Rigoroso o mapa do Céu
no meu desvelo dos dias e das horas
mostra-me que mais um ano chegou ao fim
e tarda porque deve tardar
uma tarde límpida à beira do Mar.
Rigoroso o mapa do Céu
no meu desvelo dos dias e das horas
mostra-me que mais um ano chegou ao fim
e tarda porque deve tardar
uma tarde límpida à beira do Mar.
Parece,
homem,
que te esqueces
que estrepidam as estrelas do céu,
e que no breu da noite há a Verdade,
quando se lembra a mocidade.
Saio de casa no crepúsculo da luz
e deixo que os meus passos
me guiem
na Tua direção
ó Noite no meu Coração.
Entre Mim e o mundo há o horizonte.
Eu estou do lado de cá e o mundo do lado de lá.
E ainda que me mova, será sempre assim.
Tenho o horizonte ao redor de Mim.
Por isso, sem revolta,
nem amargura pois que dura,
sou uma ave na planura.
Nas águas do rio, miro o meu rosto
e vejo-o passar
na correnteza para o Mar.
Esta brisa que sopra devagar
e este amanhecer
são o universo
do Sonho que persigo
ter o teto do Céu por abrigo.
Nasceu um menino deus
num dia
de eterna graça
e aqui passou porque tudo passa
a alegria de uma infância
com mãe e pai e avós
como qualquer um de nós.
À noitinha, por esses caminhos e estradas
vão raiar as madrugadas
e os esplêndidos alvoreceres
nascerão em todos os seres.
É quimera talvez,
mas sonho-Te como na primeira vez.
Mansa Musa, me desperta
agora que a Luz venceu
e a Terra toda completa
vive a promessa deste céu.
E o inverno chega enfim
tão perto tão perto de Mim.
Caminhei
e apenas encontrei
a pérola do brinco perdida
quando no face a face do meu rosto no espelho
vi numa nudez
a essa pérola como pela primeira vez.
Trouxesse eu enxutas as mágoas dos dias
e seria este lugar
outro e sempre igual
um mundo ideal
mas, porém,
falta ainda algo que está Além.
Esta passada me alegra e me entristece
na lentidão
do movimento.
É um dentro cá fora
onde a solidão mora.
Uma vela acesa na escuridão da casa
ilumina
e até parece aquecer
por dentro o nosso Ser
agora imagina mil velas que iluminam
no firmamento o breu
e cada passo que os homens dão
na sua humana condição.
As memórias são histórias
que contamos baixinho ao Coração,
quando se acredita que o passado nos fita
e que em nós vive também
um tempo de um outro alguém.
Antes que anoiteça deveras
e esta parte do mundo mergulhe nas trevas,
deixa-me dizer-Te um verso simples -
aquilo que se colhe em botão
é da largueza duma imensidão.
E a noite chegou.
E a escuridão avançou.
Demoram os deuses o seu perdão
ao homem humilde,
que moureja
e é bem que seja assim
também um beijo só se dá no fim.
Desenho a carvão a cidade no meu caderno
e, assim, negra e brilhante
parece um postal
de Natal.
Terá sido um sonho talvez
mas uma obra que um homem fez
é apenas uma peça num jogo de xadrez.
Um sonho passa devagar pela noite
como que iluminando de sol essa escuridão
que precisa tanto de luz
quanto a Terra
onde atroam os mísseis da guerra.
A florista tem ramos de azevinho
espalhados à porta da loja
e quem passa sorri
e demora o passo mais devagar
como se esse pedaço de rua fosse o seu lar.
Por caminhos andei perdido,
tanto de espanto,
e tanta a hora,
era sina de outrora.
Perecível, a Flor ensombrece no jardim
e aguarda
pelo Silêncio absoluto que tarda.
E nada mais importa senão que uma Flor é coisa morta
mesmo que na Beleza dela
viva para Sempre a cor mais bela.
A régua de medir as alturas
é curta
e não chega da terra ao céu
é precisa outra ciência
irmã mulher amada
nesta vida amargurada
O verso em letra impressa aguarda por Mim
numa página branca e pura
como se sozinho
ele ensinasse o caminho.
Antes que o tempo fosse tempo,
só havia eternidade
e o movimento da lua pelo sol iluminada
era uma pura jornada
de uma dança sempre bailada.
Fecho a porta e deixo o burburinho do mundo
lá fora,
é, então, que se faz um grande Silêncio no meu Coração,
não de coisa morta,
mas, sim,
de uma união que exorta.
Subitamente,
o espanto
da metamorfose do ser -
é borboleta o bicho da seda -
na caixa de cartão,
e é essa a grandeza da solidão.
Pregas o botão no casaco,
com uma linha preta de cor,
e a agulha corre ligeira à tua maneira.
Mas aonde paira o teu pensamento,
que voltas e voltas como onda do mar,
aonde vais buscar
a mestria do laborar.
Na sombra dos deuses de bronze, nos criaram
e somos hoje viajantes sem destino
procurando um deus pequenino.
O tempo que passa não volta
ao meu regaço
bem sei - esta é a lei.
E se até a pedra da montanha
se quebra e se parte
assim também é na arte.
Um arco-íris fugaz iluminou o céu
e me lembrou
o lugar onde estou.
Aqui - entre memórias e esperança -
entre um mar bonançoso e a verdade -
nunca é tarde.