Tantos fevereiros passados,
e infinitamente só tenho o fevereiro presente
- eterno instante em que sou
o que o tempo abraçou.
Tantos fevereiros passados,
e infinitamente só tenho o fevereiro presente
- eterno instante em que sou
o que o tempo abraçou.
Cheguei e havia uma ave leve
e havia um mar que eu nunca vi
antes de estar aqui
e, nessa primeira vez,
de olhar o mundo à minha volta,
e de o saber
parece que eu comecei a florescer.
No espelho, se vê a face brevemente
a face que tem a gente
e que é Bela se sempre sorrir
e disso é feita a Arte -
daquilo que se comparte.
Metade da flor
amarelecida
é como tudo o que é metade
ou um momento que chega tarde.
Em que espelho ficaram aqueles dias
vagarosos
de um amanhecer tão livre
que eu podia dançar
e correr
sem pensar em viver.
Tenho sede
e o copo com água desliza
um pouco
nas minhas mãos a me dar de beber -
assim quero permanecer,
num movimento assim singular,
porque a sede volta e torna a voltar.
Que venha a chuva,
que é bem-vinda neste tempo
em que as portas estão fechadas
e as muralhas muradas
são as paredes
da casa -
triste labirinto -
em que minto o que sinto.
Eis a oferenda, te juro,
não há Caminho escuro,
para quem oferece com a Razão
o que tem no Coração
e, então, let it be,
colhe o fruto
colhe a Paz
neste instante que aqui jaz.
O metrónomo marca o compasso
e, na cadência dos sons,
tudo é Maravilha -
o céu cinzento de neblina
a correnteza das gentes na rua
e a tristeza que é uma coisa nua
tudo é um aconchego no silêncio entre as notas
e eu voo como as gaivotas.
E o fim
parece que é este recomeço
a que à tua têmpera eu obedeço,
ó Mar,
dentro e fora de Mim,
as tempestades são assim.
É uma Graça este falar da terra
no dia em que nasces
- e trazes
límpido e seguro
um Coração puro.
Porque planto flores,
nascem flores
amarelas,
e nesse jardim sem sombra
nem escuridão
eu te entrego o meu Coração.
Cada hora tem o seu cuidado
e não deixes para trás
o fazer
que é parte do teu Ser.
Atravessa esta paisagem
o som de uma flauta campestre
e a escutá-lo
talvez apenas eu na mansarda
seja aquela que no Coração o guarda.
Era uma lua matinal,
branca e efémera
como a vida,
que eu vi de fugida,
antes de ser no Céu aquela Luz
que tudo clareia,
e é uma Alma cheia.
Somos terra
e o mistério assombroso -
e em nós tudo nos fita interiormente
qual caracol que sente
uma Dor como a da gente.
O dia amanheceu cinzento e chuvoso,
mas depois a cor do sol
rompeu
e, nessa luz, poli os talheres de prata
que guardo na memória
e foi um dia de Glória.
Apenas ser na viagem
quem
nascendo também
no olhar se sustém.
Perene, o dia se alonga,
balseiro no meu Coração
- Alma que caminha -
e o canto límpido da voz límpida
soa
e ecoa
no meu pensamento
a todo
o momento.
É sempre na margem do rio
que o espanto
perante a vida é estonteante -
porém tudo é um instante
e a corrente do rio passa a diante.
Escuto o compasso da respiração
e o ar que sai e o ar que entra
numa suave cadência
mostra-me aquilo que eu Sou
e leva-me como quem
sabe o Caminho para Além.
Cada passo ao Mar o dou
pois não sei
para onde eu vou.
Como dizer Poesia?,
se do alto desta frágua
a minha voz sente a mágoa
e o silêncio
é pesado - e a dor está ao meu lado.
Algures na memória posso enfim encontrar
o nu o belo e o radiante
da singeleza
da humana natureza.
Nesta linda aguarela, vejo um barco a velejar
e, por entre o ondear,
na pintura eu descubro
que todo o gesto de Coragem
carece além de um porto seguro
e nisso eu vejo um futuro.
Dentro do sorriso, o riso
que é o clarão
de ser Criança
e de brincar com a Esperança.
Revisito a encosta e procuro
aquela tarde
que um dia existiu -
era abril
havia sol e uma clara luz
e pareceu-me que eternamente
nós fomos breve toda a gente.