neste pedaço de papel
são o meu merecimento do Mar
e o meu único lugar.
O tempo é quase nada,
novelo de lã
em mãos laboriosas
que se esvai e desaparece
como quem a si mesmo esquece.
Talvez tenha perdido, no curso da vida,
a constância e o labor,
mas nunca foi o Sonho desfeito,
o Sonho que é meu por direito
de ser num Mundo perfeito.
Acordar é pouco,
é preciso um clarão como o do luar,
que toca o rebordo da janela
e depois entra na casa,
luminoso,
a atear com a força do coração
a força da razão.
O tanger dos sinos e o silêncio que depois resta
é o mais que na minha vida tenho
em cada hora
em que até parece que o Tempo se demora.
Na cidade choveu por um breve momento
e eu pensei no campo ressequido
a ansiar por esta água que sem ribeiro nem cais
se escoa pelos beirais.
Tudo é passado vivido,
pois o instante do que é já não é
e, neste torvelinho sorvedor,
numa jarra, vai morrendo sem cor
uma flor.
Cinzela o Coração e aprimora
que neste instante que é agora
o sopro de vida que te sustém
não é de mais ninguém.