terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Palavras reunidas





Afinal, havia na solidão

um lume quente e um aconchego,

havia uma estrada marítima de corais

e uma paz doce sem mais...


Tal como na gruta de Belém,

nasce para a vida

quem não segue uma mesma medida.








terça-feira, 24 de novembro de 2015

Linha e cor





Cortaram os ramos das árvores!,

aonde se abrigarão, agora, os pássaros,

quando chegar a primavera?


E eu?, sem o murmulhar das folhas

rente à janela?, como meditarei sem esse eco

da Natureza da minha tristeza?




sábado, 14 de novembro de 2015

Pequeno milagre





Agora que o silêncio

tem reminiscências de eternidade,

o fim do dia amanhece

como uma prece.







domingo, 8 de novembro de 2015

Paisagem branca





Regresso.

Regresso à paisagem da infância

para aí encontrar

de novo

o que de mais autêntico tem

cada dia

- o céu claro da Harmonia.




quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Madrigal





Conforme ao correr dos dias,

o meu Ser

mergulha, sonhando,

nestas calmas tardes sem maresia,

num silêncio duradouro.

Este é o meu tesouro,

encontrado no baú dos sonhos desfeitos,

das metas mal sucedidas,

e dos desencontros das vidas.


Porém, a cada dia que amanhece

logo encontro na minha alma inquieta

um novo sonho, uma nova meta,

que novamente me desperta.









terça-feira, 3 de novembro de 2015

Talvez um primeiro verso





Talvez um primeiro verso

seja mais verdadeiro

mais puro e mais subtil

do que dizer a palavra «amor»

a não ser sobre uma flor.








domingo, 1 de novembro de 2015

A poeira das palavras





Chove e cada gota que cai

resplandece.


Manhã cinzenta de outono.


Lembrança de outro dia ter sido assim.


E, na minha alma, na poeira da memória,

lembro que num mesmo céu tão denso e escuro

havia um luminoso segredo:

- Vai, ide, para além do medo!











quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Na mais absoluta espera...





Espero que um dia,

numa manhã, sem nevoeiro,

só feita de ouro e de prata,

tu regresses tal como o amado Rei...


E, então, da Alegria

jorrará a Fé

e eu serei

crente e amante da Esperança

como quem recita um poema

e nele a sua alma se lança.






sábado, 10 de outubro de 2015

Cinzento outonal





As árvores, nas traseiras da casa,

estão quase invisíveis. O nevoeiro

estende-se e oculta a paisagem

e a linha da encosta.


Meu horizonte escondido!, minha alma

eterna e calma!, vinde

e sede o centro do meu Ser,

e trazei-me a música da sublime melodia

da Liberdade - perene Verdade!




domingo, 4 de outubro de 2015

A essência





Papel branco de carta.

E escrevi, nele, a essência

desse momento

em que estive mais atenta

ao meu próprio movimento.

E esse instante foi belo.

E esse instante trouxe-me

a certeza de mim própria,

da minha inteireza,

neste Universo tão diverso e amplo

em que o sopro de uma só voz

é, afinal, a unidade de nós.




sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A casa branca





Todo o lar é uma casa branca

no cimo das dunas

debruçada sobre um mar.




quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Paisagem de outono





Que luz!, atravessando

este meu Ser.


Tão suave o meu outono

e tão de Paz,

que apetece viver Toda a vida

novamente

com esta alma que sente!



quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Azul novo





Acredito, agora, num céu de azul novo,

tão claro quanto

este meu novo pensamento,

que luminoso e sem tormento,

constrói uma nova religião e uma nova fé:


- Este novo Homem, quem é que ele é?




quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Volátil





Toda a forma de arte

é perecível.


Só na pedra dura o engenho.


Por isso, imagino que neste oceano empedernido

há a eternidade que persigo.



quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Melodia




Canto o outono.


E a minha canção dolente

é a de uma alma de crente

que aguarda e espera

que volte ao Coração a primavera.




terça-feira, 22 de setembro de 2015

Aprendiz de poeta





Se ao menos houvesse uma lágrima

que escorresse no meu rosto,

a dor do Coração

descansaria por um momento.


