Basta um verso,
meditado dentro do meu Coração,
para voltar a ser um menino
pequenino
que roda o pião
na palma da mão.
Basta um verso,
meditado dentro do meu Coração,
para voltar a ser um menino
pequenino
que roda o pião
na palma da mão.
É o tempo, agora, de pousar a chávena de chá
sobre a mesa de vinhático
e de ler
e é de ternura este instante
uma pequena criança enfrenta um gigante.
O caderno de escrevinhar
e a côdea de pão
sol e chuva no meu caminho
e cada homem, meu Amor,
numa estrada sem dor.
Sem crispação, um mar muito azul e muito calmo,
um mar de paz, entrou, na quase madrugada, pela minha janela,
quando o motorista do autocarro fez um compasso de espera,
aguardando pela minha vizinha que correndo se lançava para o transporte.
E, com esta fé na humanidade, aventuro-me no mar, na claridade da tarde,
e navego com a onda que vai de ilha a continente
lúcida por entre a gente.
Deixá-las murchar as flores
se encantam enquanto é eterno
o momento da ilusão
de ser imortal
uma rosa num quintal.
Medito agora ante o vislumbre da noite que vem
que nada supera a Luz
nem a Aurora
dum amanhecer quando é a Hora.
O comboio chega à gare de destino
e eu, alheio a este fim de viagem,
procuro uma nova paragem
que me leve, por entre a Beleza das coisas,
a esse Mundo justo e perfeito
e sem mal
que é o que na vida mais vale.
Aqui, onde há um silêncio mais profundo,
é o cabo do mundo
e é onde o mar dos meus pensamentos procura a Beleza
assim como quem procura uma Certeza.
Quando a cidade acorda para um novo dia,
me espanto de não encontrar
uma vontade renascida
em cada lugar.
Abro a janela
e deixo que entre esta chuva inexistente
até encher o meu coração
duma água colhida na imensidão.
Tão cedo clareia na noite mais escura
a lua branda da ternura
e o Mundo tal como é
ignora o que está ao pé.
O manto de neblina cobre o outeiro
e nada é mais verdadeiro
que este tesouro de prata e oiro
que os deuses
às vezes aos homens oferecem
quando da dureza do destino se esquecem.
Vê, Irmão, este é o chão que tu pisas
e que eu piso também
neste tempo que o tempo tem
e que sendo presente
nele o passado se sente.
Aí, aonde o tempo tinha labores,
aprendi que o silêncio
é essa união
de amor e paz no coração.
Entre a folhagem da árvore ressequida
há um Sonho de vida
que é a seiva de que se alimentam os poetas
quando o verso não vem
e o Caminho está para além.
Da sombra do interior da casa para a rua
para a luz
para o caminho que me conduz
nesta nobre viagem
em que estou de passagem.
O rio das águas brandas
corre sempre devagar
mesmo da foz para o mar
e, sem turbilhão nessa correnteza,
é mais firme no pensamento a certeza.
Um mundo novo
está dentro do coração da semente
daquela maçã muito vermelha
que o teu olhar espelha
e é tão real
um mundo sem mal.
Não sei desse Longe
que é caminho dos deuses imperfeitos
que, sem lembrança de terem sido um dia mortais,
aos homens destinam sinas desiguais.
Antes de seres de Coração novo,
pisa a terra dura
das dores e da amargura,
e só então resplandeces
para que mesmo no cansaço
se veja a vitória de cada passo.