Lavadas de orvalho, minhas mãos colhem
logo no amanhecer o oiro do teu Ser.
E assim, como quem colhe um tesoiro,
que luz como uma estrela do céu,
eu colho aquela boa esperança
que em ti nunca esmorece
nem fenece.
Lavadas de orvalho, minhas mãos colhem
logo no amanhecer o oiro do teu Ser.
E assim, como quem colhe um tesoiro,
que luz como uma estrela do céu,
eu colho aquela boa esperança
que em ti nunca esmorece
nem fenece.
Sonhamos o branco desta espuma de Mar
como quem na amurada de um navio
sonha o sonho de terra firme
onde encontrará o Abraço, o Beijo e a Flor
do homem salvador.
Numa qualquer manhã, colhes
no desafio do dia quase por nascer
a inteireza plena do teu Ser.
Branca e leve, a barca balança no Mar,
e cada onda breve
assinala o muito a navegar.
E, neste balanço do Mar, também minha Alma
nas ondas se balanceia e, como a barca, branca e leve,
parece que ela no Mar ondeia.
Da janela que se abre para o Mundo
vejo as manhãs de ouro
e um silêncio de prata
que me arrebata.
É frágil este lugar das palavras.
E ténue. Mais frágil e ténue do que o Céu
onde nenhum homem pode chegar
sem antes desbravar o seu Mar.
Não queiras, Musa, que eu verseje
naquela rima antiga.
Dá-me um novo alento,
e que eu sinta por dentro
que cada verso tem a medida da vida,
luminosa e acabada,
e de todo o homem desejada.
Em todos os caminhos
com princípio e com fim
vejo apenas uma ténue imagem de mim
e sem vontade
perdida no rigor da idade
procuro contudo a estrada perfeita
silenciosa e pura
caminho que para sempre dura.
Folheio o livro
e as palavras, as sílabas e as letras,
desprendem-se de cada página
brincam com todos os sentidos
criando um poema novo
que é como pão para o povo.
Quando chegar aos pátios no grande edifício
no centro da cidade
encontrarei a minha mocidade também
em cada um dos rostos de quem
com a vida se espanta
e não sabe que ela se agiganta.
À noite os luzeiros distantes
entram pela casa
e fito então as estrelas no soalho do chão
como se harmonia do universo
viesse ter comigo
e todo o céu fosse um abrigo.
Do dia claro colho aquela ousadia
dos Poetas
firmar um Céu sobre os penedos e os rochedos
com um verso sereno
como se um deus acenasse
e então já nada mais importasse.
É de ouro este instante
em que a Paz
vem inteira colher da natureza
o fruto já maduro
e se estende e se estende
infinitamente pelo futuro.
Daqueles que caminham no mundo
nada sei
nem dos Sonhos nem da Esperança
nem da simples Confiança no Amor
errantes e perdidos
sem abrigo além
eu sou também como é alguém.
À sombra da grande árvore do pátio
descansa o meu Coração
ela é o Mestre que me ensina
a também eu morrer de pé
nesta vida que é como é.
Como é tão frágil o céu!,
na mansa quietude da alvorada,
e, sem uma luz, parece obscurecido de noite fechada,
tão densa e eternamente
que é de angústia a minha Alma sujeita
por a manhã não ser perfeita.
Em espanto, vejo o correr da vida
neste cais aonde chegam e de onde partem os navios
e eu moradora do cais
permaneço
neste porto que é infinito lugar
da minha Alma estar.
Túmida, a terra parece um mar silencioso
que repousa nos meus braços
como se eu embalasse o Mundo
e, do mais fundo de Mim, a Criança eterna
me sorrisse, sem que o tempo fugisse.
Neste instante mais lúcido, versejo
e a rosa que vejo
no meu peito florescida
é o meu mestre na arte da vida
e, sem raiva já, nem medo nem temor,
colho neste jardim esta flor
que entre as sílabas do poema deposito
e serenamente fito.
Varrido de tempestade, o pensamento
encontrou, enfim, uma acalmia
e cada onda é agora
aonde a Felicidade mora.
Da árvore, colho o fruto
e, no sabor que ele tem,
conheço o caminho e a estrada
é agora alvorada
caminha destemida, Mulher,
que no fruto que se quer
não há condenação
se desfizeres no mundo a Ilusão.
Simplesmente um verso
em mil palavras redimido
contém da Alma o sentido.
Sonhei aquele Mar constante,
de vaga em onda a rebentar na areia,
mas era Sonho sem ter a verdade
de uma tempestade.
Acordo na noite
e os penedos de neblina
roçam lucidamente a minha pele
e um frio de morte em Mim
parece não ter fim.
Da longa viagem ao paraíso, o menino pássaro
descansou e, pousando enfim na terra dos homens,
viu, desprendendo-se da brandura desta tarde de setembro,
as avezinhas correndo pelo céu, livres, tão livres, e dessedentas
que só elas não sentem nem a voragem nem as tormentas.