Como quem procura a paz,
eu procuro um verso
que se desdobre num cântico e num hino de amor
é esta a minha oferenda para o mundo
que demora um segundo a ler
mas que preencha no homem o seu ser.
Como quem procura a paz,
eu procuro um verso
que se desdobre num cântico e num hino de amor
é esta a minha oferenda para o mundo
que demora um segundo a ler
mas que preencha no homem o seu ser.
Talvez, se meter a mão no bolso,
eu encontre o fio e o pião
e as lendas das fadas verdadeiras;
e tudo o que existe,
e que não é triste, cabe num bolso de calção
o terreno da imensidão.
Dei-te de presente as palavras, puras,
que eu mais amei
e com elas tu fizeste um verso silencioso
simples e imortal
como um desenho afinal.
O vento frio verga os ramos mais altos
da copa da árvore
e parece que cada ramo se vai partir
com a dor desse sentir.
Como te moves, numa cadência angular,
que no início das coisas queres pousar,
és uma borboleta
e no meu espanto te vejo andar
como quem procura onde começar.
Que estradas ficarão
desses caminhos que seguimos
de Alma lavada e nua
e se a esperança não morrer
não podemos no mundo nos perder.
Sonho, afinal, antes do sono vir
e parece-me sentir
que subo um interminável monte
e como quem no cimo do horizonte
tocasse o céu e uma estrela
acordo do sem dormir
e aguardo pelo que há de vir
Infinitamente breve, o instante que passou
leva com ele o pensamento
do que sou
e assim tão longe na distância
corre o Tempo numa suma eternidade
que de Mim tenho saudade
Noite, antiquíssima, que geras no teu seio
o clarão que alumia os povos,
vem mansamente
para que do teu regaço
nasça um novo
passo.
Agora reparo que é estranha a Mim
a ausência e um fim
por isso quando de brilhar o sol se esquece
e o ocaso não é ilusão
perduram as horas no meu Coração
A linha da encosta lá no alto
toca a linha do céu
e tão perto e tão distante
lembra que também nas nossas vidas
se entrelaçam linhas parecidas.
Esta é a hora mais mortal
a do silêncio
no tanger dos sinos
que antes de alegria soaram
e no meu Coração tocaram
Pelas ruas do meu bairro,
sou corsário
singrando em belas naus inventadas
e quando chego ao cabo do mundo
vejo que o Sonho é profundo.
Respiro o sopro dos dias
como quem
o faz pela última vez
e é uma força que daí vem
colhida em ninguém
Dou-te a mão e penso
que é estranha esta condição
de dar a mão dando eternamente o coração.
Abro o livro ao calhas como numa adivinhação
e o que encontro é uma página
em branco,
sem caracteres nem palavras,
muda num silêncio puro
parece que o Mistério se cala
tal como deus não fala se é ou não eterno e imortal
e dos homens semelhante ou desigual
O manto branco de neblina na encosta
faz-me pensar
que é num dia chuvoso e cinzento
que um homem se vê melhor por dentro.
E o fim da tarde chegou como uma esquina
entre dois prédios
que conhecemos bem
mas de um e outro lado a sombra e a luz
parece uma enorme cruz.
Todo o dia meditei
sobre a Verdade do meu Ser
realidade ou ilusão
se ao menos nas ilhas Afortunadas
eu pisasse o firme chão
talvez que a Verdade nascesse no meu Coração.
Não esqueças que o rio apenas corre
numa única direção
e que quando no silêncio morre
tem no mar a vastidão.
A escuridão veio com a noite que chegou,
mas o final da tarde foi lento
a passar -
um sol que começa a nos namorar.
Fito na brancura do pensamento o fruto
já maduro
e trinco nas sílabas das palavras as duras sementes
até que um amargo na boca
faça estremecer
o desenho do poema no meu Ser.
O dia amanheceu cinzento
tanto
que não pude eu amanhecer
na luz de um outro viver.
Fez-se silêncio à minha volta
e em Mim
e nas paredes da casa já não escorre
na brancura
o tardar do tempo desse Longe
que é ter no Coração
a terra prometida
quiçá perdida.
Eis que a vida acontece,
qual chávena de chá de beber,
que eu agarro
e prendo na minha mão
sem sorver o gole da imensidão.
Domingo à tarde. Ninguém pelas ruas da cidade.
Apenas eu ouso atravessar a avenida
como quem procura na vida
o regresso
à casa da lembrança
de quando eu era Criança.
Colho a romã e cada bago vermelho
rola no meu seio
como uma semente de vida
que apetece trincar
para infinitamente estar.
Entre a minha casa e o resto do mundo
a distância
e parece que dos confins da Terra
me chega um rumor
- triste -
a guerra persiste.
Era uma parede muito azul,
tanto, que era como se escorresse do Céu a cor
e, então, eu encostava-me nela, ou no céu,
e era um lume
cá dentro de Mim
que nunca chegava ao fim.