Ser árvore num outono é ver as folhas
caírem
tombando no chão
- o que é velho e amarelecido parte
e é isto uma Arte.
Ser árvore num outono é ver as folhas
caírem
tombando no chão
- o que é velho e amarelecido parte
e é isto uma Arte.
Plácido tanger em Mim
de um sino
que não encontro
senão nas horas do entardecer
e vem de uma longínqua distância
apaziguar toda a ânsia.
A guerra é o nó
que não pode ser desatado
é o contrário de Abraço
- o belo laço.
Vi a chuva lavar os parapeitos das janelas
que brilham agora luzidios
antes da noite
e, talvez, se chover no meu Coração
resplandeça em Mim a Razão.
Neste sítio, onde nasce sempre a Esperança,
posso colher as flores que murcharam
na certeza de que se renova a Natureza
e também que
da cinza dos anos
nos tornamos mais humanos.
Dissipou-se a neblina no pensamento
e vi o rio largo da vida
correndo
em Mim como se não houvesse um fim
nem um começo
mas apenas uma Criança num berço.
Chovia e a imagem no papel ia ficando desbotada,
quase sem cor,
mas, na folha amarelecida,
eu pintei de novo uma vida,
vermelho, rubro, forte,
e, então, venci a morte.
Dançarinas, as folhas douradas e verdes
volteiam levadas pela brisa
no chão
e eu piso e calco esta folhagem
na minha passagem,
como um green god
que tudo pode.
Outro outro dia será
e outro outono também
mas o meu pensamento corre e vai para Além.
Aquela imagem outra
de Mim
de um tempo passado
mora a meu lado
e sempre aparece
quando a dor é mais constante
e invade cada instante.
Canto a límpida geometria das árvores
que do chão o Céu almejam
e a lonjura
até parece loucura
de uma semente que nada dura.
Noite misteriosa, na tua escuridão
o Sonho habita
e parece que me fita.
Saúdo o sol
como quem saúda uma gente
que do amanhecer ao entardecer
é gigante de toda a luta
e, firme e hirto, labuta.
A caixinha de música soa para lá do tempo
em que foi um objeto de recreio
a corda não se partiu
e o som não sumiu
e canta um hino imortal
e passado e presente é igual.
Abro a porta e sinto um frio
que entra em Mim vindo de fora
mas é verão
e as rosas no canteiro
só tremem em janeiro.
À tardinha,
quando estou sozinha,
é tão eterno o meu segredo
que me parece que eu tenho medo
de me perder sem me voltar a encontrar
se ao mundo eu o anunciar.
Sem sair do mesmo lugar,
a vida é um beco
escuro -
que é do sol e da maresia
que é da cor violeta
aguarela que deus pintou
e que não desbotou.
É breve, bem sei, um sorriso sem rugas,
um tempo sem ter fim,
e quanto mais olho para Mim
mais vejo a minha infância perdida
nesta ou naquela vida.
Minha face enregelada entardece
e parece que me esquece
o verão
um outro agosto virá
e virá um setembro também
lembrar-me porém
que nesta sombra do verão
esfria o mais firme Coração.
Flutua
em passos de dança
a Mulher de cabeleira azul
e no seu Sonho atravessa as paredes da casa
para trazer os ramos da árvore para o interior do espaço
onde habita
e onde em silêncio medita.
Abre a janela e deixa que o sol entre
e ilumine aquela gente
de rosto amargo e macerado
que caminha com andar pesado
como quem da vida se cansou
mas que não desiste -
é isto belo - é isto triste.
Choram as Fontes
e parece que na substância da água
corre também a minha mágoa,
a tristeza,
que se Te pudesse encontrar antes seria,
na imensidão,
uma Alegria para o meu Coração.
Ler com vagar
e deixar que o sulco das letras seja mais profundo
no meu mundo -
que eu não vaguei em vão -
e que cada página seja um Caminho largo
sem dor
nem amargor.
Que onda acontece que do Mar
se esquece
desfeita no chão de areia -
é só espuma branca
muito pura
e que pouco tempo dura.
A sombra gigantesca das árvores
atravessa a paisagem
dolorida
é assim mesmo a vida -
dom Quixote lutando com um moinho de vento,
gigante sombrio,
e eu aqui a tremer de frio.
Brinca sem medo,
pode ser que algum segredo do Universo
te seja revelado -
o instante breve da oração,
o tocar e dar a mão,
o ser no ato de si próprio irmão -
pode ser que não corram lágrimas de tristeza
e que em ti sempre viva uma certeza.
Desenho letra a letra a Palavra
e porque é bela
assim desenhada
deixo que ela e outra e outra
encham o Poema
até não ter fim,
ah, esta substância de Mim.
Ao longe o céu,
mais perto de Mim o mar
e estas veias azuis
que se cruzam como navios
partindo e chegando no meu corpo
de Céu e Mar
ao centro do Coração.
Tiro da mala o bloco de notas para assentar
que em primeiro lugar
vem a Verdade
do ser e do fazer constantemente
o Bem a toda a gente.
E, depois, rasgo a página de papel,
para quê lembrar
a conjugação do verbo amar.
Já te contei aquele Sonho que tive
e porque nele a minha Alma
vive
não há névoa nem neblina
nem nevoeiro
que em Mim seja inteiro.