O tanger dos sinos e o tempo a passar
remotamente,
roçam este instante
como se uma multidão numa estrada
caminhasse para nada.
O tanger dos sinos e o tempo a passar
remotamente,
roçam este instante
como se uma multidão numa estrada
caminhasse para nada.
Percorro a praia sem fim
que há no interior de Mim,
e até parece que sem nunca acabar
é neste areal que eu vou sempre estar.
É mágico o clarão na noite,
quando se desdobra a lua no chão do quarto,
e eu penso flutuar
como navio nas ondas do mar profundo
que navega para um outro mundo.
Um verso é uma âncora no chão deste mar
onde encontro os corais e as medusas
e onde habitam as musas
que são como as gentes, alegres e descontentes,
alegres e tristes,
e que no tempo ao passar
só nelas tu, poema, existes.
Quando busquei uma fonte,
foi no cume do horizonte que achei de beber
uma água pura e cristalina
e, no instante de agora, não tardarei em voltar
a esse cume na encosta
a esse tanto de que a minha alma gosta.
Leio no movimento dos ramos das árvores
pelo vento batidas
que é sempre incerta a hora
se o sol se vai embora
Há sulcos na terra ressequida
que lembram que por ali já um regato correu
também assim a memória,
terra ondulante,
conserva o que é distante.
É bem difícil sim
sair do lugar de mim
e escarpar a pique a montanha
de uma natureza estranha.
Respiro-me e é uma brisa suave
que de mim de dentro vem
Sonho de Ave
que o tempo lave
no coração de alguém.
Os papagaios em folhas brancas de papel
são na imaginação
gaivotas de muitas cores
e quando eu olho apressado e vejo o papel no ar
sinto cá dentro do peito que também eu sei voar
Pinto um Sol na palma da mão
e deixo que essa Luz
toda e imensa
percorra cada palavra que jorra inteira
nesta vida verdadeira.
Árvore que morres de pé,
na tua sombra,
colho e desfaço
as pegadas dos meus passos
e sem rasto de lonjura,
sempre ao redor de ti,
da tua sombra vivi.
Não sei se por esta estrada
de terra e de pó
nela caminho eu só
ou se outros por ela vão
como eu procurando a imensidão
a cada passo que dão
Ao longe, a nesga do mar
faz-me Sonhar
com essa terra distante
onde, sem nunca entardecer,
numa exata eternidade,
está o meu Ser de verdade.
Na tua janela, Filho,
nasce a estrela
da manhã
e tanto de céu na triste terra
me enleva -
e por isso colho também eu
da sina que deus me deu
um prazer que é teu.
Será o que os deuses nos destinam
a sua Consciência
e é isso em nós a essência.
Tanto o espaço. Tanto o espaço.
Voa a ave na imensidão
da luz tanto
que desce sobre estes meus olhos que veem
uma névoa de bondade
de também voar sem idade.
O assombro de ouvir o vento soprando
no silêncio da casa
onde os passos do meu pensamento
ecoam longinquamente
puros e de cristal
sem mal.
O fio de linha de bordar é da cor amarela
como o sol
e como num campo de trigo
no pano cru
onde o homem joeira a sua penitência
a agulha colhe a suma ciência.
Esta é a brisa
que os campos lavra
e semeia
e pode ser que dela nasça o pão
que alimenta o coração.
É uma onda que se desfaz acolá
e na espuma na areia
é por onde o meu pensamento coleia
vagueando pelas coisas do mundo
como as conchas e os búzios e as pedras do mar
pérolas verdadeiras ainda por encontrar.
Os passos que dou
me levam aonde eu sou
peregrino que resiste
na mesma morada
esperando cada alvorada.
Mistério, para além da linha do horizonte,
haverá uma fonte
e um ribeiro a correr
que nos deem de beber.
Parece que se esquece,
mas a minha Alma amanhece,
quando um profundo silêncio indizível
feito de contentamento
me desperta por um momento.
Floriu a orquídea
e os passos mais inteiros
desenharam mundos verdadeiros.
Na solidão da mente,
os pensamentos são imensidão -
rio que corre com pressa
nesta vida diversa.
Nada é demais,
se for aquela Luz que a alma encanta,
e se for o Sonho de uma criança
guardado numa concha húmida de mar
ainda por encontrar.
Peregrinos do mundo,
que por aqui vindes e passais,
sede em Alegria nesta hora,
em que, estrela no céu,
a lua ilumina na escuridão
e tem o sol como irmão.