Mas o milagre de uma lágrima derramada

precisa de uma partida e de uma chegada.




segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Sobre as horas...





É meu fascínio o Tempo.

Por isso, debruçada sobre as horas,

dou alívio à sublime tentação

de esventrar cada segundo

como se assim acabasse o mundo.




sábado, 5 de setembro de 2015

Movimento





Tão longe, o roseiral!,

mas não tem mal,

pois trago cada rosa em botão

tão próxima do Coração.


E assim me movimento,

no longe e no perto,

com uma força renovada

como se fosse só uma esta estrada!



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O dia do céu cinzento





Uma alma a pedir regeneração

e este céu,

tão escuro!, assinala afinal

o caminho único da liberdade:

é por entre a escuridão que se encontra a Verdade!




quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O lugar natural





Dentro de mim, o lugar natural

é a Paz.

E a seiva que escorre,

como uma árvore sofrendo,

é um resto do orvalho

deste tempo morrendo.




terça-feira, 1 de setembro de 2015

Eterno setembro





Límpido de terra o céu

parece que no cinzento de cada nuvem

se aproxima mais

de quem está aguardando no cais

pela chegada triunfante

de cada errante.


E é neste cais das despedidas

que se constroem as nossas vidas.




segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Guardada no coração a beleza das estações





Foste o meu verão silencioso

a minha brandura suave da alma

a minha chegada e a minha partida.


Foste o sonho do mar

e dos rochedos

na planície distante

e tudo aconteceu num instante.


Mas, acima de tudo, foste o tempo da oração

como quem estende uma mão a uma outra mão.




domingo, 30 de agosto de 2015

O perdão





Caminheiro, nessa estrada por onde fores,

procura o sentido mais reto

e faz sempre a escolha mais harmoniosa.


Pois, desde hoje, não há mais perdão.

A quem promove a injustiça, a carência,

a miséria, o insulto, a fome

não perdoaremos, mesmo que do fundo

de um coração complacente

se erga uma chama que apele à piedade.


Acredita, Caminheiro, não há perdão, há verdade,

neste caminho que conduz à Eternidade!








sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A cadência dos dias





A todos aqueles que me precederam

escrevo um hino de ovação:

merecida é por vós a minha gratidão!


E à Luz de um longo e infinito Dia,

que guardo no meu pensamento,

creio que poderei sempre voltar

à Paz do meu roseiral

como quem escreve um madrigal.







quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Outro tempo





Vindimo, agora, num outro lugar

e apenas espero

que este mosto seja de larga memória

nesta vida transitória.




terça-feira, 25 de agosto de 2015

Tempo repartido





Já doira o sol do meio-dia.

A tarde longa é passada no interior da casa

onde há uma fresquidão.

Que saudade, Deus meu, invade

já o meu ser

deste tempo que também há de morrer!






domingo, 23 de agosto de 2015

Memória





É breve tão breve cada momento

de tristeza de alegria

de saudade ou de eternidade.


Por isso, segredo baixinho,

como se tivesse encontrado um ninho,

«voa, passarinho, voa passarinho,

como as andorinhas sabem voar

e sempre a casa voltar».




sábado, 22 de agosto de 2015

Toda a Paz





Toda a Paz do silêncio

mora aqui a meu lado

como se na concha da mão

eu guardasse só o bater do Coração.



sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Regresso a Sul





Regresso, por breves instantes,

a este Sul do Coração de Mim.


Do mirante não vejo senão

o longe da planície escaldante

e o sossego

como se aqui desaparecessem

todos os medos

e o mais além do Homem, a Coragem,

estivesse comigo nesta paragem.






quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O sino da minha aldeia





Na minha aldeia, o sino toca

sempre a eternidade,

ora assinalando a passagem

da noite e do dia

ora em ovação

gritando as dores do coração.


É assim o meu presente, nesta aldeia,

tão imortal que até parece,

ao final da tarde,

que os deuses se passeiam na sombra,

ouvindo também este sino

tão pequenino.





quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Roseiral





É única, cada uma das rosas,

do meu roseiral,

e, como uma andorinha esvoaçando,

toda a fragrância que se liberta

torna cada uma uma rosa completa.







terça-feira, 11 de agosto de 2015

Roseiral





Não há mais Beleza

na Rosa que em partes se divide.

