Quando a noite vier trazer-te o descanso,
confia-te ao sono
e deixa que nesse abandono
teu Ser vença a morte
como se fosses um herói forte.
Quando a noite vier trazer-te o descanso,
confia-te ao sono
e deixa que nesse abandono
teu Ser vença a morte
como se fosses um herói forte.
Tão de ver somente a quietude das horas
me evadi e parece que senti
desde um outro tempo e lugar
a mesma imensidão chegar
partir e voltar.
A floresta escapa-se da minha fantasia
e as árvores são azuis e reais,
quando as abraço, procurando na seiva da sua vida,
a memória esquecida
de um Amor
como quem encontra um esplendor.
Uma ave pousa num ramo, outra voa
e tudo está certo
no poema
cujo rosto tem do mar o sal
e o olhar é universal.
Ninguém viu, senão um deus,
a muralha levantada
entre o poeta e a multidão
e até parece que na imensidão
Todos aqui estão.
Desejo de habitar, largo e profundo,
o Mundo,
onde o chão é de terra
e o teto, ondulado,
cobre-me por todo o lado.
Não há regresso.
Não é possível parar no tempo
para colher as papoilas vermelhas do ramalhete da vida.
E eis que me lembra o dia de São João
a Tua e a Minha solidão.
Há um arraial longe e tão perto
que arrisco a dizer
que enquanto num só homem houver Alegria
reina por mil anos cada dia.
É um tempo mais silencioso agora,
tempo larvar,
tempo de espera,
tempo da imensidão da hora,
em que o Ser se demora.
Agora que os dias começam a diminuir,
parece-me sentir
um desejo de entardecer como a Natureza entardece
e a glória do Sol se esquece.
A brancura destas aves fugidias,
que atravessam o ar,
espanta
e encanta
tão alvo também é o Coração
no branco amanhecer
que nele voa o meu Ser.
Solene a hora mostra-me que é perfeita
uma vida desfeita
pois até nos mares a tempestade
favorece o intrépido herói
e a dor não dói.
Cresceram as árvores
e da raiz à copa
se mede a altura
de uma semente pura.
Olho a linha do horizonte
e imagino, no cimo do monte,
um Gigante que esbraceja
e não há mais quem o veja, senão eu
com um olhar que não esmorece
e que uma visão não esquece.
Nesta prisão escura,
não há sopro de vento
nem há ternura
por tanto que a noite dura.
Mas não esmoreças e não te esqueças
que não há só uma estação
e que está prestes a chegar o verão.
Corro com o olhar as linhas das minhas mãos,
tentando encontrar um afluente e um rio
que destinem
sem procastinar
uma vitória inteira
na hora derradeira.
Parece até que descaminho,
quando regresso ao ponto de partida,
mas é a justeza da vida
que, quando ensina alguém,
se não aprende, não segue para Além.
No avesso de cada verso,
há uma estrela imorredoira
que como o Sol também doira
as folhas ao vento
da árvore do meu pensamento.
Altos são os muros de que me debruço
por sobre a paisagem
que jaz
e é pois o homem capaz
de tanta destruição infame
sem que um deus de nós reclame.
Na caixa de cartão, guardo cada grão de areia
que ficou
daquilo que eu sou.
E grão a grão, pareço reconhecer em Mim
que sou um trilho sem fim.
Leva o vento o brinquedo
como leva o tempo que passa
e nada fica
é essa a desgraça
e o martírio também
de seres alguém e ninguém.
Chove. A chuva vem quebrar o silêncio
doce e subtil
agora que o meu céu tem a cor anil.
Vêm-me ao pensamento fragmentos
de coisas que um dia li
e tudo isso me parece tão perfeito
e tão completo no meu peito
que o meu espírito se esvai
na tarde
como pavio de vela que não arde.
A orquídea floriu nas Tuas mãos
de Poeta triste
como se todo o Universo coubesse
na tua prosa
e fosse uma flor gloriosa.
Escuto os ruídos nos andares do prédio
e os passos que oiço
lembram a longa caminhada
da minha jornada
quando parti à descoberta
com apenas uma janela aberta.
Havia em Mim uma bruma clara
a toldar o meu regaço
e até um beijo era cansaço
e então a Mim voltei e combati o nevoeiro
como quem luta consigo
e enfrenta qualquer perigo.
A paisagem imóvel e silenciosa
que tenho pela frente
como é diferente
de tudo
neste mundo rudo.
Vem brincar à roda, Criança,
não percas a tua infância
e roda e salta
mesmo homem maduro
sê um lampião do futuro.