A fragilidade de um dia comprido
ecoa nos meus sentidos
como se com uma ténue linha eu bordasse
num lenço de dizer Adeus
e nunca mais eu encontrasse
a paz vinda dos Céus.
A fragilidade de um dia comprido
ecoa nos meus sentidos
como se com uma ténue linha eu bordasse
num lenço de dizer Adeus
e nunca mais eu encontrasse
a paz vinda dos Céus.
Fica noite de repente,
como se só ela sendo bastasse,
cordão preso ao meu regaço,
triste Abraço.
A paisagem universal
que este canto
celebra
é igual, afinal,
aqui e lá
- mas quem voará
Nas esquinas da Felicidade,
é que o meu Coração
alucina
e essa loucura pequenina
é uma vida a arder
dentro do meu Ser.
Leio as páginas do livro da vida,
como leio os sinais
das Palavras num verso inacabado
e vejo e leio e adivinho
a Dor
negra como a cor.
Porque aqui
o Sonho me conforta,
adormeço, mas não esqueço
o que a vida é
sem fé.
Passa o vento, passa,
como correndo à procura de Ti,
e, no espanto de Te encontrar, Guerreiro deste lugar,
minha Alma vaticina
que é tudo um manto de Neblina.
Se amas a Rosa, por que a hás de colher,
deixa-a amanhecer e entardecer
no Roseiral
pois no instante exato
findará o seu ato.
De tudo ao que em redor eu olhei,
em liberdade,
foi, sem ser, a Cidade que colheu a minha paixão -
os edifícios e a turba
os vagabundos e os pederastas
e o movimento que não para
isto, sim, é uma coisa rara.
Nas florestas da Andaluzia,
nas noites de lua cheia,
o clarão tudo incendeia
árvore planta animal ou homem
na luz se somem
mas nunca dormem.
Penso e o pensar também cansa -
é como uma dança
em que dançamos sem par
sem a música parar.
Chegou a tarde e os lares
na cor do entardecer
esperam a noite
e os seus terríficos pavores
são como num sonho acordado -
a lembrança dum pecado.
Havia tanto para contar,
nesse tempo de terra, sol e mar,
que eu perco a hora da memória,
em que vieste e depois partiste,
andorinha triste.
O que se passa por dentro é só Caminho
é uma estrada comprida
onde eu vivo a minha vida -
e neste pedregoso terreno
encontro em cada ânsia
a plena substância.
Alheio ao tempo que emigra
para a eternidade
folheio aquele livro das horas
onde escrevi
a imensidão de estar aqui.
Em toda a natureza, há um deslumbramento
de cor
verde lilás vermelho amarelo
que é belo -
tão belo como a raiz
funda negra
na terra entranhada
como na noite a madrugada.
Tão perto a cidade com que eu sonho
que até parece real
e de tocá-la não me canso
ela é como um cavalo manso
levado por rédea de ouro
até à beira dum bebedouro.
Como com as ondas vivas no seu labor,
quererás Tu, Senhor,
que seja também assim o movimento
de toda a vida -
uma chegada e uma partida
uma partida e uma chegada -
desde o nascer da alvorada.
Talvez seja a imaginação
a dizer-me
a Palavra no Coração escrita -
mais amarga que a Dor é a desdita.
Porque o instante existe,
acredito -
e como a orquídea que espera pelo florescer
assim, à minha espera, também vive o meu ser.
De todas as palavras guardo
as mais Belas,
aquelas que volvem da eternidade
e são no destino
o tanger de um sino.
E aquela voz dentro de Mim,
que conta
uma história
de um devir de glória,
é como uma concha no fundo do Mar,
perdida, não a posso encontrar.
Semeia e colhe -
não te iludas vagueando na imaginação,
pois nada é pior para o homem
que as horas que se somem.
Só no canto de um Poeta
gira o mundo, como gira o sol,
estrela brilhante
que ilumina o Coração
a cada momento com retidão.
Pudera ser milagre o final da tarde,
quando na tarde eu era sozinho
e de Mim cada caminho
não era tarde nem cedo
e eu não tinha nenhum me-do.
O ocaso do sol entristece o meu Ser
e não por o sol não haver
ele há
mas como tudo o que está perdido do olhar
amarga
também o meu Coração naufraga.
Voou com o vento
e desapareceu no ar
a boneca de papel que eu quero amar -
e triste e sozinho, adulto que sou,
a infância não bastou.
Outro foi o tempo
e a vida consentida pelos deuses
aconteceu -
mas, ó quimera, do tanto que era
e do muito que se perdeu
aqui anoiteceu.
Sentei-me a esperar
a esperar
pelo meu Ser
como se estivesse à beira do mar
esperando pelo sol nascer.
Somos apenas visitantes
errantes nos caminhos que findam
e sem outro horizonte
vemos a água das fontes
correndo do cimo dos montes.
Milagre da natureza é a Beleza
que existe em nós
da nascente até à foz.