Só há Beleza na Unidade

e esta é a verdade.


Cada rosa tem a graciosidade

do Todo do seu Ser,

tudo para além é perecer.


Por isso, deixo morrer cada  rosa

no roseiral, pois a Unidade

permanece

e, assim, nada da Vida se esquece.






segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Vento suão





O espanta espíritos da casa

tem propositadamente

a forma de mandala

para lembrar, quando se agita

no vento, quanto é nosso só um momento

neste universo em movimento.


Por isso, celebro o vento suão

como o mistério de uma oração.



domingo, 9 de agosto de 2015

Água de prata





Medito longamente pela tarde fora,

e, ao mesmo tempo,

chovendo,

parece que a Alma

encontra o sopro, na distância

do tempo,

que permite que a largueza do Coração

não seja empregue em vão.



sábado, 8 de agosto de 2015

Verso irregular





Poeta herdeiro daquela gente esquecida,

estende, hoje, a tua mão

treinada na escrita

e constrói um hino de ovação

à tua linhagem das gentes

que cavaram na terra

os versos sublimes

de uma futura monção.








sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A tangência das horas





É madrugada.

Desperto na noite escura.

E, sem um horizonte de penedos,

não posso orar àquele deus desconhecido

que dá o conforto e a esperança

a cada um que é Criança.


Por isso, encerro-me no breu,

sem um farol dos sentidos,

como todos os Homens perdidos,

na busca de um sonho que não vem

e que não me leva mais Além.












quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Lembrança




Aqui, a Sul,

há uma outra esperança

que é feita só do recordar -

e, então, toda a Paz do universo

toma conta do meu Coração -

como se o tempo não se fosse jamais

embora de quem aqui, nesta rua, mora.





quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Dia comum





Se o sonhasse, seria este dia

um infinito instante

de liberdade e de perdão

para todos os filhos da Terra.


E haveria uma brisa amena e fria

a circundar todo o pensamento

mesmo o mais sedento,

perdido no desalento

da memória.


Assim se escreveria nova história

em que cada dia

teria uma natureza sadia.

















terça-feira, 4 de agosto de 2015

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A bênção da chuva




Fresca e breve, no mais tórrido calor,

a chuva é a bênção

tão desejada

para uma alma na sua jornada.



domingo, 2 de agosto de 2015

Terra à vista!





Deste cais, escrevo uma palavra

para o teu mundo,

Caminheiro da longa jornada,

dizendo-te que a hora é chegada.


E, se me ouvisses em silêncio piamente,

recordar-te-ia a longa e difícil travessia dos mares

que, sem a certeza de alcançar, deu à pátria a heroicidade verdadeira

daqueles que apenas buscam no infinito

a verdade de um só grito!


Assim se constrói o sonho na jornada

hora a hora e mais nada.






sábado, 1 de agosto de 2015

Êxodo para o Sul




O viajante pára à beira da estrada

para pisar a nova terra e o novo chão...

Oh! bela e estranha imensidão!,

que faz do homem que sabe ser

sozinho

um marco no caminho.



segunda-feira, 27 de julho de 2015

A primeira palavra




Tem silêncios de corais

a palavra primeira

da descoberta do nosso Ser

tanto, tanto, tanto tempo depois

do nascer.


E é mais bela e mais verdadeira,

esta palavra primeira,

do que a simples condição de viver.


Por isso, não me falem em paraíso,

nem em anjos, nem em deus,

quando nesta palavra primeira

tenho a imensidão eterna dos Céus!




domingo, 28 de junho de 2015

De serem os dias iguais




Primeiro as linhas do som

do violoncelo

desenharam novas linhas de pensamento

no meu ser, que, habituado

ao grande silêncio das catedrais de pedra,

se comoveu em espanto.


Mas, depois, no tumulto assombroso da multidão,

e longe de toda a melodia,

vi apenas uma cidade sombria.











sexta-feira, 19 de junho de 2015

Helénica!




