Novo Palimpsesto
Digressão Poética
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Silêncio
Na morada dos que partem
fica vazia a casa
aguardando, apenas,
pelo fim do fim:
a desintegração da memória.
E, quando atingir todo o universo,
e não houver começo,
de trevas só
será feito o silêncio.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Ainda o outono
Nos pátios do edifício,
o restolhar das folhas acastanhadas
relembra uma lição de vida
aquela que diz
que é o início da hora da partida.
Por isso, tão grato me é este tempo outonal
em que brilhantes ao sol
se despem os plátanos centenários
prontos para o cenário da invernia
de força corrente e bravia.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Fogo-fátuo
É de lume este chão
que ergue
a multidão -
mas tão calada e insuspeita
esta força
apenas se sujeita
ao jugo do poder
como se estivesse a apodrecer.
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Um gesto
Há laços que nos unem
como se fôssemos a vime
de um feixe
tão apertado
que não possa ser desatado.
E, assim, se passa a tormenta
da existência,
fragmento da outra essência.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Vórtice
Cais!, dos que nunca partiram
para aquele Longe
da unidade profunda do mundo,
sê minha morada
que celebra
apenas o Adeus
àqueles navegantes
que vivem vidas errantes.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Sementeira de sonhos
Tem cem anos o edifício
que me acolheu há metade de uma década.
Ruinoso, mas digno,
ergue-se na Praça do jardim
como o grande Lyceo.
E será verdade?, Deus meu,
que há uma alma
pungente
que aí vive eternamente...
Talvez, sim, se semeiem os sonhos
naquela juventude imortal
que, ano a ano, se cruza no umbral.
domingo, 17 de novembro de 2013
Silêncio na tarde
Quase noite, quase o entardecer
mudo dos dias,
quimeras perdidas!,
no sonho suspenso de tantas vidas.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Diálogo a uma voz
Se o sino do campanário tocasse,
anunciaria, logo pela manhã,
que o dia, que se abre como uma flor,
carece sempre de um toque de amor.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Singularidade
É, no meio da multidão,
que se destaca o teu rosto singular;
mendigo que vejo ao passar
na Praça, em Lisboa,
como gente liberta
dos grilhões
daqueles que fazem os milhões
para os Senhores.
Por isso, só, e no meio de tanta gente,
brilha um rosto diferente.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Manhã clara
Acordo, pela madrugada,
quando ainda há noite pela janela
e, no interior da casa,
o silêncio
lembra o sonho que abandonei
tão cedo
em troca de uma aurora sem medo.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Sob os plátanos
Sob os meus plátanos,
vivo em espanto
por ver
tanta gente que cresceu.
E, a cada ano que passa,
julgo eu, no meu pensamento,
que a infância não é
senão que um raríssimo momento
em que o ser está mais sedento.
sábado, 2 de novembro de 2013
Dessintonia
Do cimo desta colina levantada
no movimento milenar
das coisas da terra,
procurei-Te,
em vão.
E só, inteiramente só, e sem pranto,
carreguei, como a um manto,
aquelas dores da gente humana
seja cristã, judaica ou muçulmana.
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Horas vãs
Monotonamente corre cada dia
e a certa alegria
da obra realizada
não é senão mais uma hora mal amada.
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