Às vezes fazia versos na ociosidade.
Eram os versos da Liberdade.
E solta toda essa prosa na aventura da vida
me parece que descanso
e que o ribeiro é manso.
Às vezes fazia versos na ociosidade.
Eram os versos da Liberdade.
E solta toda essa prosa na aventura da vida
me parece que descanso
e que o ribeiro é manso.
Antes de no Mar ser a Onda,
escuto o Silêncio
incessante
eterno marulhar constante
na areia
onde se firma a minha Ideia.
As linhas das mãos
são Caminhos de acariciar
conjugando todas as formas do verbo Amar.
O dia de morrer pode ser num instante
escorregadio
em que à solta no mar bravio
o homem
perdida a sorte,
sem regresso nem salvação,
é apenas um no meio da multidão.
A minha cor favorita é o antes
da madrugada ser -
é uma cor que se agita
e que sempre me fita
no antes do amanhecer.
Anseio o Poema que em Mim amanhã nascerá,
não hoje, não este, Aquele
pelo que no incerto entardecer
valha a pena viver.
Neste mundo só meu, a ave renasce
na suavidade da Alma
e estende as asas de um azul coral
até ao infinito horizonte
onde as lágrimas que não voltaram
a correr
são um rio por nascer.
Estendal de silêncio
que é a prosa de versos
pouco importa -
na rua há os transeuntes que passam
e as folhas de papel
lembram romances de cordel
à espreita
e à espera do leitor atento
que venha trazer o alento.
Mais leve que o vento,
corre o pensamento
e nada leva e nada traz
do Mundo
se não houver um espírito profundo.
Era assim, num tempo em que não havia certezas,
e viver e morrer fazia parte do ser
um ínfimo pedaço
do magma da humana condição -
e tudo servia de lição.
É universal este instante sem igual
em que me sento
à altura do Cosmos e medito
na minha pequenez infinita
que um anjo por um momento fita.
Domingo
e nem um anjo passa no Céu,
trazendo à minha presença
toda uma nova crença.
Era o paraíso e nada mais
era preciso
para viver em Paz
que a alvorada do nascer do dia -
mas cresceste -
e no Mundo te perdeste.
O clarão das cidades noturnas
é brilho no universo,
mas ofusca o céu estrelado
e os deuses e os anjos e as musas,
e ficam as coisas confusas -
que é do céu - artificial ou não
que guarda o meu Coração.
Estendal de roupa ao vento,
ah, o tempo
em que eu lavava
aquelas manchas de tinta no vestido
por um Poema em Mim ter acontecido.
Vejo a chuva a cair,
mas eu quero sentir cada pingo
no meu rosto
para perceber enfim
que a chuva não molha só a Mim.
Segue uma estrada a fio
e não queiras
regressar
o ponto da chegada
é como uma abalada
para cada novo lugar
e assim também é se procuras um Norte
na tua Morte.
Ergue-se o Mundo devagar,
tão lentamente,
que até parece que é plangente
a dor que a gente sente.
Por que nos despedimos a cada dia,
ao entardecer,
do dia que estamos a viver,
se é pleno
se é sereno
se é vivido com Amor,
por quê, sem tempestade,
termos a moléstia da Saudade.
A viver como quem adivinha
com o Coração
tudo é Campo e Canção,
ó Ciência,
o teu esplendor
é um tic-tac carnal
neste Mundo sem igual.
Mais raro o espaço de onde jorra a água
que sacia a minha sequidão
parece um rochedo agreste
mas a fonte é celeste.