Nesta morada,

existe apenas a madrugada

e aquele reflexo de claridade, do sol distante.

Por isso, na solidão do nosso ser,

o silêncio é mais é maior

que a lonjura

da distância absoluta

entre a morte e a tua luta.



quarta-feira, 17 de junho de 2015

Into memory




O reflexo de mim

neste espelho que é a vida

traz-me ao pensamento

cada outro momento

que vivi

sem pensar no envelhecer.


É agora o tempo do morrer

a cada dia

da existência

como se cada instante

que passa

mergulhasse na mais absoluta ausência.


sexta-feira, 12 de junho de 2015

Poeira




Através da vidraça,

vejo uma árvore inquieta

cujo horizonte é o céu.

Que longo martírio o seu!,

tão eternamente presa às raízes na terra

sem poder voar, como as aves, ao encontro de um deus.








terça-feira, 9 de junho de 2015

cinco de junho: nova estação




Na minha vida,

só há duas medidas,

ou é inverno ou é verão

não existe uma outra estação.


E nesta singular realidade

eu aventuro-me

na descoberta de uma a uma

cada coisa incerta

que há no meu pensamento:

ou uma roseira nascendo

ou o tempo envelhecendo.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Oil painting



Amanhece,

sem pressa, e sem burburinho -

a grande multidão que há de invadir

a cidade dorme ainda.


E eu, quase na madrugada, experimento,

neste chão das ruas sem gente,

o momento único em que a vida é inteira

e por isso mais verdadeira.





sábado, 30 de maio de 2015

À sombra dos plátanos


escrito a pedido da Mel

Chegará o verão

e, nesse eterno momento,

o tempo será  pura ilusão,

pois houve mais uma despedida

de um pedaço da nossa vida.


E de tudo o que passámos

ficou aquela página que amámos

e ficaram os vocábulos, as palavras,

que, em nós, amanhecerão um novo dia

e essa, sim, será a magia.


Por isso, nos grandes pátios da escola,

por entre a multidão de rostos a haver aí,

lembrar-me-ei sempre do décimo i.



















sexta-feira, 22 de maio de 2015

Tinta da china sobre papel




Aqui estou, cumprindo o ritual

do silêncio mais profundo,

de nascer para este mundo

com um grito

que atravesse a distância

e que amordace toda esta ânsia.





quarta-feira, 20 de maio de 2015

Lugares




Memória e sonho.

Lugares de encontro

do universo desconhecido.







terça-feira, 19 de maio de 2015

No fundo do Ser




No mais fundo do meu Ser,

está para sempre

guardado o teu sorriso de criança,

bela esperança!,

que em mim fundo mora,

mesmo quando a tristeza não tem hora.













segunda-feira, 18 de maio de 2015

Manhã futura




Germina, agora, no seio da tarde,

a manhã que amanhã há de ser

a manhã

de um único presente -

e pressinto-a redonda e inteira,

mas de tal modo passageira

que logo, esperando-a,

se esquece.












domingo, 17 de maio de 2015

A heroica jornada




O céu azul. Capricho dos deuses.

E o meu pensamento?, Senhor,

porque está ele envolto na dureza

desta imensidão?, de um sonho negro,

tão negro e sem compaixão?


Por isso é heroica a jornada

de todos os que acordam pela madrugada

sem mais nada

do que o fio do pensamento,

seu único alento.



sábado, 16 de maio de 2015

A luz




Os raios de sol, ao entardecer,

penetram no espaço

da casa

e são assim como uma miragem

de uma eterna luz

que nos acompanha

no trajeto do viver

desde o amanhecer

até à escuridão do ser.



sexta-feira, 15 de maio de 2015

Gentil presença




Sereno e gentil o rosto

e o dia -

lembram a praia e a maresia

e as palavras de esperança

que brotam da simples confiança

de existirem homens que são

assim como uma criança.



quinta-feira, 14 de maio de 2015

Dia da Espiga




Vêm do Longe, dos campos,

as flores

e as espigas

deste meu ramo...

papoila breve

que não resistirás ao tempo

leva, por um momento,

todo o mais triste pensamento!