Um castelo de areia é do ofício
de quem constrói
na efemeridade
um instante de verdade.
Um castelo de areia é do ofício
de quem constrói
na efemeridade
um instante de verdade.
A Palavra parece esquecida
mas no retorno
da vida
Ela aparece e vem
como se fosse um sopro do Além
Aqui, no turbilhão dos pensamentos,
sou por um instante feliz.
Sei que a escada por onde subimos
também se desce
e que até quando se esquece
a memória volta a prevalecer.
E em tudo como em nada
neste viver
só a esperança não pode morrer.
Acredito na palavra verdadeira,
como estas árvores, nua
e esta é a minha lembrança tua.
Sei que serás o obreiro da Paz,
neste longo entardecer
do mundo.
E que da noite virás
sendo o meu Sonho profundo.
E na 'sperança do teu Ser
minha Alma de dores despida
é uma chama nesta vida.
Pouso a mão sobre a mesa
e deixo que nessa lassidão de abandono
o presente seja aquele agora
em que o instante se demora.
Quando escurece, os prédios iluminam-se devagar,
são pequeníssimas estrelas
em cada esquina
como no céu de Além
de onde toda a Luz vem.
E eu, entre estas duas paisagens
emparedado, em silêncio me mortifico
por a luz do meu Ser não ser.
As flores que colhi
esmoreceram
na jarra de vidro antigo.
Pu-las num papelão
e atei-as
- talvez que presas assim
me lembrem que tudo tem um fim.
Dir-me-ás que é sempre
este clamor
como uma pedra de calçada
irmanada no passeio
ou como uma rosa num roseiral
tão diferente e tão igual
À hora da tardinha, por um pouco
eu pensei nas aves
que cruzam os céus
voando livremente.
Mas e o homem, que forças o domam
para não perceber
que sem Sonho se pode morrer.
Passo a passo, sem segredos,
pela vida caminho agora
e o chão que piso
e o hemisfério em que estou
são a linha por onde vou.
Todo o dia o céu foi de névoa fria
e eu meditei
na Palavra e na Lei
talvez meditando eu consiga
ver um mundo justo
e sem mal
e que isso seja real
Regresso como quem viajou
até àquela praia
na outra margem do mundo
sabendo e sendo uma ave vivendo
De mãos dadas, corremos o mundo
e é bela a descoberta
vozes cores
e a flor da Paz
numa miragem fugaz.
Neste bosque de faias, não há senão o outono
que me desperta deste sono,
quando as folhas inquietas das árvores mais esguias
tombam ao vento nas tardes frias.
Como argonauta que regressa à pátria
assim eu regresso
do amplo universo
e atravesso a planície infinda da memória
e é essa a minha vitória
Qual é o nome deste pássaro
que da minha janela
eu vejo
e que também de voar me dá desejo
Que te leve o silêncio,
na hora em que pensando passas
de uma margem para outra margem na vida -
e nesse silêncio tu terás a quietação verdadeira
e a hora será a primeira.
Parei de mirar a chuva
e retomei
a leitura deste livro fatal
que é a vida
e que não tem igual.
É agora que a hora se demora
num capricho
de borboleta inquieta
que volteia e torna a voltear
em redor de uma luz
tempo, que instante a instante, seduz.
Descubro a passada do Caminhante,
na terra lisa e negra do asfalto
e entonteço
pois cada recomeço é um sobressalto
e a cidade cresce para o alto.
Trago da infância a memória breve
de um rio, ou talvez,
de um ribeiro,
que eu sentado vejo a correr
como quem olha para o seu próprio ser.
A colheita não é perdida.
E dessa bruma de espanto que esconde
o meu Coração,
Tu virás em esplendor
a seres o Salvador.
É uma pedra e eu digo pedra,
mas, se houver um sol
agigantado na vidraça,
eu digo alegria
ainda que a manhã esteja fria.
Ao arrepio do pensamento
no lado de dentro
é que minha Alma amanhece
e tudo esquece
até o pranto
de quem não tem um manto.
É preciso abrir as janelas da casa,
quando o vento
empurra a chuva para cá
e, neste chão molhado, reflete-se a minha lágrima
no rosto escorrendo
por esse Sonho que pudera ser
o Mundo em paz viver.